Cada vez fica mais claro que a tele-liderança, é sem dúvida, um dos maiores facilitadores (ou inibidores) da necessária mudança nas Organizações mas, mais importante, nas Pessoas.
Talvez uns tenham despertado mais cedo do que outros, e outros tenham sido despertados pela situação atual em que nos encontramos. Talvez uns estivessem mais preparados para esta luta do que outros e estou certa de que não partimos todos do mesmo ponto de partida nesta matéria.
No CHPVVC a aposta na cultura digital tem sido uma das prioridades nos últimos 18 meses contando já com 4 projetos financiados que ultrapassam os 3.300.000 euros. Com a implementação do projeto que carinhosamente apelidamos de Hórus, a desmaterialização e a literacia digital dos profissionais e dos cidadãos conheceram uma nova realidade. Contando com mais de uma centena de reuniões e envolvendo todos os serviços, foram desmaterializados mais de 150 processos internos passando a ser possível trabalhar praticamente sem a emissão e circulação do papel.
As receitas sem papel passaram a ser diariamente 70%-75% quando a média nacional era inferior a 10%. Não porque os nossos cerca de 150.000 habitantes tivessem habilitações literárias superiores à média, mas porque houve esta aposta na sua literacia digital e na forma como puderam relacionar-se à distância com o hospital.
Realizamos mais de 40 protocolos com Instituições locais, precisamente para que nenhum cidadão da Póvoa de Varzim ou de Vila do Conde ficasse para trás por não ter um dispositivo com acesso à internet ou por não saber como o fazer.
O eliminar das impressoras dos gabinetes em toda a instituição, substituídas por pouco mais de 20 impressoras centralizadas e com o recurso a impressão segura foi também um marco na transformação digital e na resposta aos requisitos do RGPD.
A disponibilização de um portal do utente, #SIGAME, com diversas funcionalidades e informação incluindo um chat disponível até às 20:00 também se tornou uma mais-valia nesta fase de isolamento em que foi pedido aos utentes para evitarem deslocações aos hospitais sem comprometer o acesso à informação ou mesmo ao contacto com os familiares e amigos internados, garantido as videochamadas, uma vez mais para os doentes mais vulneráveis e sem acesso a dispositivos móveis próprios. Este projeto de humanização, #continuamosaqui, tem sido dos mais reconhecidos pela população que humildemente servimos.
A comunicação interna foi também reforçada com um portal externo em perfeita harmonia com o modelo disponibilizado pela Tutela de forma a facilitar o acesso por parte dos cidadãos à informação. Estamos atualmente a preparar a candidatura à atribuição do selo de acessibilidade para os nossos portais por parte da Agência para a Modernização Administrativa (AMA). O infomail semanal com informação relevante dos projetos do hospital também tem tido muito impacto.
Em fase de contingência e fruto do reconhecimento do trabalho que tem sido feito na nossa Instituição e com resultados visíveis, foram vários os parceiros que quiseram colaborar com a implementação pro bono de soluções que pudessem facilitar os nossos profissionais. Assim, vimos implementada uma solução que nos permitiu a total desmaterialização das reuniões do Conselho de Administração e suas deliberações, podendo as mesmas, em caso de necessidade, acontecerem de forma não presencial, sem comprometer o normal funcionamento do hospital. Para a gestão do refeitório e de forma a garantir que todos os profissionais podem usufruir da sua refeição em segurança e de acordo com as suas preferências e disponibilidade foi disponibilizada esta semana uma APP que permite consultar e reservar a ementa para os dias seguintes bem como a slot horária, controlando a lotação máxima evitando aglomerados ou filas de espera.
Por último, a experiência no nosso Centro Hospitalar na implementação da solução de teleconsultas disponibilizada pela Tutela (RSE live) na área do cidadão, não poderia ter sido melhor sendo já mais de 30.000 utentes que poderão usufruir desta nova forma de se relacionar com as várias instituições de saúde que fazem parte do seu percurso no SNS.
O equilíbrio entre acessibilidade e segurança é o maior desafio que encontramos e a obrigatoriedade da realização dos cursos de cibersegurança e do RGPD vieram impulsionar esta cultura e alertar para os riscos a que diariamente podemos estar expostos ainda que de forma inconsciente.
A pandemia veio acelerar toda esta transição digital e fazer repensar a nossa forma de nos relacionarmos com o trabalho e com as Pessoas mas temo que não haja o tempo necessário para se alinharem estratégias, para se sedimentar a adoção destas ferramentas por parte dos profissionais e impulsionar a literacia digital e em saúde dos cidadãos e que é tão necessária para uma verdadeira mudança cultural. Será, por isso, premente continuar a investir neste caminho e fazê-lo de uma forma consistente e planeada. E tudo isto requer Telelíderes. E estes precisam-se.