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Reino encantado das crianças

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Reino encantado das crianças

Paula Castro viu a sua vida tomar um rumo diferente e desafiante em 2007, quando se mudou para o Luxemburgo. Uma mudança que nos seus primórdios foi naturalmente difícil, tendo em conta que estamos a falar de uma adaptação a um país com diferenças significativas e acentuadas, no entanto não estava sozinha. Tendo cinco filhos, a sua paixão desde sempre passou por crianças e pela satisfação de testemunhar a sua felicidade e inocência. Como tal, juntamente com a sua família, em junho de 2019, a nossa entrevistada decidiu concretizar aquele que é o projeto da sua vida: a Royal Kids. “Focámos todos os nossos esforços no sentido de conseguirmos abrir algo nosso. É um projeto familiar: eu sou diretora, o meu filho é diretor adjunto e tenho ainda mais duas noras a trabalhar comigo”, esclarece Paula Castro. Na realidade, ter um projeto familiar era o que estava há muito idealizado e é exatamente esse o conceito que quer transmitir.
A Royal Kids é uma creche que está dividida em três grupos de idade: dos dois meses aos dois anos, dos dois aos quatro anos e por fim dos quatro aos 12 anos, com capacidade total de 36 crianças. Também conhecida como “pilar” e “cérebro” do projeto, Paula Castro explica que “não tentamos substituir a família, mas tentamos com que as crianças façam desta a sua casa. Se sintam no reino deles. Queremos que sejam os reis da casa”, acrescentando orgulhosamente que “conseguir tirar-lhes um sorriso espontâneo para mim é tudo”. Dá para compreender todo o amor que a Royal Kids envolve, não concorda?
Para a fundadora da creche, nada melhor envolve uma criança como o amor e o tempo que se lhe dedica, no entanto, não é só. “Também temos regras, como é óbvio. O crescimento pessoal de cada um é tão importante porque é isso que vai definir o jovem e o adulto de amanhã, por isso tentamos transmitir os nossos valores: ensinamos a respeitar muito o outro, e principalmente a vê-lo como um ser igual a si próprio”, afirma. Sabemos que, na Royal Kids, existem crianças de diferentes países, sendo primário “levá-los” a conhecer todas as culturas que por ali passem: Rússia, Reino Unido, China, Portugal, Brasil, entre outras. Com isto queremos realçar que, desde logo, existiu uma grande preocupação em haver sentido de igualdade, onde não estão incluídos estatutos sociais e sim seres humanos. Prova disso mesmo é que são aceites na Royal Kids crianças com necessidades especiais, sendo o cuidado igualmente responsável e afetuoso.
Além da temática da cultura que insistem em manter (e bem) ativa, muitas outras atividades se acrescentam à lista. “Temos muitas atividades de psicomotricidade. Fazemos teatro, contamos histórias, vamos ao mercado e compramos variadas frutas e legumes, para que as crianças experimentem sabores diferentes”, conta-nos Paula Castro, assumindo ainda a parte social e o seu papel importante na Royal Kids. “Também fazemos visitas a lares de terceira idade e às vezes preparamos bolachas e levamos-lhes. Fomos na altura do natal e foi muito bonito. Temos dois grandes parques perto das nossas instalações e de vez em quando saímos, guardamos pão de um dia para o outro e damos aos patos”.
Muitos outros jogos e atividades são diariamente executados – alguns e para os do terceiro grupo (dos quatro aos 12 anos), são para controlar as suas emoções. A nossa interlocutora admite que, enquanto diretora da Royal Kids, representa um papel muito importante e não só administrativo: o de observar e aconselhar. Quando algo não está bem, o primeiro passo é informar os pais – sendo que os conhece um por um.
Embora pareça algo banal, mas que faz toda a diferença na vida dos pais que deixam as suas crianças entregues à Royal Kids, é o facto de a creche disponibilizar três grupos privados no Facebook (correspondentes aos diferentes grupos de idade), onde, ao fim do dia, colocam todas as atividades desempenhadas pelos seus filhos, assim como fotografias. Assim, mesmo não estando presentes fisicamente, têm oportunidade de acompanhar o quotidiano dos mesmos.

