No mercado desde 1983, a Garvetur, já teve com certeza de enfrentar diversas adversidades, mas talvez nenhuma como a que hoje atravessamos, denominada por COVID-19. Tendo sido propagada a todos os setores de atividade, as empresas sentiram-se obrigadas a uma rápida mudança de práticas. Assim, como nos pode descrever o vosso reajustar, perante o atual cenário?
A primeira medida que desenvolvemos perante a crise sanitária que atingiu todo o Mundo, foi instituir boas práticas de funcionamento que salvaguardassem a segurança dos nossos clientes e dos nossos colaboradores.
O nosso departamento de Recursos Humanos elaborou um Guia de Boas Práticas, abrangendo todas as empresas da Enolagest, SGPS, da qual a Garvetur é a empresa âncora.
Nesse guia estavam indicadas todas as medidas recomendadas pelas autoridades de Saúde Pública, bem como indicações específicas para cada um dos campos de atividade das empresas participadas, já que o Grupo Garvetur | Enolagest oferece um modelo inédito de serviços em Portugal, ao criar sinergias entre as dezenas de empresas associadas, desde a consultoria e abrangendo todo o parque imobiliário de investimento, mediação, compra, venda, construção, reabilitação, manutenção, remodelação, decoração de interiores e espaço exterior, assim como a gestão de imóveis e a área de seguros, bem como a de aluguer e venda de viaturas. O grupo diversificou ainda as suas atividades para as áreas de educação, formação e trabalho temporário.
Temos consciência que só teremos uma retoma das atividades económicas se cada um de nós agir de forma responsável para conter a crise sanitária.
A Garvetur possui uma vasta experiência na comercialização de empreendimentos nos segmentos residencial e turístico. Interessa perceber como se encontra atualmente este setor, atendendo às consequências que se instalaram. Quão impactante a pandemia se tornou no mercado imobiliário e no setor do turismo?
Mais do que uma opinião, cito aqui o balanço da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), organismo do qual sou vice-presidente, relativo à atividade turística de 2020:
“A época turística, (abril a outubro), a que verdadeiramente conta para os resultados das empresas, apresenta os piores resultados turísticos de sempre no Algarve”.
Contudo, há que destacar o comportamento notável do mercado interno, que nos meses de agosto e setembro, subiu 32%, ou seja, mais 615 mil dormidas e 143 mil hóspedes.
Assim, o mercado nacional representou 62,3% das dormidas totais verificadas nos hotéis e empreendimentos turísticos classificados oficialmente no Algarve, (3,07 milhões de um total de 4,9 milhões de dormidas até ao final do mês de setembro).
No entanto, no mesmo período de 2019, o Algarve registou 15,2 milhões de dormidas e 3,2 milhões de hóspedes nacionais e estrangeiros. Entre os meses de abril e outubro, a região registou uma taxa média de ocupação de 27,5%, uma descida de 65,5%, enquanto o volume de negócios baixou 68,7%, face ao período homólogo.
Em termos gerais os hotéis e empreendimentos turísticos do Algarve registaram, entre abril e outubro, menos 10,3 milhões de dormidas do que em 2019, tendo as receitas baixado 635,8 milhões de euros no mesmo período.
Para estes resultados contribuíram, sobretudo, as quebras na procura dos principais mercados externos, com realce para o nosso maior fornecedor de turistas, o Reino Unido de menos 88,9%, traduzidas em menos 626 mil hóspedes e 3,8 milhões de dormidas.
Por outro lado, os mercados emissores mais importantes também apresentaram descidas assinaláveis nos fluxos turísticos para o Algarve durante esta época turística, designadamente Alemanha (-77,4%), Holanda ( 67,3%), Irlanda (-94,7%) e França (-73,2%).
No aeroporto de Faro, porta principal de entrada de turistas no Algarve, o tráfego de passageiros regista uma descida de 82,5%, menos 5,3 milhões de passageiros, sendo 2,8 milhões oriundos do Reino Unido.
Cerca de 20% dos empreendimentos turísticos permaneceram encerrados durante a época turística, correspondendo a mais de 26 mil camas. As perspetivas apontam para que 70% dos estabelecimentos encerrem durante a próxima estação baixa (novembro a março).
O Golfe turístico, um dos segmentos que mais contribuem para o esbater da sazonalidade, acompanhou, no essencial, o verificado nos estabelecimentos classificados oficialmente, apresentando quebras da ordem dos 70%, uma consequência direta da não existência de corredores aéreos com o Reino Unido, maior fornecedor de turistas de golfe ao longo do ano.
Face a este novo contexto, acredito que, por exemplo a mediação imobiliária, tal como muitos outros setores, designadamente a Imobiliária Turística, precisarão de se adaptar, e uma das vias é intensificar e até redescobrir outras ferramentas que nos permitam uma maior proximidade aos clientes, mas também nos obrigarão a ter melhores ferramentas de trabalho à distância.
