
A Mental Health Clinic Isabel Henriques tem como missão desenvolver e oferecer um serviço de qualidade técnica e humana, visando o bem-estar e felicidade de cada um. Como nos pode descrever a vossa metodologia de trabalho e que valores vos fazem primar pela diferença?
O nosso trabalho é desenvolvido tendo como prioridade o bem-estar de quem nos procura. Se tivermos que nos lembrar do princípio básico de Hipócrates transmitido aos médicos de “primeiro que tudo, não causar qualquer dano”, nós gostaríamos de pensar que o nosso pilar é fazermos algum bem estabelecendo uma relação com o paciente. O sentimento que gostamos de transmitir a uma pessoa que nos procura, depois do primeiro encontro, é a esperança. Esperança que haja uma solução, que haja possibilidade de tudo melhorar.
Uma expectativa positiva é vital para que os resultados sejam positivos, mesmo que a esperança esteja a ser canalizada do simples facto de alguém se preocupar com ela, de alguém a estar a ouvir. Na maioria dos casos, uma relação terapêutica forte e bem cultivada é a melhor base para resultados terapêuticos eficazes. Mas, claro, nós podemos oferecer muito mais do que isso e assim o fazemos a partir dessa base segura.
Valorizamos o cuidado e a atenção para com a pessoa que nos procura. Tentamos procurar a humanidade em cada um. Ver o outro apenas como outro humano que sofre, fica confuso e perdido muitas vezes, perde o sentido da vida, ri, chora, tem sonhos, frustrações e ressentimentos e sente-se um falhado de tempos em tempos. Tendo a capacidade de assim ver o outro, conseguimos projetar a compaixão que este necessita, ao mesmo tempo que não nos permitimos emaranhar com a sua história ao ponto de deixarmos ver com clareza soluções e metas.
Dentro da casa Mental Health Clinic Isabel Henriques podemos contar com espaços terapêuticos, pautados por confiança, conforto e harmonia. Que serviços têm ao dispor de quem vos procura e de que forma estes espaços têm tremendo destaque?
Os nossos espaços foram desenhados para que tanto nós como os nossos pacientes nos sintamos confortáveis e bem acolhidos. É a nossa segunda casa e esperamos que também seja um local seguro para os pacientes – um local que permite uma pequena cisão no reboliço do seu dia-a-dia, uma pausa para reflexão e trabalho no “Eu”.
Destacamo-nos de tantos outros provedores de Psicologia Clínica mais tradicionais estabelecidos nos Países Baixos – onde se situa a nossa sede – e em Portugal, no sentido em que trazemos para os pacientes um sentimento de lar que pensamos que se transmite não só nos nossos espaços físicos, mas também na nossa forma de os receber. Procuramos colocar o nosso calor humano em cada interação e isso é notado e apreciado pelos pacientes.
Os nossos serviços incluem a Psicoterapia Individual do Adulto, Psicoterapia Infantil, Terapia de Casal, Terapia de Família, avaliação (neuro)psicológica e Mindfulness. Ademais, procuramos organizar workshops e fomentar a criação
de um sentido de união e de ensinamentos a partir do grupo – a terapia de grupo está neste momento suspensa devido à situação atual em que nos encontramos (covid-19), porém esperamos poder retomá-la no próximo ano.
A 10 de outubro celebra-se o Dia Mundial da Saúde Mental, cujo objetivo é, além da sensibilização do tema, identificá-lo como uma causa comum. Na sua perspetiva, como considera que está a saúde mental dos portugueses? É de notar uma evolução sobre o tema ao longo dos tempos?
A criação de um Dia Mundial da Saúde Mental permite que a discussão sobre a saúde psicológica seja colocada em cima da mesa. Dar oportunidade e diminuir a discriminação das pessoas com problemas de saúde psicológica através da criação de um espaço onde podemos partilhar sem vergonha e culpa as nossas experiências.
Apesar da comunidade estar cada vez mais atenta para as questões de saúde mental é, ainda, notório que existem noções e atitudes de discriminação e estigma. Principalmente entre os portugueses, notamos que é com dificuldade que uma pessoa admite a si própria e aos outros que pode estar a precisar de ajuda psicológica. Infelizmente, esta procura ainda é vista demasiadas vezes como uma fraqueza. E mesmo procurando essa ajuda, não é comum ouvirmos alguém comentar que vai ao psicólogo da mesma forma que comenta que vai ao fisioterapeuta.
É vital falar abertamente sobre o que significa ter problemas psicológicos, o impacto que isso tem nas nossas vidas e em quem nos rodeia. É necessário fazê-lo sem medo, vergonha, culpa ou com a sensação de que estamos a falhar de alguma forma. Temos de fomentar uma visão diferente da saúde, ultrapassar o dualismo entre saúde física e mental, e a melhor forma de o fazer é através de uma educação para a saúde no seu todo e encorajar a procura de ajuda a um acesso precoce, disponível para todos.
É com esperança e simultaneamente com frustração que vamos observando as mudanças que se vão operando na sociedade quando de fala de saúde mental. Frustração pela morosidade das mudanças. Esperança por percebermos as pequenas transformações.
Tendo em conta a atual situação pandémica da COVID-19, é de salientar as suas fortes consequências económicas, mas não só. Acredita que é inegável afirmar que está a ter também um impacto extremamente negativo na saúde mental das pessoas? Na sua opinião, o tema ganhou maior consciencialização na sociedade?
