Início Pontos de Vista no Feminino “O mais importante é entender que qualquer organização é feita por pessoas”

“O mais importante é entender que qualquer organização é feita por pessoas”

“O mais importante é entender que qualquer organização é feita por pessoas”

É a Reitora de uma das universidades mais prestigiadas e reputadas do país, a Universidade de Évora, sendo a líder da mesma. Ao longo seu percurso enquanto líder da instituição, o que aportou a sua liderança para que este projeto siga o rumo do sucesso?

A Universidade de Évora tem percorrido um longo caminho baseado em valores sendo uma instituição que junta experiência juventude, história e inovação, tradição e multiculturalidade, e que oferece, por isso, uma formação única, onde priorizamos a investigação e o desenvolvimento de carreiras. Mas respondendo diretamente à questão, apesar de a liderança ser muito importante o sucesso de uma organização só será possível se contar com a colaboração de todos. No caso da Universidade de Évora, um ponto que considero muito importante foi a definição do plano estratégico aprovado em 2015, documento este que tem norteado a nossa atuação e servido de base aos planos mais recentemente aprovados e cujos ideais temos prosseguido. Em suma, não tenho dúvida em afirmar que foi a vontade de envolver toda a academia num projeto comum que tem permitido alcançar o sucesso.

 

Hoje em dia, felizmente, vemos cada vez mais Mulheres em posições de destaque nas empresas e instituições. Sente que hoje o paradigma mudou e que as mulheres têm hoje mais oportunidades e são devidamente reconhecidas pelas suas capacidades de liderança?

Essa é uma pergunta muito pertinente à qual tentarei responder de forma simples e objetiva, mas sou incapaz de responder com um “sim” ou “não”, uma vez que depende da realidade para a qual estamos a olhar, do tipo de organização que estamos a analisar ou do sector da sociedade que estamos a abordar. No contexto em que nos inserimos creio que essa mudança sucede com alguma celeridade, com alguns casos que apontam nesse sentido (recordo, por exemplo, Elisa Ferreira, a primeira mulher portuguesa escolhida para o cargo de Comissária Europeia), mas também há outros casos de mulheres que se destacam em áreas tão diversas que vão das artes ao desporto, passando pela gestão de grandes multinacionais. Geralmente referimo-nos a mulheres em posições de destaque, eu própria agora o referi, mas não podemos esquecer que ainda há um longo caminho a percorrer para uma verdadeira, e repito verdadeira, igualdade de género. Uma prova do que acabo de afirmar é que a pergunta que me colocou é recorrente em qualquer entrevista a uma mulher, não a um homem.

 

Está no cargo desde 2014, mas ao longo da sua carreira tem ultrapassado todos os desafios. Sente que hoje, fruto também do seu desempenho e da sua liderança, a universidade é hoje uma instituição mais coesa e sustentada?

Não serei a pessoa mais adequada para avaliar a minha liderança, ainda assim creio que ajudei a construir e alcançar resultados positivos, motivo pelo qual apresentei a minha recandidatura. No entanto, uma Universidade não muda radicalmente em seis anos; é um acumular de experiências. A diferença neste âmbito reside em saber potenciar o que de melhor se faz, de forma sustentada, criteriosa e estratégica. Não teríamos estes resultados, que são no nosso entender muito positivos, quer em termos de valorização da investigação e inovação, quer em termos de número de estudantes (registou-se, desde 2014, um aumento global de cerca de 2000 estudantes), quer ainda em termos da ligação à comunidade, sem uma liderança capaz e uma estratégia forte, que implica, sublinho, o envolvimento de todos, cada um na sua área de atuação em prol de um projeto que nos orgulha.

De que forma é que esta “aventura” a mudou enquanto pessoa e profissional?

Esta é uma “aventura” muito interessante que abracei, desde o primeiro momento, com grande entusiasmo. É natural que tenha provocado algumas mudanças, pois há sempre aspetos muito importantes enquanto estamos à frente de uma Instituição com o peso e a responsabilidade de uma Universidade. Estando num cargo de liderança, o mais importante é entender que qualquer organização é feita por pessoas! A verdade é que se ocupa muito tempo em prol da instituição, mas a vida deve continuar a ser vivida e a existir um equilíbrio entre “vida pessoal/familiar” e “vida profissional”, porque decididamente não somos super-heróis (heroínas). Recordo-me que, no início do meu primeiro mandato, em 2014, foi de tal forma intenso, em termos de horas de trabalho, que praticamente era uma obsessão; com o passar do tempo, a experiência levou-me a “dosear” melhor o tempo.

 

Que caraterística acredita que deve ser intrínseca de um líder de sucesso? Quem é a Reitora Ana Costa Freitas enquanto líder?

A principal caraterística será o facto de não ter medo de tomar decisões. Embora saibamos que há a probabilidade de errarmos, devemos assumir as decisões tomadas e ter a inteligência de caso necessário, proceder a ajustes, porque como se costuma dizer: «errar é humano». Por outro lado, é necessário ter sempre presente que todos os que connosco trabalham têm sentimentos, angústias e ambições, e encontrar um equilíbrio de gestão, por vezes difícil de alcançar. Pessoalmente considero que um líder deverá entender os sinais e tomar as decisões certas no momento oportuno para alcançar, juntamente com a equipa, os objetivos a que se propôs. Creio que seja também esta a minha forma de liderança enquanto Reitora da Universidade de Évora.

O que é uma boa liderança?

Uma boa liderança é aquela que consegue atingir os objetivos traçados e ir mais além. Na Universidade de Évora apostamos muito na inovação, ou seja, tentamos sempre olhar para um objetivo de forma criativa, porque é necessário inovar em tudo o que fazemos, afastarmo-nos dos dogmas e unir-nos em torno de um projeto. Uma boa liderança deverá fazer com que a equipa entenda a sua função, a execute e sobretudo se envolva de forma genuína com enfoque nos resultados. Quer estejamos a falar de uma liderança empresarial ou organizacional, toda a equipa, incluindo quem a lidera, deverá sentir que está a fazer parte da história dessa mesma empresa ou organização. As conquistas e vitórias dessa equipa vão ficar “escritas” no tempo e não há nada pior do que o tempo que é desaproveitado.

Sobre o Dia Internacional da Mulher, que mensagem lhe apraz deixar sobre esta efeméride?

Devemos sobretudo, como Seres Humanos, respeitar e fazer-nos respeitar, independentemente dos géneros. Qualquer agressão, violência ou falta de respeito deverá ser condenada, não tolerada. Costuma-se dizer “quando se educa uma mulher educa-se um povo”. A mensagem que pretendo transmitir, é que o mundo precisa, cada vez mais, de pessoas educadas.