Início Atualidade “NÃO DEIXEM MARGEM PARA QUE A MERA DIFERENÇA DE GÉNEROS ABALE A AUTOCONFIANÇA”

“NÃO DEIXEM MARGEM PARA QUE A MERA DIFERENÇA DE GÉNEROS ABALE A AUTOCONFIANÇA”

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“NÃO DEIXEM MARGEM PARA QUE A MERA DIFERENÇA DE GÉNEROS ABALE A AUTOCONFIANÇA”

Primeiramente, quem é a Rita Moutinho da Costa enquanto pessoa e profissional? O que é que nos pode contar sobre o seu percurso?
Há um padrão constante tanto na minha vida pessoal como na profissional: sempre com novas ideias e foco na solução, otimista e muito orientada para o resultado. Desde cedo, o que me divertia era inventar negócios durante as férias, juntar uma equipa de filhos dos vizinhos e no final do verão distribuir os resultados.
Esse espírito continuou comigo nos sítios por onde passei. Após a minha formação universitária na Católica do Porto, ganhei a PLMJ como casa mãe, onde estive durante cerca de oito anos e onde verdadeiramente me formei enquanto advogada. Na Suíça, onde vivi cerca de cinco anos, frequentei o LLM em Direito Tributário Internacional na Universidade de Genebra, e geri uma equipa de consultores especializados na área de Corporate e Direito Fiscal Internacional. Posteriormente, em 2014, fundamos um grupo de consultoria empresarial internacional. Esse grupo cresceu, estabeleceu parcerias, e hoje apresenta-se aos seus clientes sob a marca “allBee GROUP”, onde se integra a MCMA.

Atualmente é Sócia e Managing Partner da MCMA Advogados. Como é que descreve o grupo e de que forma a marca tem vindo a distinguir-se num mercado tão competitivo?
A MCMA é uma muito sociedade jovem, não apenas pela idade de referência dos profissionais que a integram, mas também por se tratar de um projeto que viu a luz do dia muito recentemente, em pleno estado de emergência. Ainda assim, é uma ideia antiga na qual alicerçamos, hoje, a visão comercial de nos apresentarmos no mercado enquanto sociedade de advogados.
Acreditamos na multidisciplinariedade como o futuro próximo das sociedades focadas na assessoria jurídica de negócio e de investimento.
Por outro lado, o fato de estarmos perto do core de negócios dos nossos clientes faz com que mais rapidamente consigamos ir ao encontro daquilo que são as suas necessidades específicas.
Enquanto sociedade de pequena dimensão, independente, apostamos numa relação de grande proximidade com o cliente. Apesar de sermos um consultor externo, integramos os processos de tomada de decisão, trabalhamos diariamente com as equipas internas, e asseguramos a articulação técnica dos vários profissionais, externos e internos, de diferentes áreas, nas diferentes jurisdições em que as empresas estão presentes, conforme adequado e necessário a cada projeto.
O sucesso do cliente é potenciado pela gestão integrada de várias componentes do negócio, não só jurídica, mas financeira e operacional, e na relação cliente/MCMA, o advogado é a chave da solução multidisciplinar.
Quando o futuro chegar, vamos estar na linha da frente.

Tendo em conta que a sociedade está em constante mudança, que ideias têm para se reinventarem todos os dias e que desafios futuros podemos esperar da Moutinho da Costa, Magalhães & Associados?
As tecnologias da informação são ferramentas incontornáveis também na prática jurídica e talvez o mais dinâmico motor de mudança da sociedade. Considerando o foco de negócio da MCMA, estamos a apostar em sistemas que permitam, na perspetiva do cliente, um acesso rápido, direto e “user friendly” a toda a informação que passa ou que é tratada por nós. O objetivo é também desburocratizar o diálogo com o cliente e a partilha dos elementos que são a base ou o produto do nosso trabalho, agilizando a tomada de decisões na ótica, claro está, de uma gestão multidisciplinar.
O parecer técnico de cem páginas é importante, mas o gestor não o quer ler. O gestor quer compreendê-lo, descodificado. A nota informativa para o cliente é essencial, mas não podemos partilhá-la como se estivéssemos a comunicar com outro advogado… e tantos outros exemplos.
Por outro lado, através da associação da MCMA à allBee, vamos continuar a cuidar da nossa presença e parcerias internacionais no Reino Unido, Angola, Moçambique, França e Suíça, que são um fator relevante quer de presença nas jurisdições com que mais trabalhamos, e melhor conhecemos, quer de captação de negócio.

