Início Pontos de Vista no Feminino “Tenho a sorte de desempenhar um trabalho onde coincidem muitas das minhas paixões”

“Tenho a sorte de desempenhar um trabalho onde coincidem muitas das minhas paixões”

“Tenho a sorte de desempenhar um trabalho onde coincidem muitas das minhas paixões”

A Escola Superior Náutica Infante D. Henrique (ENIDH) é hoje uma das entidades mais prestigiadas no domínio do ensino politécnico em Portugal, pautando o seu percurso por uma dinâmica educativa de excelência e qualidade. Desta forma, como tem a instituição vindo a perpetuar um importante contributo para a educação em Portugal?

A ENIDH tem vindo a contribuir ao longo dos anos para a promoção da excelência e elevada qualidade do ensino náutico em Portugal.

 

A ENIDH tem sido, ao longo dos anos, pioneira, principalmente ao nível de apostas formativas, por exemplo, é a única escola nacional vocacionada para a formação de Oficiais da Marinha Mercante e quadros superiores do sector Marítimo-Portuário nas áreas da Intermodalidade, Gestão e Logística. Essa capacidade de estar sempre na linha da frente tem sido fundamental para o crescimento da instituição ano após ano?

Sem dúvida. Estamos num setor em que a inovação tecnológica está a introduzir rápidas mudanças no shipping. Os sistemas de energia e as tecnologias de informação, por exemplo, têm uma importância cada vez maior nos navios. Com efeito, foi introduzido recentemente pela IMO a categoria de oficial Engenheiro Eletrotécnico (Electrotechnical Officer), e a ENIDH foi uma das primeiras Escolas Marítimas a oferecer esta nova oferta formativa. É essencial que a ENIDH continue a ter a capacidade de se antecipar às mudanças no setor marítimo e a oferecer ao mercado os profissionais de que vai precisar, sendo de notar que atualmente a empregabilidade dos nossos diplomados é de quase 100%.

 

A Olga Delgado é a Diretora das Relações Internacionais da ENIDH, uma função de enorme exigência e que a obriga a estar constantemente atenta. Antes de tudo, como é que o seu percurso se cruza com a marca e qual tem sido o grande segredo para o êxito desta “relação?

Penso que não é nenhum segredo que o ingrediente principal para o sucesso profissional é trabalho, trabalho e mais trabalho. Mas não há trabalho de qualidade sem uma alta motivação, e a maior fonte de motivação é a paixão pelo que se faz. A paixão pelo trabalho mantém-nos sempre atentos e à procura da melhoria contínua. Eu adoro o mundo marítimo, as relações internacionais, a formação e a psicossociologia, que é a minha área de especialidade, na que investigo e leciono. Portanto, tenho a sorte de desempenhar um trabalho onde coincidem muitas das minhas paixões.

 

Quais são as principais caraterísticas que um verdadeiro líder deve ter no sentido de impulsionar uma marca e uma equipa a chegar mais longe?

Há muitas características essenciais para ter uma boa liderança, uma muito importante é a ética, que juntamente com os valores, da transparência e da justiça, nos permite construir uma relação de confiança com toda a gente com quem trabalhamos. Para impulsionar uma marca e uma equipa é preciso uma elevada dose de otimismo e capacidade para inovar, que requer uma mente aberta e bem informada, e a virtude de ouvir os outros e saber colaborar de uma forma construtiva.

 

No seu dia a dia, de que forma procura colocar em prática essas mesmas caraterísticas em prol de uma dinâmica equilibrada e positiva no domínio do bem-estar das equipas/recursos humanos da marca?

Procuro que trabalhemos muito em equipa, que nos sentemos a tomar as decisões em conjunto. Muitas cabeças pensam melhor do que uma só. Também tento contagiar através da minha paixão pelo que faço e dar muita autonomia, o espaço e as ferramentas necessárias para ajudar a que as pessoas se desenvolvam profissionalmente.

 

Existem diferenças entre uma liderança feminina e uma masculina ou a questão da importância do verdadeiro líder não pode ser resumida somente a questões relacionadas com o género?

Precisamente fiz a minha tese de doutoramento sobre liderança. Os estereótipos de gênero afetam o julgamento da competência de mulheres e homens de maneira diferente. No setor marítimo, as mulheres são melhores líderes do que elas próprias pensam. Uma atitude excessivamente crítica em relação às próprias capacidades de liderança pode ser um fator para explicar por que muitas mulheres optam por não exercer cargos de alto status no setor marítimo. Portanto, o empowerment e o mentoring das mulheres é uma necessidade no setor.