É completamente inegável o impacto negativo na saúde mental das pessoas. Nós sabemos que para que uma pessoa esteja “saudável” ela necessita de ter satisfeitas várias necessidades básicas humanas, entre elas, a necessidade de suporte e de uma rede social/familiar, a necessidade de um lar, de um porto seguro, de um propósito para a sua vida, objetivos, significado e atividades que os cultivem.
Julgo que a situação pandémica ajudou a que o tema da saúde mental tenha conquistado maior consciencialização na sociedade, dado nós termos todos apercebido o quão frágil o nosso sentido de controlo e de previsão do mundo realmente é. O quanto pode ficar abalado de um momento para o outro e o quanto nos pode deixar sem chão. Nestes momentos, a clareza de uma perspetiva externa treinada pode providenciar um insight ao problema e apresentar soluções que a pessoa não considerou por se encontrar tão envolvida emocionalmente.
Ainda assim, penso que demorará o seu tempo até que medidas reais sejam tomadas no sentido dos psicólogos terem um papel mais ativo na sociedade e na promoção da saúde. As prioridades não deixarão de estar na recuperação económica e no fomento do emprego e ajuda às empresas, assim como na valorização do trabalho médico. Talvez depois haja espaço para ser lançado um olhar atento ao papel dos psicólogos e ele seja promovido nos sistemas de saúde.
Existem hábitos que podem ser cultivados para atenuar sentimentos de angústia e ansiedade, durante um período de tempo mais complexo, como o que vivemos atualmente? O que recomendaria?
Mais do que nunca, diria ser indispensável cultivarmos os nossos bons hábitos de auto-cuidado. Conseguirmos escutar o nosso corpo, os sinais que ele envia, assim como, escutar e compreender as raízes dos nossos sentimentos é uma capacidade que todos nós devemos desenvolver – essa capacidade não nasce connosco e, incrivelmente, nós somos capazes de estar totalmente inconscientes de grande parte das coisas que se passam dentro de nós ou mesmo de (tentar) mentir a nós próprios.
Assim sendo, se formos capazes de nos entender a um nível profundo, vamos saber quando estamos a abusar das horas de trabalho, quando estamos a descurar tempo com a família e amigos, quando o momento presente se está a tornar demasiado avassalador e quando talvez seja hora de fazer uma pausa. O que vejo é que uma e outra vez, as pessoas têm uma capacidade de adaptação extraordinária, e se os primeiros meses de pandemia foram algo caóticos enquanto tentávamos ajustar a uma realidade diferente, agora sinto que grande parte das pessoas tomou as rédeas da sua vida e vê até alguns benefícios nesta nova forma de viver. Claro que, ainda assim, existem muitos condicionamentos e toda esta adaptação está de certa forma dependente de um controlo apertado das nossas rotinas.
Incentivo as pessoas a manterem horários bem estabelecidos de sono, trabalho, exercício físico e alimentação, sendo essa a base para um dia-a-dia vivido com saúde. A partir daí, apostar nos momentos de relaxamento, no autocuidado (não esquecermos de nos vestir da forma que nos faça sentir bem, por exemplo) e nos momentos com pessoas significativas. São estas pequenas coisas que nos ajudam a viver o momento presente de forma mais intensa. É igualmente importante procurarmos ativamente estar envolvidos nesses momentos, não permitindo que os nossos pensamentos voem para o que poderá acontecer no futuro ou não. Como todos podemos concluir, poucas coisas estão efetivamente sob o nosso controlo e, portanto, é imperativo libertarmo-nos do peso de todas as outras que não estão.
Que papel a Mental Health Clinic Isabel Henriques pretende assumir nesta fase controversa, no que diz respeito à forma de atuar junto dos pacientes?
A Mental Health Clinic Isabel Henriques pretende continuar a cumprir o seu papel de apoio ao indivíduo e ao sistema familiar, fomentando a importância da saúde mental e providenciando as ferramentas necessárias para a atingir de modo sustentável. A nossa forma de atuar também sofreu adaptações durante os passados meses deste ano, tendo nós apostado mais fortemente nas consultas online que até então eram escassas. Neste momento, muitos dos nossos pacientes procuram ainda este meio de consulta, evitando o rebuliço de pessoas que os grandes centros urbanos acabam sempre por acarretar.
Esta mudança permitiu-nos também alargar o nosso raio geográfico de atuação, sendo que conseguimos passar a receber novos pacientes de vários pontos da Europa, portugueses – emigrantes ou não – e estrangeiros.
Também durante o período de confinamento procurámos diferentes formas de chegar ao máximo número de pessoas possível de forma gratuita. Desenvolvemos o Fórum Psicológico nas nossas redes sociais, onde duas vezes por semana umas das nossas psicólogas apresentava em direto um tema relacionado com a Psicologia e a saúde mental e onde estas respondiam a perguntas colocadas pelos nossos seguidores. O objetivo foi poder ajudar aqueles que não são pacientes e que não têm um fácil acesso a consultas de Psicologia, dando-lhes espaço para colocarem dúvidas e sugerirem temas a abordar no fórum seguinte.
Sentimos que cumprimos o nosso papel como promotores de saúde mental num período em que todos sentimos uma espécie de sentimento global de união na incerteza.
A vossa voz é fundamental neste processo de adaptação, assim, gostaria de deixar uma mensagem de incentivo aos nossos leitores?
Não deixem de procurar ajuda psicológica se notarem que o que vos impede são as possíveis opiniões alheias. Porventura, será útil olharem para dentro de vós e se perguntarem se não serão vós mesmos quem se está a julgar logo à partida. Libertem-se dos estigmas e pré-conceções e garanto-vos que a Psicologia vos poderá surpreender. Permitam-se essa oportunidade de crescimento.