EMPREENDEDORA LUSA
Embora as suas raízes sejam portuguesas, Paula Castro considera o Luxemburgo a sua primeira casa, como tal, e como já é sabido, foi exatamente no Luxemburgo que se estabeleceu. Mas nem sempre foi fácil, uma vez que lutar por uma posição melhor foi um processo que originou alguns entraves, “os luxemburgueses tinham na altura vantagens e benefícios que os de fora não tinham, por exemplo, eles podiam-se candidatar a certos empregos e nós não – não só os portugueses. Agora isso já está muito banalizado, até porque cada vez mais os portugueses conseguem ter boas posições profissionais”, explica a nossa entrevistada, deixando bem claro que nada disto a derrubou ou a fez desistir dos seus sonhos, muito pelo contrário.
“Quando vou a um sítio enquanto diretora da Royal Kids e veem uma mulher – e eu costumo dizer que sou uma mulher de garra – as pessoas ficam perplexas. Mas quem me conhece soube, desde o início, que eu ia conseguir. Foi muito difícil, tive quase três anos para conseguir abrir, mas não desisti. Serviu-me inclusive de motivação para mostrar a todos que ser mulher não quer dizer nada quando se fala em projetos. Eu sou mulher, mãe, humana, e todas estas características trouxeram-me até aqui. Sou muito lutadora, não desisto”, descreve assim Paula Castro o seu percurso enquanto mulher e portuguesa, num país à partida desconhecido.
É de referir que a equipa composta pela Royal Kids é maioritariamente portuguesa, onde se cria o sentimento de pertença se calhar há muito perdido. “É muito importante para mim, sinto que posso dar valor às pessoas do nosso país, dar-lhes oportunidades”, relata a nossa entrevistada, acabando por confessar que “adoro o Luxemburgo, mas digo sempre que nós, portugueses, temos um coração diferente”.

“NÓS TEMOS BOAS ESTRUTURAS, ALGO QUE NOS AJUDOU A ENFRENTAR A PANDEMIA”
Obrigatoriamente fechados desde o dia 16 de março até ao dia 25 de maio, a pandemia provocada pelo novo coronavírus impactou diretamente no projeto Royal Kids, uma vez que ainda não se encontravam sólidos o suficiente, por terem pouco mais de um ano de existência. No entanto, como já sabe, a palavra “desistir” é desconhecida no dicionário de Paula Castro e da sua família, cuja união foi a arma mais poderosa para enfrentar este desafio.
Orgulhosa da sua equipa e cada vez mais do seu projeto, a nossa interlocutora assume que “geralmente, no nosso meio de trabalho, já tínhamos bastantes medidas higiénicas, sendo que a única coisa que mudou para nós foi limitar as crianças que tínhamos, limitar a entrada dos pais – começámos-lhes a pedir para telefonar dez minutos antes de irem buscar as crianças, para nós as podermos preparar e para não haver ajuntamentos de pessoas. Nós temos boas estruturas, algo que nos ajudou a enfrentar a pandemia”. Na Royal Kids, já existia o hábito da desinfeção constante, só a máscara passou a integrar a lista de procedimentos.
Paula Castro admite ainda que, acabaram por acolher durante as sete semanas mais complexas da pandemia, 13 crianças que o Estado lhes solicitou, devido às boas condições estruturais. “Conseguimos aceitá-las e estar cem por cento disponíveis para ajudar em tudo o que fosse necessário, não só para as nossas crianças, mas também para outras que estavam a precisar”, explica. Atualmente, não só têm as vagas todas preenchidas, como têm em lista de espera crianças para entrar no próximo ano.
O feedback não podia ser mais positivo. Por isso, para o futuro só estão pensados desafios à altura: o próximo objetivo é, em 2021 abrir a segunda creche e em 2022 abrir a terceira. Segundo Paula Castro, “tudo vale a pena e tudo se consegue quando se luta e há uma verdadeira dedicação”, assim, os próximos dois projetos terão o mesmo conceito familiar, porque de outra forma “não existirá o sentimento de gratidão por todos conhecido atualmente”.