Início Atualidade “A LUTA CONTRA O CANCRO FAZ-SE TODOS OS DIAS. AFINAL, SOMOS TODOS POR TODOS”

“A LUTA CONTRA O CANCRO FAZ-SE TODOS OS DIAS. AFINAL, SOMOS TODOS POR TODOS”

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“A LUTA CONTRA O CANCRO FAZ-SE TODOS OS DIAS. AFINAL, SOMOS TODOS POR TODOS”

Ao longo de 80 anos, a Liga Portuguesa Contra o Cancro assume-se como uma entidade de referência nacional no apoio ao doente oncológico e família, na promoção da saúde, na prevenção do cancro e no estímulo à formação e investigação em oncologia. Enquanto Presidente da mesma, qual é o balanço que faz de todos estes anos de dedicação, solidariedade e humanização?
A Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC) tem tido, desde a sua fundação, e decorrente do seu ADN, uma constante ação de apoio ao doente oncológico e ao seu familiar. Esta é a atividade fulcral da LPCC, alicerçada numa rede nacional, regional e local de voluntários– hospitalares, comunitários, movimentos de entreajuda -, numa descentralização das suas tarefas, possível pela solidariedade financeira da população que lhe confia verbas que depois lhes são devolvidas em programas de apoio estruturados.
As outras funções da LPCC são decorrentes da evolução da sociedade, de posteriores desafios da problemática da doença oncológica e conducentes ao seu eficaz controlo. Na verdade, a promoção da saúde é, cada vez, mais uma necessidade, a prevenção secundária cada vez mais real e eficiente, a formação e investigação em oncologia nucleares no desenvolvimento da literacia em saúde dos profissionais e no constante avanço da ciência
A crescente focalização dos recursos na atenção ao doente e à sua família na deteção precoce da doença, culminou (entre outros) numa das mais importantes iniciativas da Liga: o Programa Nacional de Rastreio de Cancro.

Quão importante significa haver na sociedade atual esta ajuda permanente? Que outros apoios são facultados?
O rastreio de cancro da mama, iniciado em 1990 na região centro (após um projeto piloto implementado em 1986) tornou-se uma das atividades mais visíveis da LPCC. A partir da colaboração europeia com programas semelhantes, do apoio entusiasta da população e dos cuidados de saúde primários, das instituições hospitalares e das autoridades de saúde, foi sendo possível estendê-lo, progressivamente, a quase todo o país, permitindo a deteção muito precoce de cancros da mama feminina, e tendo, como resultado, um enorme aumento da sobrevivência das doentes e da sua qualidade de vida. Tem sido um exemplo no qual se têm baseado programas de rastreio oncológico, nomeadamente do cancro do colo do útero e do cancro do cólon e reto, estes com menor expressão ainda, devido a características operacionais particulares.
O Dia Mundial do Cancro foi instituído a 4 de fevereiro de 2000, no âmbito do World Summit Against Cancer for the New Millenium em Paris. Desde então, comemora-se anualmente, por iniciativa da União Internacional de Controlo do Cancro, tendo como principal objetivo sensibilizar a população mundial e mobilizá-la nesta luta, assim como desmistificar algumas ideias pré-concebidas e informar sobre os factos reais. Como nos pode descrever a evolução de mentalidades ao que à doença diz respeito? Acredita que, atualmente, existe uma maior consciencialização, nomeadamente na importância dos rastreios, por exemplo?
A evolução (positiva) da perceção da população relativamente à problemática oncológica tem sido enorme. Desde a ideia de que o cancro “era uma sentença de morte” evolui-se para a noção de que é possível prevenir o cancro, diagnosticá-lo precocemente, tratá-lo eficazmente e viver o dia-a-dia com bastante normalidade. O cancro está a tornar-se, felizmente, uma doença crónica.

A cada ano, o Dia Mundial do Cancro, torna-se cada vez mais um poderoso movimento que inspira indivíduos, comunidades e organizações a sensibilizar e a agir no sentido de reduzir o impacto global da doença. Assim, certamente, são já conhecidos os resultados desta iniciativa? Considera que se tornou indispensável, pelos excelentes frutos que tem presenteado?
Efemérides deste tipo são sempre importantes para que a temática não seja esquecida, se destruam mitos e falso conhecimento e que as pessoas se consciencializem de que a manutenção da sua saúde é, sobretudo, um papel que lhes pertence.

Além disso, é substancial que não nos esqueçamos da importância e conhecimento diário (não apenas no dia 4 de fevereiro), quanto ao cancro – uma doença que exige investigação constante. Considera que existem investimentos adequados e suficientes, que permitam implementar programas sistematizados junto da sociedade ao longo do ano?
A investigação é fundamental. Mas ela é cara e demorada, tem as suas etapas perfeitamente identificadas e cabe à sociedade decidir quanto deve alocar a esta área em termos de investimento, nomeadamente em recursos humanos e materiais. O investimento não é barato, mas tem um retorno altamente compensador, embora ele, geralmente, apenas seja visível a médio e a longo prazo.

Por fim, gostaria de deixar uma mensagem aos nossos leitores e (re)lembrar assim a forte presença da Liga Portuguesa Contra o Cancro e a sua permanente missão?
Gostaria de, sucintamente, lembrar que a solidariedade humana é fundamental, nomeadamente nos momentos em que cada um mais precisa. Que os recursos materiais são importantes, mas não conseguem substituir o carinho e o apoio – de todo o tipo – que qualquer doente, nomeadamente o oncológico, necessita, sobretudo nos piores momentos. Que estes devem ser auxiliados não só aquando da doença ativa, mas também aquando do seu regresso à normalidade pessoal, familiar, laboral e social. Que a luta contra o cancro se faz todos os dias e que o seu sucesso não se mede pelo fato de morrermos mais ou menos tarde. Que toda a “família LPCC “continuará, como o tem sido ao longo destes 80 anos, um pilar credível, atuante, honesto, na sociedade portuguesa, da qual emana. Afinal, somos Todos por Todos.