A pandemia COVID-19 irá provavelmente alterar, de forma permanente, o comportamento do consumidor e causará mudanças estruturais duradouras nos setores de bens de consumo e retalho – indica o novo estudo da Accenture com mais de 3.000 consumidores em quinze países e cinco continentes.
O estudo da Accenture, realizado no passado mês de abril, depois de muitos países terem implementado medidas de isolamento social, indica que os consumidores começaram a mudar as suas prioridades de compra. Por exemplo, de um modo geral, os inquiridos indicaram comprar hoje mais produtos de higiene pessoal e de limpeza, assim como alimentos enlatados e frescos do que há duas semanas – referindo também que compram menos artigos de moda, beleza e eletrónicos.
Mais importante, porém, os resultados indicam que muitas das mudanças neste tipo de comportamentos, provavelmente continuarão muito depois da pandemia. Além disso, a crise está também a levar os consumidores a considerarem mais seriamente os impactos das suas opções de compras na sua saúde e no meio ambiente. Por exemplo:
60% dos entrevistados assumem gastar mais tempo nos cuidados pessoais e bem-estar mental, com cerca de seis em cada 10 consumidores (57%) a afirmar que começaram a fazer mais exercício físico em casa;
64% dos consumidores indicaram que estão mais preocupados com o desperdício alimentar e que, eventualmente, continuarão a ter esse cuidado daqui para frente;
50% dos consumidores afirmaram comprar alimentos com maior consciência da sua saúde e que irão continuar a fazê-lo;
45% dos consumidores indicaram ainda que fazem escolhas mais sustentáveis aquando das suas compras e que irão manter esse cuidado no futuro.
“A escala de mudanças identificadas no nosso estudo sugere claramente que se trata de uma mudança a longo prazo”, afirma Oliver Wright, Accenture Consumer Goods & Services Global Lead, “Observamos essas tendências há algum tempo, mas o que nos surpreende é a escala e o ritmo – conseguimos comprimir numa questão de semanas mudanças que provavelmente levariam anos. O novo comportamento e consumo do consumidor deverá durar mais do que a pandemia, estendendo-se muito além de 18 meses e possivelmente durante grande parte da década atual.”
Pandemia está acelerar a transformação digital
Sem surpreender, o estudo da Accenture constatou que a pandemia está a levar mais pessoas ao consumo online, sobretudo na área da alimentação. Um em cada cinco entrevistados que indicou que as suas compras mais recentes foram feitas online, afirmou também que o tinham feito pela primeira vez – para consumidores mais velhos o número é de um em cada três. E se 32% das compras atuais de todos os produtos e serviços foram feitas online, prevê-se que esse número suba para 37% em breve.
“O realinhamento das prioridades de compra, lifestyle e práticas laborais está exigir mudanças significativas no retalho e no comércio”, afirma Jill Standish, Global Retail Lead da Accenture. “A compra de mercearias e produtos alimentares era uma área do e-commerce na qual muitos se mostravam mais relutantes, mas a COVID-19 mudou rapidamente essa perspetiva. Os resultados do nosso estudo revelam como as pessoas que não se sentiam tão à vontade com o e-commerce e outras tecnologias digitais foram pressionadas a superar as suas hesitações – e essa mudança é enorme. As organizações que agora se adaptam, têm que ter como palavras de ordem: confiança, relevância e conveniência.”
A COVID-19 também está a acelerar a transformação digital de uma maneira mais ampla. Por exemplo, o número de consumidores que indicaram estar interessados em comprar ou aumentar o uso que fazem da tecnologia aumentou substancialmente. Mais da metade dos entrevistados afirmou que, provavelmente, aumentará o uso de assistentes virtuais ativados por voz, aplicações de partilha de recomendações, aplicações self-service, dispositivos domésticos inteligentes e wearables.
“A pandemia poderá fomentar uma era de consumo mais sustentável e saudável nos próximos 10 anos, fazendo com que os consumidores sejam mais conscientes nas compras que fazem, bem como na utilização do seu tempo no que se refere a questões globais de sustentabilidade – sugerindo uma utilização humana mais saudável do planeta – afirma Oliver Wright. “Ao mesmo tempo, é um alerta para as empresas garantirem que têm a agilidade e a capacidade de serem relevantes para os seus consumidores e clientes – através de um portfólio de produtos e serviços que correspondam à mudança dos padrões de compra – não apenas hoje, mas também pós-pandemia.”