Assumindo um papel de liderança, acredita que as características fundamentais para se ser um líder e gestor de pessoas são inatas ou desenvolveu-as à medida que foi enfrentando tais desafios? Quais são essas características?
Um pouco de ambos. A experiência passada é uma ferramenta indispensável aliada a quaisquer traços de personalidade que possamos identificar como característicos do líder. Mas não fazemos omeletes sem ovos, e é fundamental ter por perto pessoas com iguais capacidades de gestão, principalmente num projeto transversal como é o da MCMA e o da sua associação à allBee.
Neste caso, a liderança partilhada é fundamental e a parceria com o Bruno Magalhães, sócio fundador da MCMA, uma mais-valia para o grupo, tanto ao nível da gestão como para o enriquecimento do nosso segmento de direito comercial e societário, área de actuação que privilegiamos a par do direito fiscal internacional.
Identificar essas características de liderança… receio não conseguir contornar lugares comuns. Na nossa profissão só vamos conseguir gerir uma equipa se a equipa for boa. É preciso saber escolher e aqui, confesso-me, guio-me pela intuição. A boa intuição é uma boa característica. E sabemos o que se diz do instinto feminino.
É essencial fomentar um espírito de boa colaboração, de equipa e de envolvimento das pessoas. Para isso é preciso saber perguntar, saber ouvir e saber compreender. Há que transmitir energia positiva, ser a primeira a arregaçar as mangas e nunca dar um passo atrás perante a adversidade. Passos atrás só os estratégicos, quando queremos dar dois em frente. São lugares comuns, mas são verdadeiros.

Embora as opiniões se distingam, hoje em dia ainda há mulheres que sentem preconceito por ocuparem cargos de liderança. Sente que o facto de ser mulher lhe criou mais obstáculos e desafios ao longo da sua carreira profissional?
A tomada de decisão de seguir o meu próprio caminho, na pele de empreendedora, valorizou a minha posição enquanto profissional, de uma forma que não deixará de ser transversal aos homens e às mulheres. Comercialmente, a autonomia projeta-nos de uma forma positiva.
Na verdade, acho que por ser mulher acabei muitas vezes por beneficiar de um “fator surpresa”. Estar presente em ambientes típica e maioritariamente liderados por homens, estar presente nos processos de tomada de decisão e ser parte da solução, sem sequer pensar na diferença de géneros, acaba por ser (infelizmente ainda) pouco convencional.
Se teria sentido mais obstáculos numa progressão de carreira, digamos, mais convencional ou tradicional, por ser mulher? Provavelmente sim.
Sinto também que esses obstáculos, tendencialmente, se vão dissipando, e em sinal da evolução dos tempos, acredito na minha geração e nas gerações que se vão preparando para a vida profissional.

Que conselho gostaria de deixar a todas as mulheres que pretendem iniciar uma carreira empreendedora?
O meu primeiro conselho, às mulheres, é que não deixem margem para que a mera diferença de géneros abale a sua autoconfiança.
Os outros conselhos são transversais à carreira empreendedora: é fundamental acreditar, trabalhar com determinação, concretizar e desfrutar dos tempos de lazer nos momentos certos. O work-life balance, termo que agora está na moda, é um capítulo importante do empreendedorismo.