Comecemos por falar sobre a Ana Fragoso de Matos. Quem é, enquanto pessoa e profissional? O que nos pode contar sobre o seu percurso?
A Ana é mãe, mulher e trabalhadora. Assertiva nas suas escolhas e decisões.
Detesta relógios e horários e quem os inventou de certeza que não tinha nada para fazer. Tentou ainda horários, secretária com horário fixo, mas tudo isso a tornava extremamente infeliz.
Fazer o que nos faz feliz. Tentar e procurar onde nos sentimos realizados. Não conseguir. Tentar de novo. Nova forma. Nova procura. Saber quem sou e acreditar em mim. Chegar onde se deseja.
Trocar vida agitada nas grandes cidades e ir viver para o Alentejo. Saber onde se pertence, onde se foi mais feliz e fazer o que se gosta. Tenho 39 anos e sou feliz e realizada pessoal e profissionalmente.
Afirma que foi nas pessoas e em viagens pelos cinco continentes que construiu uma carreira de Gestão de Projetos, embora seja licenciada em Psicologia. O que descobriu nessa jornada, que a fez rumar num sentido profissional distinto?
Existe um mundo cheio de novas possibilidades, as diferenças culturais e modos de vida ensinam-nos um autoconhecimento que é libertador. Experimentar coisas novas, ouvir diferentes experiências e modos de vida. Foi assim que as oportunidades foram surgindo, a compreensão comigo própria fizeram-me tomar conta da minha vida e qual o caminho a seguir, a vocação como lhe chamam.
O que lhe acrescentou, enquanto a profissional que é hoje e enquanto personalidade empreendedora, ter conhecido pessoas e destinos diferentes? Foi, sem qualquer dúvida, uma mais-valia?
Perceber que sou eu quem controla o rumo que a minha vida toma, quem sou, foi o meu maior feito. Muitas pessoas passam a vida apenas conformadas com o que a vida lhe ofereceu, com medo de procurar algo diferente, de sair da zona de conforto, tornando-as conformadas. Jamais conseguiria viver assim. A posição que tomamos com as oportunidades ou com as derrotas que a vida nos apresenta é determinante para acontecimentos que se seguem. Não tenho medo da vida e nem da morte, tenho pena de parar de viver. Espero daqui a 30 anos ainda estar a evoluir, a mudar e a conseguir ter novos projetos.
Abraçou a Herdade Fonte Paredes no início de 2020, como Diretora Comercial. Como está a ser esta experiência e como nos pode descrever o seu dia a dia de trabalho?
Quando iniciei esta nova etapa, num mundo totalmente novo para mim, achei que tinha objetivos, um plano e que não seria difícil alcança-los. As minhas metas e objetivos estão longe de conseguirem serem alcançados. Temos uma nova conjuntura social e mundial e estamos todos a tentar encontrar uma nova forma de viver os nossos dias e de conseguir concretizar negócios. Ser gestor comercial é uma tarefa muito difícil e pode ser subestimada.
O nosso dia-a-dia tem que ser estimulado, para conseguirmos encontrar novas formas de concretização. Determinação neste momento é fundamental.
A Herdade Fonte Paredes tem, ao longo dos (largos) anos de existência consolidado a sua marca no mercado. De que forma a vossa oferta prima pela capacidade de diferenciação?
A tradição, a família e uma paixão pelos vinhos que está nos genes da família Cerejo. A Herdade parere ter sido meticulosamente criada ali, onde a fauna e a flora criam tranquilidade e uma harmonia vista com raridade. As vinhas estendem-se ao longo de cerca de uma centena de hectares e, no entanto, não se perdem de vista os sobreiros, as azinheiras e oliveiras. Temos a Barragem, onde as vinhas bebem e refrescam. Cerca de 1 milhão de litros do melhor vinho, a cada ano. Um desafio que tem sido conseguido, como atestam os prémios já conquistados. Sobretudo porque todos os anos o vinho recebe características diferentes, ao sabor do clima que, mesmo sendo o ideal, oscila de ano para ano. É a aliança entre o progresso e a tradição que se vive na Herdade e na produção das uvas que criam vinhos de elevada qualidade e complexidade única.
Além de Diretora Comercial da Herdade Fonte Paredes, é Consultora e líder independente em diversos projetos. De que projetos estamos a falar?
Planos de negócios e avaliação de riscos são neste momento que vivemos as avaliações que faço.
Como considera que o empreendedorismo se encontra em Portugal? Acredita que, atualmente, a sociedade está mais disponível e tem melhores acessos a projetos diferenciadores, especialmente quando se vê uma mulher à frente dos mesmos?
O empreendorismo já se vive em Portugal há algumas décadas. Todos os empreendedores têm que ter consciência que em Portugal não é fácil implementar negócio quando recursos são escaços, muitas vezes não é tanto o caminho que é sinistro, é manter a liderança, a diferença e o volume de negócio que se torna o verdadeiro desafio. Ser mulher, no ano de 2020 continua a ter as suas diferenças. Por exemplo, uma mulher estar presente numa reunião torna-a mais agradável, há coisas que não se dizem quando uma senhora está presente (gargalhadas). Ainda existe estereótipo que a mulher deveria estar com os filhos e não a jantar com parceiros de negócios ou a ausentar-se semanas de casa. As vozes na cabeça das pessoas e o seu julgamento falam tão alto que se ouvem pela forma como nos olham.
Gostaria de deixar uma mensagem a todas as mulheres que queiram começar uma carreira empreendedora sem receios?
Construir o plano de vida com aquilo que faz sentido para elas! Não se deixarem desencorajar por uma sociedade de falsas moralidades ou por preguiça de vencer vários obstáculos. Todas conseguimos. Olhar-nos ao espelho e lutar todos os dias por nos sentirmos realizadas e deitar a cabeça na almofada e saber que não somos perfeitas, mas somos o que precisamos.
Para o futuro, que desafios tem reservados?
Ser líder de mercado é o desejo que tenho. A ambição não me causa angústia, sei esperar e tenho consciência do tempo em que vivemos e do mercado em que me encontro, mas a competição é para mim uma motivação. Conseguimos sempre atingir metas que não imaginamos e espero que o futuro me guie nesse sentido. Temos que ser realistas no que de novo o mundo se transformou e definir metas reais na nossa vida pessoal e profissional. Continuar a inovar e pensar fora da caixa e ter a coragem de assumir o risco, a vitória e a derrota. Aceitar que mudar é a única coisa constante que temos e perceber que o mundo muda e as ideias de ontem já não funcionam na manhã de hoje.