A Almadesign perpetua desde a sua génese uma forte componente inovadora e de base tecnológica junto do mercado. No sentido de contextualizar junto do nosso leitor, de que forma é que o Estúdio tem vindo a promover uma integração e contribuição forte para os mercados em que atua?
A Almadesign promove a “inovação através do design”, significando que procuramos implementar processos de inovação com os nossos parceiros com base no design de novos produtos e serviços de base tecnológica. As soluções que desenvolvemos, nomeadamente para a área dos transportes, são forçosamente de base tecnológica porque precisamos de integrar soluções leves, mas resistentes, esteticamente apelativas, mas funcionais, com custos controlados, mas com baixo impacte ambiental. Todos estes fatores, aparentemente contraditórios, requerem uma forte componente inovadora e uma estratégia fortemente colaborativa.
A vertente de transportes é uma nas quais a marca tem centrada a sua atenção, mais concretamente na vertente da aeronáutica. O que tem aportado a Almadesign a este setor e de que forma é que sua contribuição é importante para o mesmo?
Desde sempre que a aeronáutica é uma paixão dos designers da Alma, pela sua componente de inovação e tecnologia. É uma área de grande complexidade que traz enormes desafios como a segurança, a redução do peso, o conforto do passageiro ou a sustentabilidade e cujas soluções procuramos fazer migrar para outras áreas como a ferroviária, rodoviária ou náutica.
No domínio da vertente, em que projetos está a marca envolvida de momento e de que forma é que os mesmos revelam um sentido de melhorar a experiência de viagem do passageiro e tripulação?
Neste momento estamos a trabalhar em diversos projectos aeronáuticos, desde o design de configurações mais eficientes e sustentáveis (aviões eléctricos ou híbridos-eléctricos), sistemas de mobilidade aérea urbana, aviação regional eléctrica, entre outros. Nestes projetos de design, é fundamental envolver todos os stakeholders, sejam os passageiros pelo conforto e experiência de viagem, sejam os operadores pela facilidade de manutenção, durabilidade das soluções ou a tripulação cujo “local de trabalho” é parte do nosso projeto. Por exemplo, no caso dos projetos de renovação de cabine da TAP, com as equipas da transportadora e fornecedores, foi possível aumentar a lotação dos aviões, reduzir o peso total (e consumo de combustível), aumentar o conforto e serviços prestados aos passageiros e aumentar a incorporação nacional em projetos aeronáuticos.
Para o setor da mobilidade, quão importante é fomentar a inovação através do design? Sente que este conceito é bem assimilado pela indústria da aeronáutica nos dias que correm e que o mesmo é essencial?
O design por definição é uma área de não-especialistas, conseguindo por isso ter a capacidade de ver a “árvore”, mas também “a floresta”, dependendo do contexto. As metodologias utilizadas permitem o mapeamento das necessidades de todas as partes interessadas e a rápida geração de conceitos e protótipos para testar diferentes soluções. É necessário ter um conhecimento geral sobre as tecnologias e constrangimentos técnicos do projeto, mas conseguir ter o distanciamento necessário para integrar, de forma holística, as necessidades de todos, sejam os utilizadores finais, os operadores, a indústria, mas também o governo e as entidades do sistema científico. Em projetos de grande complexidade o design ajuda a materializar as soluções e a criar um campo de trabalho comum, sobre o qual todos podem contribuir.
O setor da aeronáutica foi dos mais afetados pela pandemia da COVID-19. De que forma é que esta nova realidade vos obrigou a uma readaptação e, também, a um contornar dos obstáculos para continuar a promover os vossos produtos de valor?
Sem dúvida. É necessário trabalhar para tornar as viagens aéreas ainda mais seguras (porque o registo de segurança já é excelente na aviação). A capacidade de utilizar materiais facilmente higienizáveis, a qualidade do ar da cabine, a distribuição dos lugares promovendo uma maior privacidade serão fundamentais no curto prazo. Temos de olhar para o problema como uma oportunidade de implementar mudanças que, numa situação normal, seriam de introdução mais incremental.
A AED, o Cluster Português para as Indústrias de Aeronáutica, Espaço e Defesa, promoveu os AED Days, que se realizaram nos dias 6, 7 e 8 de outubro. Na sua opinião, quão importantes são este género de eventos para o setor?
Os AED Days juntaram mais de 600 participantes de todo mundo das Indústrias de Aeronáutica, Espaço e Defesa. Tivemos apresentações de projetos das maiores empresas do setor e uma participação fundamental da indústria portuguesa. É destes eventos que nascem futuros projetos colaborativos, pelo que são foruns essenciais para discutir problemas e propor parcerias para o desenvolvimento de novas soluções.
Quais são os principais desafios que a Estúdio aporta para o futuro? Que novidades podemos continuar a esperar por parte da Almadesign?
O desafio da sustentabilidade – económica, ambiental, social – é o grande desafio dos próximos anos pelo que a Alma irá continuar focada em contribuir através da inovação pelo design. Sejam autocarros a hidrogénio, embarcações movidas a energia solar ou aviões elétricos. Para isso, esperamos poder continuar a trabalhar na criação de projetos e redes colaborativas que, em conjunto, contribuam para um futuro melhor.