Este setor implicava até agora um estreito contacto presencial, e embora esta perspetiva não possa ser totalmente ignorada, nos tempos mais próximos, teremos de introduzir formas de trabalho alternativas. Até ao momento a imobiliária e a imobiliária turística mostraram capacidade de resiliência, os preços não foram afetados. Contudo, teremos, eventualmente, de considerar que o mercado em alguns segmentos poderá sofrer alguma correção. Numa economia aberta e em especial nas atividades da indústria Turística, essa é uma inevitabilidade.
Se a nossa vida mudou, se o país e o mundo mudaram, a nossa região vai ter igualmente fatores de mudança a que teremos de responder.
Considera que as medidas do Governo serão suficientes para mitigar o impacto da COVID-19 na hotelaria? Como prevê que será o panorama hoteleiro numa fase pós-pandemia?
Pela minha experiência, e apesar deste processo que nos conduzirá a um Novo Normal, que cada vez será menos novo e mais normal, (visão confirmado pelos dados oficiais) o Algarve manteve a sua capacidade de atração como destino preferencial também para mercados emergentes, que há dois ou três anos não se consideravam expressivos.
Em minha opinião, os pacotes de medidas de emergência precisam de processos mais dilatados no tempo, porque haverá ainda um hiato temporal, atualmente não contabilizável em que temos de ser resilientes, imaginativos, enquanto a economia mundial, nacional e regional se reergue.
Temos hoje uma perceção mais precisa e clara da dimensão da crise e do seu impacto na atividade turística e na economia em geral, embora conscientes de que, após a pandemia, o turismo vai regressar de forma gradual e progressiva.
Assim, considero urgente e necessário, que o Governo e os organismos oficiais definam uma estratégia de colaboração e cooperação ativa com o sector privado, tendo em vista atuar por antecipação, para reagir aos problemas que o Turismo e a Imobiliária do País e do Algarve vêm enfrentando.
Neste contexto, é de realçar que numa primeira fase, foram tomadas as medidas que a situação impunha. Importa agora perceber os impactos nas empresas hoteleiras e turísticas resultantes da continuidade da crise sanitária e do agravar da crise social, sobretudo na maior e mais importante região turística portuguesa.
Como tal, no futuro próximo o que esperam as pessoas das organizações do Estado e dos seus organismos descentralizados é uma resposta rápida, mas principalmente concertada e com medidas adequadas a cada setor, e o que esperam as empresas, é a continuidade de um esforço que se pretende comum.
Esta é uma exigência para as empresas e seus colaboradores, mas creio ser igualmente determinante fortalecer uma frente dinâmica de trabalho para que essas exigências imprescindíveis, atingissem igualmente outros serviços correlacionados, como as conservatórias, os notários e por último, mas o principal, a banca.
Na primeira linha, sem dúvida, está o cumprimento de um conjunto obrigatório de procedimentos que visa minimizar o risco de contágio do novo coronavírus, para não se retroceder.
Igualmente em causa, está a criação condições que permitam às empresas viáveis, suportar as dificuldades financeiras e outras, mantendo os níveis de “know how”, quer de empresas quer de trabalhadores, de forma a responder eficaz e rapidamente às solicitações da procura na fase de retoma. A perda destes ativos seria desastrosa para a economia do País em geral e do turismo em particular.
Tendo em conta que na fileira do Turismo o impacto no desemprego nos últimos meses tem sido enorme, (mais de 200%), indo acentuar-se a partir dos meses de Outubro e Novembro e atendendo à mais que previsível extinção de postos de trabalho, há que considerar apoios ao emprego, nomeadamente através, de programas de formação de ativos nas empresas, entre outras medidas.
Assinalaria igualmente, em termos de urgência, a desburocratização dos processos de apoio, decididos pelo Governo, mas cuja lentidão processual está a impedir que as empresas cuja capacidade de tesouraria foi duramente afetada com meses de paralisação e uma retoma que, devido às condições já anteriormente citadas, vai ser mais lenta e muito dependente de circunstâncias externas.
Destaco que o Algarve contribuiu com mais de metade dos 15% do PIB que o Turismo representou nas contas do País nos anos anteriores e que a especificidade do tecido económico do Algarve tem de ser levada em conta, para evitar que, se não se agir agora, se tenha de enfrentar mais à frente o ónus de uma taxa de desemprego brutal, com as inerentes consequências sociais. Apoiar hoje as empresas é salvar milhares de empregos.
Outros dos pontos críticos é a acessibilidade aérea, que tem de ser olhada com a maior atenção, porque dela depende em grande medida a capacidade de retomar a economia.
