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Portugal e Luxemburgo interligados

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Portugal e Luxemburgo interligados

Cabe ao Ministério dos Negócios Estrangeiros assegurar a representação do Estado português junto de outros países e de organizações internacionais, através da sua Rede Externa de embaixadas, missões permanentes e postos consulares. Deste modo, qual é a missão a que se presta diariamente na Embaixada de Portugal no Luxemburgo?
A missão desta Embaixada é a de velar e promover os interesses bilaterais, com incidência europeia e com expressão internacional do Estado português, que se formalizam através de textos políticos ou jurídicos sobre diversas matérias não cobertas pela União Europeia; é a de organizar visitas de alto nível ou negociar acordos para atingir fins específicos. Posso dizer, neste quadro, que a relação entre os governantes e os povos dos dois países é excelente, sem qualquer “irritante”.
A existência da maior Comunidade Portuguesa “por metro quadrado”, mais de 100.000 mil nacionais que aqui residem e trabalham há várias gerações e de diferentes origens, é a outra grande área de actuação e interesse deste posto diplomático, pois importa defender os seus direitos de integração aqui, sobretudo ao nível dos direitos à educação e sociais, assim como aproveitar o seu dinamismo e sucesso para reforçar a ligação com Portugal em vários domínios.

Elevar a relação bilateral da sociedade civil portuguesa, luso-descendente e luxemburguesa é um dos maiores objetivos. Como a pode descrever atualmente e que evolução realça no que concerne à proximidade entre as mesmas?
Sim, é um dos dois maiores objectivos, mas não é exclusivo da acção desta Embaixada, que é complementada pela existência de um Consulado-Geral que trata dos problemas consulares da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo.
Questões como a integração dos nacionais portugueses, nomeadamente através de um processo de os levar a participar civicamente e a exercer a sua cidadania no Grão-Ducado, que muitos luso-descendentes conseguiram, sem esquecer as suas raízes, de forma a que a Comunidade Portuguesa possa ter um papel localmente proporcional ao seu número, são fundamentais na acção da Embaixada.
Mas é preciso ter presente que os interesses e a composição da Comunidade Portuguesa – os que trabalham para as instituições europeias, os que trabalham no sector dos serviços e os que trabalham nos sectores da construção civil, limpezas e restauração – nem sempre coincidem, dificultando o objectivo acima enunciado, sendo este último segmento o mais desprotegido e o que merece a nossa maior atenção.
A relação com os luxemburgueses é boa, mas ainda algo estereotipada em relação a alguns segmentos de portugueses, que tentamos alterar, envolvendo a nossa Comunidade em actividades luxemburguesas e promovendo acções culturais conjuntas.

De que forma a promoção da cultura portuguesa é reforçada no Luxemburgo, ao mesmo tempo que ajudam a internacionalizar agentes culturais nacionais?
A promoção da cultura portuguesa é um trabalho conjunto entre a Embaixada, o Instituto Camões (através do Centro Cultural e da Coordenação de Ensino), as Associações locais com cariz cultural e os diferentes agentes culturais das Comunidades Portuguesa e Luxemburguesa que participam nas nossas actividades.
Por um lado, tentamos trazer de Portugal actores culturais consagrados e outros que pretendemos internacionalizar, apoiando gente mais jovem e, por outro, tentamos aproveitar o que de melhor a Comunidade Portuguesa e luso-luxemburguesa aqui tem, divulgando o seu trabalho num contexto de um plano de actividades anual. A crise sanitária provocada pelo Covid-19 fez aliás com que tenhamos recorrido mais à Comunidade Portuguesa devido às dificuldades em viajar na Europa.

Que vantagens aponta ao trabalho desenvolvido no apoio aos empresários, quer em Portugal, quer no Luxemburgo?
O apoio aos empresários é infelizmente distante, porque não é feito a partir desta Embaixada, mas pela delegação da AICEP em Bruxelas. O contacto torna-se mais difícil e os conflitos positivo ou negativo de competências podem ser um problema.
Por outo lado, a maioria dos empresários portugueses esquece-se ou não conhece que o Luxemburgo é a capital económica da Grande Região (que engloba, para além do Grão-Ducado, o Leste da França, o Sul da Bélgica e o Oeste da Alemanha), área geográfica onde vivem 11,6 milhões de consumidores, sendo responsável por 25% do PIB da União Europeia.
Para além das exportações para o mercado étnico, existe um enorme caminho a percorrer para levar o relacionamento económico bilateral a novos patamares, como o digital, os serviços financeiros, o ambiente, a saúde e o turismo. Esperemos que uma próxima visita de alto nível, que esteve agendada para maio do ano passado, mas que foi cancelada devido ao Covid-19, se concretize e que ela fixe na agenda económica bilateral estes novos domínios.
Ao nível do Luxemburgo, sei que um conjunto de empreendedores portugueses estão a constituir uma estrutura flexível, desburocratizada e dinâmica para poder fazer de interface entre o Luxemburgo, a Grande-Região e Portugal.

