A APSA abraça a missão de promover o apoio e a integração social das pessoas com Síndrome de Asperger – uma perturbação do espetro do autismo, na qual não há défice cognitivo e que se manifesta, sobretudo, por alterações na interação social -, facultando as condições necessárias para uma vida autónoma e digna.
Todas as classes etárias são obviamente dignas de pertencer a esta Associação, no entanto, Piedade Líbano Monteiro, explicou-nos que o projeto Casa Grande, tendo um espaço único, inovador e diferenciador, capacitando pessoas com Síndrome de Asperger para a sua autonomia, empregabilidade, inclusão social e comunitária, é direcionado para o jovem adulto uma vez que, para a nossa entrevistada, há uma lacuna de respostas. “O nosso grande objetivo é o futuro. Sentimos que não há resposta em Portugal para casos de passagem de escola para a vida ativa, o que me leva a crer que ainda temos um longo caminho a percorrer”, esclarece. Assim, a APSA fornece o apoio e as ferramentas fundamentais para os encaminhar à empregabilidade e à vida ativa.
Não sendo uma entidade clínica, a APSA oferece um plano de aconselhamento, nomeadamente com o projeto Gaivota, que tem por base a divulgação e sensibilização do tema nas escolas, no âmbito nacional. “É necessário ir às escolas explicar do que se trata a Síndrome de Asperger, apoiar os pais nos seus direitos e deveres, o que se fazer e onde”, afirma Piedade Líbano Monteiro, acrescentando ainda que “se realizam nas primeiras quintas-feiras de cada mês – de dois em dois meses – um “Encontro de Pais”, onde prevalece o apoio por parte da Associação e posterior esclarecimento de dúvidas”. Além deste plano, está implementada ainda a consulta “Escutar e Orientar”, sendo também ela um acompanhamento aos jovens e às suas famílias de cariz mais técnico, e todas as segundas-feiras, a Presidente da APSA dá um “Tempo de Pais” estando disponível para ouvir toda e qualquer pessoa e então direciona-la para o seu caminho. Porque, para Piedade Líbano Monteiro, há sempre um melhor e mais bonito caminho, cintando a própria “basta querer e acreditar”.
Dar um futuro positivo a estes jovens é a prioridade e muitos são os casos de sucesso que a nossa entrevistada nos confidenciou. “Alguns, hoje em dia, já têm a carta de condução e vêm até à Casa Grande no seu próprio carro”, mas não só. Várias são as parcerias que a APSA mantém, no que ao Programa Empregabilidade diz respeito. “Cabe-nos a nós criar segurança às empresas – nossas parceiras -, explicar-lhes do que se trata a Síndrome de Asperger e lembrá-las de que nunca estarão sozinhas. Costumo dizer que somos como um drone, quando precisam de nós, assentamos. Mesmo que não seja necessário, andamos ali a pairar”. Ao todo são já 23 as Empresas Recetivas, que dão condições de trabalho sustentáveis. Quer isto dizer que, muitos são os jovens que começam com formações ou estágios profissionais e acabam com contratos de trabalho. “Tudo isto está ligado à saúde mental. Estamos a falar de jovens que há dois ou três anos não saíam de casa e hoje estão, por exemplo, nos quadros do Santander”, afirma orgulhosamente Piedade Líbano Monteiro. Assim, não estando clinicamente ligada à saúde mental, a APSA age na sua prevenção e em defesa da mesma, na medida em que previne determinadas comorbolidades que podem muitas vezes desenvolver-se sem o devido acompanhamento, como por exemplo a depressão.
“TEMOS DE COLOCAR O CORAÇÃO NO BEM-ESTAR COMUM”
«Resiliência» é a palavra de ordem quando se fala na equipa APSA. A nossa interveniente não conseguiu esconder quão gratificante é, para si, trabalhar com pessoas que se dedicam a 100 por cento a este projeto, ainda que em tempos mais adversos como o que atualmente atravessamos. Para Piedade Líbano Monteiro “a pandemia foi uma forma de nos redescobrirmos e de percebermos a força que temos”.
No que concerne às consequências da COVID-19, desde logo, adotaram as diretrizes da Direção-Geral de Saúde, tendo sido criada uma sala de isolamento e claro está, foram implementados todos cuidados de distanciamento e higienização contemplados no plano de contingência da APSA. Contudo, com o passar dos dias a Presidente da Associação, percebeu que, para garantir a segurança de todos seria necessário fechar as portas das instalações – mais concretamente, no dia 13 de março, antes da vontade governamental.
Interessa compreender de que forma os jovens e as suas famílias continuaram a ser acompanhadas e podemos referir que o cenário não podia ser mais positivo uma vez que, não só não pararam com as atividades habituais como nasceram outras: ateliês de teatro, expressão plástica, música, informática, são alguns dos exemplos. Tudo isto, obviamente, em cada residência, via online e com total dedicação e disponibilidade da equipa técnica da APSA. Às famílias que não tinham possibilidade de fornecer aos seus filhos as condições necessárias para a prática destas atividades, foi dividido todo o material incorporado na Casa Grande, e rapidamente entregue às mesmas. Nas mensalidades, foi feito ainda um desconto de 5 por cento.
Nunca – e em qualquer situação – as famílias deixaram de ser uma prioridade. “Nós moldamos a vela ao sabor do vento”, afirma Piedade Líbano Monteiro, e é verdade. Em plena pandemia, a APSA editou e publicou um livro intitulado por “Super Aspie” – uma história que fica na memória, mas principalmente no coração. ▪