Isto porque a instabilidade gerada pela pandemia ao nível do transporte aéreo, associada às dificuldades de canais de comercialização e distribuição de férias, dificultarão um regresso à normalidade no curto e mesmo no médio prazo.
Torna-se também essencial investir em campanhas de promoção, realçando os níveis de segurança face a destinos concorrenciais, dado que a retoma surgirá com o restabelecimento dos níveis de confiança junto dos consumidores de férias.
Em variados sítios pode-se ler que o investimento imobiliário será, provavelmente, um dos vencedores da crise. Concorda com esta afirmação?
Sobre o crescimento sustentado da ampla fileira das atividades imobiliárias, creio que a postura mais adequada será a de um otimismo cauteloso.
Há que apostar sempre na qualidade dos serviços, numa irrepreensível postura de transparência, na formação e na aquisição de knowhow, na criação de oportunidades para trabalhar em rede.
Neste novo normal e perante a recessão que se prevê mundial, empresas, promotores, instituições públicas e financeiras não podem ignorar a importância de se considerarem essenciais medidas inovadoras na estratégia empresarial e decisões concretas, que tenham por objetivo o crescimento sustentado da ampla fileira das atividades imobiliárias.
Comparativamente a tempos anteriores – mais estáveis e seguros –, quais são as principais mudanças que realça, no que diz respeito à oferta e venda de imóveis?
Consideramos essencial intensificar e até redescobrir outras ferramentas que nos permitam uma maior proximidade aos clientes, mas também nos obrigarão a ter melhores ferramentas de trabalho à distância.
Importa ainda um olhar atento às novas exigências dos investidores, alavancadas por diferentes realidades sociais, pela emergência de outros mercados de procura, mas também à adequação da oferta imobiliária já que, atualmente, para lá do preço, os nossos clientes exigem qualidade de vida e conforto, preocupam-se com a segurança e pretendem práticas ambientais sustentáveis.
Por exemplo, a equação tradição versus inovação no turismo: assim como devemos continuar a apostar nos valores seguros do sol, praia e golfe, importa igualmente diversificar por outras ofertas na área da cultura e ambiente.
Creio que a equação tradição/inovação já tem vindo a ser resolvida pelos empresários. Contudo, acredito que só terão sucesso os promotores e com eles as mediadoras que assumirem a necessidade de garantir o crescimento sustentável das suas atividades, tendo em conta as alterações socioeconómicas e as atuais exigências dos viajantes.
A crise sanitária mundial veio acelerar ainda mais o alargamento da Base Motivacional das viagens, e este novo imaginário tem inevitavelmente provocado o nascimento de novas formas de Turismo.
É essencial identificar as várias componentes dum ramo emergente de negócios turísticos muito diversificado, e nestes, os que melhor criem valor, tendo em conta as especificidades e mais-valias do Algarve.
Em minha opinião, chegou a altura de começar a delinear estratégias e definir projetos concretos de como fazer, agora que há uma maior consciência das alterações que têm surgido nos últimos anos.
Articular tradição/inovação é um elemento-chave para promover a dissociação entre o crescimento económico e o aumento no consumo de recursos, até aqui uma relação tradicionalmente vista como inexorável.
Serão importantes novos projetos, mas com diferentes valências, para atrair investidores, de forma a termos uma resposta competitivamente forte, quando se regularizarem as acessibilidades aéreas.
E para esta nova oferta, há territórios até aqui não considerados, que nos permitirão diversificar, como por exemplo a reabilitação nos núcleos históricos das cidades, os condomínios direcionados para a procura de residência na reforma, que permitiriam e promotores e às empresas gerar maior impacto económico.
Creio ser determinante em termos de crescimento sustentado, impulsionar propostas urbanas prestigiantes, como tem feito a Garvetur em cidades, entre outras, como Faro e Tavira, que valorizem uma imagem de singularidade, tendo em conta o mercado do Turismo Residencial e a promoção de novos projetos, para captar investidores cuja vinda terá forte impacto na economia regional e nacional.
O selo Clean & Safe pretende incentivar a retoma do turismo em Portugal, tendo já inúmeras empresas sido reconhecidas como tal. Na sua opinião, é legítimo afirmar que haverá um aumento no empreendimento de luxo com novos conceitos de qualidade?
Sem negar a importância do selo Clean & Safe, cujo objetivo é qualificar o nosso país enquanto destino seguro, não associaria de forma tão perentória a iniciativa Clean & Safe, como uma tendência marcante para novos produtos imobiliários destinados ao mercado prime.
O surgimento de ativos, designadamente no mercado prime, é uma tendência que se começou a delinear logo que se esgotaram as propriedades remanescentes da crise financeira mundial (2008/2013). A Garvetur iniciou de imediato a estratégia de antecipar o investimento onde têm surgido novas ofertas dos promotores nos diversos segmentos, habitacional ou comercial.