Atualmente, muitos são os portugueses a ocupar cargos de gestão e liderança no Luxemburgo, fazendo com que a ligação com Portugal se torne mais visível e fulcral. Que benefícios analisa, considerando tal vínculo?
Considero fundamental esta inserção de portugueses ou luso-descendentes em cargos de direcção e liderança neste país, pois dão uma imagem mais moderna da nossa emigração, acabando com estereótipos que ainda existem, influenciam os nossos interesses e promovem uma maior aproximação do Grão-Ducado ao nosso país. Infelizmente ainda são poucos. Mas são muito mais e em áreas mais diversificadas do que em 2011.
Contudo, ao nível político, é preciso mais unidade por parte da Comunidade Portuguesa que, como disse, deve participar mais no plano cívico e do exercício dos seus direitos de cidadania, no contexto da vida politica luxemburguesa. O ex-VPM e Ministro da Justiça, Félix Braz, é um exemplo a seguir.

Vivemos atual e mundialmente um momento atípico estabelecido pela Covid-19. Fazendo uma análise mais profunda, qual foi impacto que a pandemia causou nos negócios entre os dois países e que soluções prevê no futuro?
A pandemia desacelerou todas actividades económicas e turísticas, assim como as visitas dos emigrantes às suas famílias em Portugal. As informações alarmistas sobre o coronavírus, o restabelecimento de fronteiras, a introdução de corredores aéreos (com muitas companhias aéreas no “chão”) e listas negras ajudaram muito a dificultar e a diminuir a circulação de pessoas e bens. Uma quantidade enorme de “fake news” contribuíram também para agravar esta situação.
As relações entre Portugal e o Luxemburgo não escaparam a este ambiente. Mas são mais resilientes pela existência de uma grande Comunidade Portuguesa e por uma vontade genuína da parte dos dois governos em abordar em comum problemas sobre os quais não têm divergências, nomeadamente ao nível da União Europeia. A recuperação será lenta e depende de incógnitas que os diferentes actores não conhecem – como o aparecimento de uma vacina ou de um antiviral – mas penso que já se percebeu que a economia e as empresas não podem parar e que o pilar social tem que se proteger e reforçar.

Certamente que, na atividade da Embaixada houve, de igual forma, constrangimentos no atendimento em muitos dos serviços. Que necessidades extraordinárias surgiram e que soluções foram aplicadas?
Evidentemente. Mas desde o estado de emergência, aqui declarado em 17 de março, até hoje, os serviços que a Embaixada tutela nunca estiveram fechados. Numa primeira fase, trabalhámos em serviços mínimos; numa segunda fase abrimos gradualmente e estamos desde maio a trabalhar a tempo inteiro, mas com duas restrições a que não podemos escapar: i) todos os funcionários e utentes utilizam máscaras e higienizam as mãos; ii) a obrigação de manutenção do distanciamento social é cumprida.
Estas obrigações, legais tanto em Portugal como no Luxemburgo, têm como consequência o menor atendimento de utentes; para compensar em certa medida esta situação, adoptámos outro tipo de procedimentos, como o atendimento à distância (via e-mail e telefone) ou a remessa de documentos pelo correio local.

Com um olhar positivo no futuro e sob a forma de encorajamento, que mensagem gostaria de deixar aos cidadãos?
A minha primeira mensagem é a de que cumpram os “gestos barreira” para se protegerem do Covid-19.
A segunda é a de que temos que aprender a viver com o coronavírus, mas sem baixar a guarda. Mas não deixem de exigir o que têm direito. Contem é talvez com uma maior demora na resposta dos serviços às suas solicitações e por isso peço-lhes maior paciência, o que compreendo não ser fácil.
A terceira é a de que não deixem de se unir e de participar civicamente e exercer os seus direitos de cidadania no Grão-Ducado para que a Comunidade Portuguesa ou luso-descendente possa ter uma representação política proporcional ao seu número, enquanto a comunidade estrangeira mais numerosa no Luxemburgo.