A escolha do curso de Arquitetura veio mexer com a dinâmica da sua família – inteiramente direcionada para a medicina. No entanto, não só foi bem aceite, como foram os mesmos que a influenciaram na decisão: “a minha mãe tem um bom gosto invejável a nível de decoração e o meu pai era um verdadeiro esteta – as coisas bonitas fascinavam-no”, conta-nos Filipa Borges Nascimento. Estas influências cativaram-na também, seguindo assim para uma das suas primeiras (e imensas) aventuras.
“Quando terminei o curso, fiz o meu estágio para acesso à Ordem dos Arquitetos, num atelier de arquitetura em Lisboa, sendo que no final tive oportunidade de dar continuidade ao trabalho que estava a desenvolver, como projetos de grande escala: estádios, escolas ou edifícios públicos”, afirma, lembrando, contudo, que o seu objetivo maior era “trabalhar numa escala mais pequena, de habitação. Sempre tive curiosidade em Arquitetura e Design de Interiores”, salienta a nossa entrevistada. E foi desta forma que se deu início a mais uma aventura: A nossa interlocutora, munida de uma boa dose de coragem e força, voou até Londres, onde tirou um curso de Design e Decoração de Interiores na Inchbald School of Design. Para otimizar o seu tempo ao máximo, dedicou-se ainda a frequentar outros cursos mais curtos, como de Design de Eventos e Interiores, na Central Saint Martins, University of the Arts, e que apesar de mais exíguos, foram também importantes nesta caminhada.
Quando decidiu regressar a Portugal conseguiu acrescentar mais duas experiências ao seu currículo, sendo uma delas na construtora Ramos Catarino, onde trabalhou como Arquiteta de Interiores. Para a nossa entrevistada “foi uma grande mais-valia e uma grande escola, uma vez que tinha acabado de concluir as áreas de Arquitetura e Design de Interiores”.
Mesmo com estas conquistas, para Filipa Borges Nascimento ainda faltava algo na sua vida, talvez uma experiência que a completasse e enriquecesse. Numa fase de fuga à sua área de formação, concorreu à Emirates e num processo de seleção de seis meses, entrou e foi até ao Dubai. Por questões pessoais, passado cinco meses mudou de destino para São Paulo, onde esteve durante três anos a trabalhar na Vista Alegre, na área do Marketing.
Ao voltar, mais uma vez, ao seu país, a Arquiteta trabalhou na empresa TGV Interiores, onde cresceu profissionalmente, relembra, “no último ano, estive responsável por uma das lojas, tudo correu muito bem, tive um contacto mais direto com o cliente e com uma parte mais comercial, que é uma área de que eu gosto imenso. Além de que me deu mais atributos para continuar em busca dos meus sonhos”, salienta convicta.
UMA JORNADA QUE CONCRETIZOU UM SONHO
A verdade é que para Filipa Borges Nascimento criar a sua marca nunca foi um desiderato idealizado. No entanto, a quantidade de pedidos foram crescendo e o tempo começou a diminuir – a ideia de ter o seu escritório começou a fazer sentido.
Assim, a sua marca surgiu em outubro de 2018 e a nossa entrevistada garante que “não trabalho de maneira diferente por hoje ter a minha marca, até sempre vesti a camisola e sempre dei tudo de mim”. Começou por trabalhar em casa, mas resultado do esforço, empenho e dedicação, sentiu necessidade de passar para um escritório que, passado meio ano ficou pequeno demais tendo em conta a rápida evolução do projeto, sendo por isso obrigada a mudar novamente para um espaço maior.
O atendimento da Filipa Borges Nascimento – Arquitetura e Interiores é personalizado. “Com o cliente sou sempre eu que lido, vou à primeira reunião, realizo o briefing com o cliente e faço a apresentação. Estou presente em todas as montagens, um dos momentos mais esperado pelos clientes”, garantindo ainda que “a partir do momento que não conseguir estar em todo o lado, terei uma equipa forte e consolidada capaz de tomar o meu lugar”. Na sua opinião “uma marca ou uma empresa faz-se das pessoas que nela trabalham”.
