Início Pontos de Vista no Feminino “A liderança passa muito mais por uma boa gestão da inteligência emocional”

“A liderança passa muito mais por uma boa gestão da inteligência emocional”

“A liderança passa muito mais por uma boa gestão da inteligência emocional”
Ângela Marques

Há quanto tempo é que assume a pasta de Diretora de Desenvolvimento de Negócio das Farmácias Portuguesas, da Associação Nacional das Farmácias e quais são os principais desafios que a função que ocupa lhe aportam diariamente?

Há cerca de um ano que ocupo esta posição e o desafio prende-se com a gestão de duas áreas que desenvolvem produtos (Marcas Próprias) e projetos (Gestão de Categorias) para implementação nas Farmácias Portuguesas. Estamos a falar da coordenação de cinco empresas e de uma equipa de cerca de 30 pessoas, por isso todos os dias são desafiantes! Desenvolvemos e comercializamos produtos dedicados aos consumidores do setor, adaptamos da melhor forma as lojas aos comportamentos de consumo dos clientes e, através da comunicação em nome das Farmácias, convidamos todas as pessoas a visitar estes espaços, onde podem encontrar muitas soluções para a Saúde e Bem-Estar. Procuramos, todos os dias, encontrar as melhores soluções e colocá-las à disposição das equipas das Farmácias para que estas consigam, em conjunto com o atendimento dedicado e já reconhecido, prestar cada vez mais um serviço de excelência à comunidade que servem.

Fazendo uma retrospetiva na sua carreira, de que forma é que o seu caminho se cruza com a Associação Nacional das Farmácias e de que forma é que a mesma tem sido relevante no seu percurso?

A minha experiência, de quase 15 anos, passou por empresas multinacionais, no mercado de grande consumo, sempre em funções de gestão (financeira, marketing, vendas, gestão de categorias) e o desafio de integrar a ANF para a construção de um projeto de Gestão de Categorias para as Farmácias representou um desafio totalmente novo, dado o setor, mas também a possibilidade de aprender e criar algo de raiz, declinando alguns conceitos de retalho neste canal. O propósito de, com isto, ajudar as Farmácias a prestar um melhor serviço às Pessoas foi também aquilo que mais me interessou no projeto. A integração da área de Marcas Exclusivas de Farmácia surgiu de forma natural, dado o meu percurso e porque há uma grande ligação com a outra área: em Gestão de Categorias, através do conhecimento do comportamento de compra do consumidor e análises de mercado, podemos propor, de forma mais ajustada ao canal Farmácia, as tendências e necessidades que devem ser cobertas pelos produtos das marcas próprias.

 

De que forma é que carateriza o seu estilo de liderança e que mais valias é que o mesmo aporta às suas equipas e, consequentemente, ao sucesso da organização que representa?

Diria que é um misto de uma liderança democrática, com muito coaching, procurando o foco na integração das valências de todos para a construção das soluções e resultados. A equipa é composta em grande parte por farmacêuticos, que aplicam aos projetos os conceitos de ciências farmacêuticas, mas que estão muito abertos (e até ávidos) para a aprendizagem de temas corporativos como gestão, marketing, vendas. Um dos benefícios de trabalhar com gerações Millennials é a flexibilidade e a possibilidade de criar dinâmicas multidisciplinares. Assim, suporto-me muito nos seus aportes técnicos, passando o meu conhecimento das outras áreas e desafio-os a partilhar ideias e feedback para que, em conjunto, sejam propostas novas e eficazes maneiras de atingirmos os objetivos, tendo sempre por base a necessidade das Farmácias. Na minha opinião, para o sucesso de uma organização, e da dinâmica de uma equipa, é muito importante a partilha das diretrizes estratégicas gerais e muita comunicação. Só assim as equipas podem, tendo a noção do ponto de partida (a visão das suas áreas) e do ponto de chegada (os objetivos a atingir), fazer o caminho que dista os dois pontos, da forma mais eficiente e construtiva e com uma boa dose de liberdade.

Existem diferenças entre uma liderança feminina e uma masculina ou a questão da importância do verdadeiro líder não pode ser resumida somente a questões relacionadas com o género?

Não concordo que seja reduzida a género. Cada um tem os seus pontos fortes e menos fortes. A meu ver, nos dias de hoje, a liderança passa muito mais por uma boa gestão da inteligência emocional e isso está presente em tantos exemplos que conhecemos de líderes femininos e masculinos. Podemos sim dizer que as mulheres têm caraterísticas diferentes dos homens, como o facto de serem mais observadoras e terem mais atenção para o detalhe, o que facilita muito o tema da inteligência emocional e pode funcionar como um excelente trunfo no caso da liderança de pessoas.

