POR ANALITA ALVES DOS SANTOS, «NO OFÍCIO DA ESCRITA»
O Linkedin não deixa esquecer: esta colaboração inicial aconteceu no distante ano de 2010. Onze anos passaram. Sendo outra, sou a mesma, nunca serei uma estranha para quem um dia me conheceu, independentemente do contexto. Os valores e os princípios que me regem são os mesmos, aqueles, duradouros, que sempre nos aproximarão uns dos outros, por mais que o tempo passe. Por essa razão, estou agora aqui consigo para lhe falar deste admirável mundo que desejo que venha a ser cada vez mais o seu: o mundo do prazer da escrita, das palavras e dos livros.
Ler dá-nos sopro de vida e agora, desde que estamos confinados, auxilia-nos o respirar, a olhar o mundo além das nossas existências menos oxigenadas.
A leitura ajuda-nos a estimular a criatividade, a imaginação e a curiosidade, despertando em nós novos interesses. Quem não deu por si a desejar descobrir uma nova cidade, outros costumes, só para satisfazer o apetite louco que as páginas de um livro lhe provocaram?
Quando lemos estamos sozinhos, mas não verdadeiramente sós. Praticamos a atenção plena e olhamos o mundo através de um caleidoscópio de compaixão.
Os livros revelam-nos páginas de novos vocábulos, interpelam-nos a falar com desenvoltura e a escrever cada vez melhor.
Quem lê, é mais crítico. Está desperto no mundo que o rodeia e dificilmente se deixará subjugar por uma vontade maior, que não a sua. Distopias como «A História de Uma Serva», de Margaret Atwood, apresentam-nos mundos em que as palavras e os livros são controlados por esse mesmíssimo motivo: quem lê, questiona e pensa. E pensar pode ser o derradeiro conflito.
Ler ajuda-nos a recordar quem somos, quem fomos ou quem gostaríamos de ter sido.
Escrever abre-nos uma outra janela dimensional. Permite-nos ser muitos, sem deixar de ser quem somos; permite-nos viver todas as vidas que existem em nós; permite-nos não esquecer.
O «Diário de Anne Frank» é um dos grandes exemplos de como a escrita não nos deixa olvidar a História, num relato diário da adolescente que fala com a sua amiga imaginária Kitty, e revela-nos o quotidiano de terror e tensão da perseguição nazi aos judeus.
Há muito passado que merece permanecer vivo e por tantas outras razões.
Recentemente, tive o privilégio de receber a escritora Lídia Jorge numa masterclass e perceber ainda melhor esta certeza da escrita. A vontade de «escrever para não esquecer» a voz mágica do mundo rural ficou gravada nas páginas do seu primeiro livro publicado: «O Dia dos Prodígios». Também Luís Cardoso, convidado dos «Encontros Literários O Prazer da Escrita», mostrou aos leitores presentes que a sua obra «Requiem para o Navegador Solitário» é mais do que belíssima história ficcionada — é um testemunho do sofrimento do povo timorense gravado nas linhas e entrelinhas, a começar pela capa.
Ler é uma forma de viver, de recordar. Escrever é não deixar esquecer e muito mais. Como afirma Rosa Montero, a escrita é «o esforço de transcender a individualidade e a miséria humanas, a ânsia de nos unirmos com os outros num todo, o afã de nos sobrepormos à escuridão, à dor, ao caos e à morte.»
Termino com uma sugestão literária: «As Cidades Invisíveis», de Italo Calvino, uma das obras-primas da literatura do século XX; o livro de março no clube de leitura online com a minha curadoria e David Roque, professor de História e dinamizador de Escrita Criativa.
Fica o convite.
Encontre-nos em: https://www.facebook.com/groups/EncontrosLiterariosOPrazerDaEscrita.
Saudações Literárias e até breve.