Confessou-nos ainda que aquilo que a move e não a deixa baixar os braços, é ver o brilho nos olhos dos seus clientes no final de cada projeto, acabando “por ser muito gratificante chegar ao fim do projeto e ver o feedback das pessoas, a satisfação das mesmas e os miúdos felizes no quarto novo”.
Tivemos obviamente curiosidade em perceber como funciona o processo no seu escritório, sendo que a Arquiteta ao explicar dividiu em dois setores: projetos residências e projetos comerciais ou de hotelaria. No projeto de habitação – os que são em maior quantidade e dos quais gosta mais – há clientes com peças já existentes que querem manter, sendo a sua missão completar o espaço, há também quem não tenha nenhuma peça e queira tudo de raiz, existindo ainda quem apenas vá completando o projeto à medida que está a ser construído. “Mexemos na intimidade das pessoas, é uma grande responsabilidade. Já nos restantes, o cliente está tão preocupado com os detalhes, muitas vezes partimos de um tema, que terá de ser desenvolvido, maturado e complementado”, afirma.
O grande desafio diário tem sido “promover projetos apelativos, com qualidade, onde se veja que foram pensados por um profissional, dentro do orçamento que o cliente nos dá. É aí que me diferencio”. Além disto, a Arquiteta acha também importante o estudo constante e o conhecimento, tendo por isso presença assídua em feiras internacionais, como a de Milão e a de Paris e em formações variadas.
COMO É SER MULHER EMPREENDEDORA EM PORTUGAL?
Quando abordamos a nossa entrevistada sobre este tema, a resposta dividiu-se: a dificuldade maior não é ser mulher, mas sim apenas empreendedora, especialmente na sua área. Uma vez que Filipa Borges Nascimento vive de corpo e alma o seu negócio, o retorno que tem vindo a sentir não é, de todo, o ideal. Conta-nos, “eu tinha noção que era uma realidade difícil, há dias em que corre tudo bem e eu penso que vai ser bom, que vai ter retorno, mas também há dias em que ponho em causa se vale a pena todo este esforço”, assume, assegurando que mesmo assim olha sempre para o futuro, até porque “acredito que o trabalho, a dedicação e o empenho têm de ter algum retorno. E as coisas aos poucos estão a acontecer e o feedback está a ser muito positivo.”
Quanto à questão de género, a nossa interlocutora afirma que a nível da arquitetura “vou às obras, fazer o acompanhamento, definir várias questões e resolver situações e sinto que, por vezes, o aparecer uma mulher acaba por descredibilizar. Sinto que em determinadas ocasiões o meu género e a minha imagem fazem as pessoas questionarem a minha credibilidade profissional. É importante desmistificar esta ideia, ou seja, o ser-se bonito ou elegante, pode estar a par do ser-se competente, sem qualquer dúvida”. No entanto, no seu meio diário, que é a Decoração e o Design de Interiores, já não sente esse estigma.
PARA O FUTURO
Uma das maiores prioridades de Filipa Borges Nascimento é consolidar a sua marca e, por fim, equilibrar a vida pessoal com a profissional que, até então, tem sido difícil. Para que tal seja possível, tem em mente melhorar o seu escritório, para ter mais espaço e consequentemente ter o seu trabalho mais segmentado, aumentar a equipa – que já conta com mais duas pessoas, e ateliers no Porto e em Coimbra, a sua cidade natal – e assim conseguir dar respostas mais céleres a todos os pedidos. A nível pessoal, “gostava de ser mãe, e queria conseguir ter mais tempo para a minha família e amigos e quase não me esquecer de mim”.
Por fim, e em forma de mensagem para todos os que queiram iniciar um projeto, “é importante acreditar que funciona e é necessária muita dedicação e muito trabalho. Tudo o que acontece não é resultado de sorte, mas sim de suor, sangue e lágrimas, como costumo dizer. Ter muita disponibilidade e acreditar – é difícil – mas com vontade e dedicação as coisas acabam por acontecer”, conclui a nossa entrevistada.