 

Olhando o panorama global, como é que vê hoje em dia as Mulheres e a sua preponderância no universo das empresas e dos negócios? Sente que evoluímos neste capítulo? O que ainda falta?

Penso que tem havido uma evolução, mas ainda estamos aquém do desejado. Se na Europa a percentagem de mulheres em cargos diretivos não chega aos 30%, em Portugal é ainda mais baixa. As barreiras, que passam por questões empresariais, culturais e pessoais, têm por base a tradição do nosso país e a mentalidade que tende a evoluir, mas aos poucos. Temos cada vez mais mulheres no ensino superior, e que começam a impor uma voz ativa na sociedade, mas o panorama empresarial de negócios ainda está lento a adaptar-se. Acredito que as novas tendências em termos de profissões venham equilibrar mais a questão de género e que, uma maior noção por parte das direções empresariais de topo, que a diversidade de género será muito positiva para a tomada de decisão mais completa, possam trazer melhorias progressivas no futuro.

Ao longo do seu percurso enquanto profissional, alguma vez sentiu que o facto de ser Mulher lhe criou mais obstáculos? Se sim, como contornou os mesmos?

Nunca senti nada do género, talvez por ter tido a oportunidade de trabalhar em instituições com visões de lideranças já evoluídas. Na anterior empresa, a gestão de topo era feita por uma mulher e atualmente, na unidade de negócio das Farmácias Portuguesas, a direção é feita em 2/3 no feminino, visto o Diretor Geral ter escolhido duas mulheres para assumirem a coordenação das áreas. Também nas Farmácias as mulheres farmacêuticas são uma maioria considerável, dos cargos de gestão ou direção técnica, ao atendimento e até às funções mais de suporte, são muito mais as mulheres que os homens nesta profissão (diria 80%). Na minha perspetiva, o sucesso faz-se com ambição, coragem e vontade de enfrentar os obstáculos e acredito que, além de estas serem caraterísticas presentes nos dois géneros, as mulheres estão mais do que à altura para defrontar estes desafios.

É importante criar na sociedade, mais concretamente no universo empresarial, um sentido de maior equilíbrio nas oportunidades dadas às Mulheres?

A palavra certa é de facto equilíbrio e se, do ponto de vista pessoal, defendo uma igualdade de géneros, no universo empresarial a tónica deverá ser a meritocracia e o perfil de líder/colaborador que se pretende para as funções. Se cada um, para as funções a que se propõe, tiver o perfil mais adequado e ajustar as suas competências ao que é esperado, a sociedade e as empresas devem ser “cegas” quanto a género, promover e dar oportunidades de igual modo aos dois géneros. Talvez ainda estejamos longe disso pelo estilo de gestão de algumas empresas e pelas necessidades de criação de condições de trabalho que não limitem as mulheres de qualquer forma. Questões como a flexibilidade laboral para suporte à família e a igualdade salarial devem ser cada mais trabalhadas e esbatidas.

O que podemos continuar a esperar de si e da Associação Nacional das Farmácias para o futuro?

Partilho com a Associação, a total entrega aos projetos a que me dedico. Há uma frase (de Arianna Huffington) que gosto muito e que diz que “a vida é uma dança entre fazer acontecer e deixar acontecer” Reconheço em mim, em todas as mulheres no geral e nesta casa que represento, a capacidade e o poder de decisão de “fazer acontecer” e a dedicação colocada na forma como, até mesmo nas maiores adversidades, continuamos a lutar pelos nossos objetivos e projetos. E sempre, como a atendimento nas Farmácias, com um sorriso nos lábios!

O Dia Internacional da Mulher comemorou-se no passado dia 8 de março. Que mensagem gostaria de deixar sobre a importância desta data?

O simbolismo do Dia Internacional da Mulher deveria ultrapassar o conceito comercial e mediático que hoje lhe damos. Se pensarmos que começou como uma jornada de manifestação pela igualdade de direitos civis e em favor do voto feminino, deverá ser vivido e interpretado como uma forma de união entre os cidadãos, de todos os sexos. É natural, neste dia, darmos uma importância especial às mulheres (que nós, mulheres, adoramos, claro!) mas devia servir mais como uma inspiração da força e características distintas que as mulheres têm e da forma, como a sociedade, beneficia das mesmas.