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POR UMA KAUSA FEMININA

POR UMA KAUSA FEMININA

Porquê a advocacia?

Raquel Alves (RA) – Desde os meus 12 anos que quero ser advogada. Quando estava no meu sétimo ano escolhi esta profissão que devia seguir e nunca mais mudei de ideias. Acredito que é a minha vocação, que decorre da minha personalidade reivindicativa, protetora, com um grande sentido de justiça. Este caminho da advocacia sempre foi muito claro para mim.

Mafalda Fernandes (MF) – A minha história é muito semelhante à da Raquel. Sei que nunca me vi a tirar outro curso.  Contudo, a certa altura coloquei a hipótese de dois caminhos: a advocacia ou a magistratura do ministério público. Ponderei estas duas áreas durante toda a minha licenciatura, mas foi no meu estágio que a resposta à minha indecisão surgiu: a advocacia. Atualmente, não me imagino a fazer outra coisa, na verdade sempre foi este o caminho que quis seguir.

Como é que se conheceram e como é que juntas, criaram a Kausa Advogados?

RA– Eu trabalhava numa sociedade de advogados aqui em Lisboa e, em 2008, engravidei da minha primeira filha. Na altura, essa sociedade precisava de alguém para me substituir no período de tempo em que eu estaria ausente. A Mafalda foi quem me veio substituir, porque se enquadrava perfeitamente no perfil que precisavam e foi aí que nos conhecemos.

MF- Sim. Quando a Raquel voltou, trabalhámos juntas nessa sociedade até 2016 e após tantos anos a trabalhar em conjunto, com os mesmos objetivos e ideais, decidimos dar o “salto” e criar este nosso projeto, a Kausa Advogados.

Que balanço é possível fazerem destes anos de experiência na área enquanto advogadas?

MF- Criámos aquilo que ambas ambicionávamos e isso é, com toda a certeza, um balanço positivo. Confirmámos, nestes quase quatro anos, que é muito bom trabalharmos em conjunto e que juntas conseguimos alcançar os objetivos a que cada uma, individualmente, se propôs. É claro que temos objetivos/desafios individuais, e posso confirmar que estes anos só têm revelado que escolhemos o caminho certo para atingir esses mesmos propósitos.

RA- É um balanço muito positivo, e concordando com o que a Mafalda disse, tenho a certeza de que foi o caminho certo, no momento certo. Sei que temos ainda muito potencial e estamos precisamente na altura certa para explorar esta capacidade.

Quais são os grandes desafios da atuação feminina, numa carreira maioritariamente masculina?

RA- O grande desafio é destruir preconceitos. Temos a perfeita noção de que partimos sempre do grau -10 quando vamos a uma reunião ou a Tribunal, por exemplo. São pequenas coisas, como por exemplo uma irritação, que rapidamente é confundida com: “e lá estão as mulheres” e que é sempre vista como normal no sexo masculino. Infelizmente ainda se ouve muitas vezes este tipo de menções em contexto profissional e sentimos que temos que ter uma dose extra de preparação e de credibilidade em relação aos homens advogados. É pena que isto, assim seja, mas sinto que todos os dias tentamos combater esse preconceito.

MF- A verdade é esta, um homem na advocacia mesmo que seja jovem tem um impacto no seu ouvinte diferente. Já a mulher na advocacia com um ar jovem tem a necessidade de se impor de outra forma para obter a devida credibilidade. Não é tão fácil para uma mulher impor-se numa determinada discussão. Por vezes, é preciso dar provas de confiabilidade para ser aceite.

O que falta fazer para colmatar esta desigualdade de género na advocacia?

MF- Passa por fazermos o esforço de sermos mais assertivas e demonstrar que não há diferenças entre os géneros.

RA- Falta tudo até que a mesma desapareça. É uma luta constante e diária.

O que é Liderança Feminina na advocacia?

MF- É uma liderança necessariamente diferente. Liderar no feminino, a meu ver, tem sempre inerente uma sensibilidade diferente. Temos uma maior sensibilidade para lidar e liderar de forma mais ajustada ao nosso destinatário. Somos muito mais sensitivas em tudo.

RA- Sinceramente, eu acho que é um erro uma mulher tentar liderar como um homem. Nós somos todos iguais e ao mesmo tempo todos diferentes. Nós não podemos é ser descriminadas por essa diferença. Ser uma boa líder, não é atuar como um homem atuaria, mas sim aproveitar as nossas características próprias e liderar pelo exemplo. Tenho a perfeita noção, por exemplo, de que nós temos uma maior perceção do que é conciliar as nossas diferentes tarefas (vida pessoal vs vida profissional) o que permite compreender melhor quem se lidera.

Como é conciliar a vida pessoal com a vida profissional?

MF- Não é fácil, nem para mulheres, nem para homens. Nos dias que correm os desafios são iguais para ambos os géneros. No nosso caso, trabalhar por conta própria é desafiante porque requer uma maior disponibilidade e nem sempre é fácil. Mas tudo é possível quando bem organizado e conciliado.

RA– Sim. Tudo é possível. Contudo, quando temos o nosso próprio negócio, temos que exigir um pouco mais de nós em termos de disponibilidade, principalmente no que toca à maternidade. Na advocacia existe ainda uma grande desproteção quanto às advogadas que querem ser mães, seja em sociedade ou por conta própria.

O que vos motiva e inspira diariamente enquanto mulheres e profissionais?

MF- Diariamente, ao trabalhar na área que sempre quis é inspirador. A paixão que eu tenho por aquilo que faço é o meu motor diário.

RA- Eu adoro aquilo que faço sem dúvida nenhuma e isso traz-me a energia que preciso no meu dia-a-dia. O que me motiva é fazer a diferença na vida das pessoas de forma positiva e sempre que o consigo, tenho o dia ganho.