Num contexto de grande pressão sobre as empresas e a sociedade, o Relatório da COTEC Portugal apresenta novos caminhos para o crescimento da economia portuguesa demonstrando o potencial da convergência dos sectores da bioeconomia e circular. No relatório destaca-se o papel determinante das tecnologias digitais 4.0 para apoiar e potenciar esta transição e a necessidade de convergir as agendas da bioeconomia circular e da transformação digital.
Dando continuidade aos temas que tem vindo a eleger nas prioridades para a agenda de inovação empresarial, nomeadamente a economia circular e o design for performance, a COTEC Portugal apresenta o relatório “Bioeconomia Circular e Digital – Oportunidades para a Transição e Desenvolvimento Sustentável da Economia e Indústria Portuguesa”, realizado no âmbito da Plataforma Portugal i4.0, e da responsabilidade da Universidade Católica
A bioeconomia e a economia circular partilham o objectivo de um mundo mais sustentável e eficiente na utilização de recursos, devendo os princípios da economia circular ser aplicados à bioeconomia com o intuito de tocar os principais sectores económicos, maximizando o potencial de tecnologias digitais, biotecnologia e nanotecnologia para transformar a biomassa em biomateriais avançados, produtos e serviços, minimizando a utilização de recursos não renováveis.
A bioeconomia em Portugal tem vindo a crescer desde 2011, com um valor acrescentado próximo dos 12 000 milhões de euros em 2017 (cerca de 7% do valor acrescentado português), correspondendo a 13,3% do emprego total em Portugal e um volume de negócios superior a 43 milhões de euros (cerca de 12% do total de volume de negócios da economia). Já o valor acrescentado da economia circular em Portugal estima-se que ultrapasse os 7 000 milhões de euros em 2017, ou seja, 4,21% do valor acrescentado nacional, correspondendo a cerca de 6,21% do emprego total nacional. O grande contributo para a economia circular provém da indústria de base biológica, que representa 62,3% do valor acrescentado total gerado pela economia circular.
O relatório indica que Portugal tem evoluído de forma positiva e tem potencial para crescer a uma maior velocidade, de forma a convergir com a média europeia e corresponder aos grandes objectivos estabelecidos de transição para uma economia de baixo carbono e de recursos renováveis.
Segundo Jorge Portugal, Director-Geral da COTEC, “a produtividade e o valor acrescentado das diferentes actividades que compõem a bioeconomia têm vindo a crescer na última década”, com destaque na bioenergia; fabricação de pasta, de papel e cartão; produtos químicos, farmacêuticos, plásticos e de borracha bio-baseados; silvicultura e exploração florestal, que apresentam níveis de produtividade acima da média da economia como um todo. Jorge Portugal defende que “Portugal tem potencial para maior e mais rápida progressão, mas esse potencial tem de ser concretizado através de investimento em conhecimento, tecnologia e inovação”.
Realizado pelo Centro de Estudos de Gestão e Economia (CEGEA) da Católica Porto Business School, este estudo evidencia, através de exemplos de casos concretos, as oportunidades para o crescimento da economia portuguesa, o aumento da competitividade e produtividade, e a multiplicação do retorno de investimento, pela convergência das agendas da bioeconomia circular e da transformação digital.
Em termos de novos biomateriais e bioprodutos é de salientar o potencial dos recursos florestais para a implementação da bioeconomia circular e competitividade em sectores-chave como a Construção, Têxtil e Plásticos, uma vez que Portugal é dos países na Europa com maior percentagem de território florestal. Para uma maior sustentabilidade na Construção é necessário um maior uso de materiais com baixa energia incorporada, como a madeira e cortiça, bem como um melhor desempenho ambiental nos edifícios. No que toca ao Têxtil, a segunda indústria mais poluente do mundo, a fim de substituir os recursos fósseis, tem crescido a procura de fibras alternativas e biomassa lenhocelulósica, dada a sua qualidade superior de desempenho e menor pegada ambiental. Também nos Plásticos é necessário recorrer a materiais alternativos menos prejudiciais ao meio ambiente, como os bioplásticos baseados em biomassa florestal. Adicionalmente, também os resíduos e subprodutos agroalimentares estão a ser explorados como matérias-primas substitutas dos combustíveis fósseis, uma mais-valia na obtenção de novos materiais bio-baseados mais versáteis e sustentáveis.
Os bioprodutos apresentam um elevado potencial para a economia portuguesa. Estima-se que em 2030 uma quota de mercado de 5% dos bioprodutos nos mercados da Construção, Têxteis e Plásticos corresponda a um aumento agregado de receitas de 260-579 milhões de euros por ano em Portugal. Em adição à dimensão económica, salientam-se as implicações para a sustentabilidade ambiental, tendo em vista a descarbonização da economia.
Este estudo deixa recomendações para a promoção e implementação da bioeconomia circular, em que a digitalização desempenha um papel determinante e salienta a necessidade de novas políticas e legislação que criem um quadro regulatório e de apoio efectivo.