A liderança é um fenómeno que depende de três elementos: o líder, a equipa e o contexto. A melhor liderança é aquela que conta com recursos para se adaptar a qualquer tipo de circunstâncias. Normalmente os líderes seguem aqueles modelos que tiveram, e na nossa sociedade, a maioria de modelos continuam a ser masculinos, o que limita as opções de exemplos a seguir, por isso é tão importante que existam associações como a WISTA “Women’s International Shippping and Trading Association”, que promove a presença e a liderança das mulheres no mundo marítimo. Acho que as pessoas não devem pensar em liderar como homens ou mulheres, ou em seguir um modelo específico como a liderança transformacional ou a servicial, porque quem tenta seguir um livro de instruções perde autenticidade, e esse é um ingrediente essencial para ter carisma. Um líder deve conhecer-se muito bem e encontrar o seu próprio estilo.

Uma das ferramentas mais efetivas que uso para ajudar outras pessoas a desenvolver a liderança autêntica é o coaching com cavalos, que permite descobrir qual é o tipo de líder inato que temos dentro de nós, detetar as nossas barreiras internas para ser melhores líderes, e definir o caminho que devemos seguir para ultrapassá-las.

 

Olhando o panorama global, como é que vê hoje em dia as Mulheres e a sua preponderância no universo das empresas e dos negócios? Sente que evoluímos neste capítulo? O que ainda falta?

Evoluímos, sim, mas ainda muito devagar. É preciso mudar mentalidades, que a sociedade perceba que quando há setores historicamente dominados por homens, onde apenas 2% são mulheres, como no caso dos trabalhadores do mar, está-se a perder quase 50% do talento potencial para a profissão. Também é preciso que a exigência requerida às mulheres em posições de liderança seja a mesma que aos homens. Parece que há espaço para o erro humano no caso dos homens e não no caso das mulheres, o que causa uma injusta pressão que leva a que muitas mulheres desistam de aspirar a estas posições. Para isso é preciso que a presença de mulheres em posições de liderança se normalize.

 

Ao longo do seu percurso enquanto profissional, alguma vez sentiu que o facto de ser Mulher lhe criou mais obstáculos? Se sim, como contornou os mesmos? 

Qualquer pessoa que pertença à minoria num grupo, tem uma situação mais vulnerável. Essa é a realidade das mulheres no setor marítimo. A forma de ter mais força é apoiarmo-nos umas às outras e ajudarmo-nos através de associações internacionais como a WISTA. Saber que as políticas nacionais, a política da empresa onde trabalhamos, as leis e a justiça estão do nosso lado faz-nos sentir mais fortes.

 

É importante criar na sociedade, mais concretamente no universo empresarial, um sentido de maior equilíbrio nas oportunidades dadas às Mulheres? 

Sem dúvida. Os estudos demostram que aquelas empresas em que as decisões estratégicas são tomadas com uma participação de pelo menos 30% de mulheres, obtêm melhores resultados.

 

O que podemos continuar a esperar de si e da ENIDH para o futuro?

A ENIDH está a formar os líderes do futuro no setor marítimo.

Por parte da Direção da ENIDH podemos esperar que continue a apoiar a igualdade de género com a sua política de aumento da presença das mulheres no mundo marítimo, tanto através das suas ações de comunicação, como através do seu apoio aos eventos organizados pela associação WISTA.

Pela parte do Gabinete de Relações Internacionais da ENIDH esperamos contribuir para que a ENIDH continue a ser uma instituição de referência e de reconhecido prestígio, mas com uma projeção internacional cada vez maior.

Eu considero-me uma aprendiz incansável. Pela minha parte, como Professora de Psico-sociologia, podem esperar uma atualização constante e todo o meu esforço para poder oferecer aos alunos as metodologias mais inovadoras e avançadas para o desenvolvimento das suas capacidades de liderança e trabalho em equipa.

 

O Dia Internacional da Mulher comemorou-se no passado dia 8 de março. Que mensagem gostaria de deixar sobre a importância desta data?

Conseguir a igualdade de gênero é o objetivo número 5 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. O 8 de março é a data em que se reconhece a importância e a necessidade da reflexão, da ação e da luta para atingir este objetivo, com tanto protagonismo e importância a nível internacional na atualidade. A minha mensagem é que a reflexão, a ação e a luta para conseguir a igualdade de género não estejam restritos a esta data, e que nos lembremos durante todo o ano de que é um direito humano fundamental que existam as mesmas oportunidades e direitos para todas as pessoas, sem ter em consideração o seu género, orientação sexual, raça, pais de nascença, ou outros fatores pelos quais lamentavelmente ainda nos encontramos com situações discriminatórias.