Esta tendência, não descarta todavia a maior atenção por parte das instituições para a importância do país manter fatores como o alto nível de segurança, leis fiscais favoráveis e, no caso do Algarve, maior investimento no setor da saúde, de extrema importância para o mercado sénior, assim como um reforço na promoção, para que se concretize a alta rendibilidade do investimento imobiliário e se mantenha e reforce a animação do mercado.
Quais são as tendências para os mercados que a Garvetur engloba após a pandemia? Apesar do clima insatisfatório, acredita que é possível afirmar que ainda há espaço para expetativas positivas?
Ter uma perspetiva clara sobre as tendências dos mercados após a pandemia, seria a pergunta cuja resposta acertada valeria um milhão de dólares. Descontando a ironia, no atual contexto de grande instabilidade será avisado aguardar o estabilizar da situação e evitar tanto as especulações, quanto as opiniões alarmistas, ou mesmo as previsões, que em nada contribuem para se encontrarem estratégias que nos permitam responder às alterações futuras.
Como já referi em perguntas anteriores, a Garvetur | Enolagest, SGPS antecipou estratégias para as empresas participadas, já o que mais nos motiva é a capacidade da nossa organização em desenvolver planos que se mostram adequadas ao crescimento sustentado das nossas atividades.
Em termos de Recursos Humanos, por exemplo, as empresas do Grupo Enolagest têm em posições de chefia mais mulheres do que homens, reconhecendo não o género, mas a sua capacidade de trabalho e dedicação.
Estamos ainda apostados na melhoria da qualidade dos serviços complementares prestados aos nossos clientes em diversas áreas diretamente ligadas à imobiliária, como a gestão e rentabilização do imóvel, ou ainda a decoração interior e exterior, renovações e remodelações dos imóveis, aconselhamento fiscal e jurídico, além de disponibilizar outras soluções solicitadas pelos nossos proprietários.
Continuamos nesta crise tão aguda cautelosamente otimistas, prevendo um crescimento sustentado, ainda que num prazo mais alargado. Um objetivo que é possível alcançar em função da consolidação das alterações introduzidas na gestão e objetivos das empresas, numa conjuntura de retoma da economia mundial, nacional e regional, em particular da atividade turística, cujo ciclo de investimento e serviços as nossas empresas abrangem na totalidade.
Porém, não posso deixar de acentuar que para lá da crise sanitária mundial que se fará sentir em todas as economias, teremos ainda de enfrentar o Brexit, embora os estudos já realizados, nomeadamente pelo Banco de Portugal e o Turismo de Portugal, entre outros, Portugal não será dos países mais afetados.
O processo de saída do Reino Unido da União Europeia, iniciado em 2016 e só parcialmente concluído, embora já esteja formalmente decidido com a saída do Reino Unido (RU) desde 31 de janeiro de 2020, entra agora na fase de negociação das futuras relações entre o RU e a União Europeia.
Com efeito e em função do clima de indecisão e da desvalorização da libra, o Brexit influenciou já os resultados da indústria turística e do Turismo residencial, considerando a importância que o mercado britânico tem tido tradicionalmente, em especial no Algarve (e igualmente na Madeira). Manteve-se, no entanto, o crescimento do setor, embora se tenha registado um abrandamento, pelo que eu arriscaria afirmar que o setor soube encontrar soluções.
Com impacto ainda não quantificado, a desvalorização da libra e as perspetivas de quebra da economia do Reino Unido que irão tirar poder de compra aos britânicos, é uma das questões para a qual teremos de contrapor uma estratégia de promoção e notoriedade do nosso País, a par das vantagens em investir.
É habitual dizer-se que “das adversidades surgem as oportunidades”, assim, no que concerne ao meio envolvente da Garvetur e aos serviços que prestam, surgiram novas ideias e oportunidades? O que nos pode revelar?
Como não me canso de referir, se juntarmos as qualidades há muito reconhecidas do país, e em especial do Algarve, que asseguram qualidade de vida, comparativamente a outros destinos, temos um pacote imbatível, quando se trata de atrair o interesse dos investidores internacionais em comprar casa, quer seja para habitação própria, residência de férias ou rendimento.
Concluo reafirmando que temos, enquanto País e em especial no Algarve, uma oferta competitiva, favorável à retoma da economia na ampla fileira de atividades abrangidas pelo imobiliário, com um desafio que permita não só fazer mais, como fazer melhor:
Entre acelerar o processo de inovação e diferenciação de produtos e serviços, simplificar processos e criar recursos para comunicar com o investidor no momento e local de decisão de compra, a Garvetur nunca descurou a qualidade dos serviços, numa irrepreensível postura de transparência, na formação e na aquisição de know how, na criação de oportunidades para trabalhar em rede.