“A Criança Zombie”
O francês Bertrand Bonello cruza o filme de adolescentes e o filme de “zombies” (mas os do Haiti, não os de George Romero, “The Walking Dead” e companhia) em “A Criança Zombie”, que se passa na França de hoje, com “flashbacks” para o Haiti dos anos 60. Fanny, uma rapariga haitiana, órfã de pai e mãe, conta às suas melhores amigas do colégio interno onde estuda que o avô foi um “zombie” no seu país natal, escravizado para trabalhar nas plantações de cana de açúcar durante a ditadura do presidente François Duvalier, o cruel “Papa Doc”. Bonello mescla a evocação do passado recente haitiano (governos tirânicos, um terramoto devastador) com uma atmosfera de filme sobrenatural, se bem que aquela é apenas esboçada e esta nunca chega a ser muito convicta nem consistente, com exceção da excelente cena da cerimónia vudu em que uma colega de Fanny é inadvertidamente possuída pelo temível Baron Samedi. É pena que o realizador não tenha puxado o filme mais para o território do terror convencional. Mas também é verdade que os franceses têm muito pouca vocação para o género e o perfil “autorista” de Bonello não aponta para esses lados.
“O Caso de Richard Jewell”
Clint Eastwood recorda no seu novo filme a história de Richard Jewell, um americano anónimo que teve a sua hora de glória durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, onde trabalhava como segurança, ao descobrir uma bomba no parque da cidade durante um concerto e ajudar na evacuação do recinto. Apesar do engenho ter explodido, o número de mortos e feridos teria sido muito maior, se Jewell não o tivesse detetado e agido rapidamente, seguindo à risca todos os protocolos de segurança. Só que ele não permaneceu um herói nacional durante muito tempo. Pressionado pela organização dos jogos e pelo governo para resolver o caso e encontrar o culpado rapidamente, o FBI decidiu que Jewell tinha perfil de bombista solitário e começou a investigá-lo. Começou aí o calvário dele e da mãe. Apesar de nunca ter sido acusado de nada, Jewell foi vergonhosamente destratado de todas as maneiras e feitios pelo FBI, e perseguido implacavelmente pelos media, que o pintaram como culpado, apesar de não terem uma única prova, tal como as autoridades. “O Caso de Richard Jewell” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.
Texto: Observador.pt