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UM OLHAR EXPERIENTE SOBRE A SAÚDE VISUAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

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UM OLHAR EXPERIENTE SOBRE A SAÚDE VISUAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

Licenciada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, foi na Especialização em Oftalmologia, e na sua cirurgia, que encontrou a sua evidente paixão e motivação. Tendo já chegado ao topo da sua carreira hospitalar e sendo detentora de 21 prémios e distinções, no âmbito da sua especialização cirúrgica, Isabel Prieto tem ainda múltiplas apresentações e comunicações em reuniões e congressos nacionais e internacionais, numerosas participações em mesas redondas como coordenadora e moderadora e ainda publicações também a nível nacional e internacional que lhe preenchem uma vida dedicada à saúde visual.
Além disso, tem participado como organizadora, preletora e monitora em cursos de pré e pós-graduação, teóricos e práticos no contexto hospital e extra-hospitalar, tendo já realizado cirurgias “ao vivo” em diferentes ações formativas de hospitais nacionais.
Tem sido também responsável pela formação de internos da especialidade ao longo do seu percurso.
Desde sempre interessada e motivada em aperfeiçoar diariamente o seu conhecimento no campo da inovação cirúrgica, podendo assim melhorar a qualidade de vida dos doentes, participa, sempre que possível , em trabalhos de investigação e partilha científica. O último já publicado e do qual é Co-Autora, integrada no Grupo EUROCOVCAT, tem como título “Rethinking Elective Cataract Surgery Diagnostics, Assessments, and Tools after the COVID-19 Pandemic Experience and Beyond: Insights from the EUROCOVCAT Group” – o objetivo desta revisão é destacar o impacto da não priorização da cirurgia de catarata e resumir algumas questões críticas na abordagem atual e futura do procedimento cirúrgico da catarata .O artigo reúne experiências de um grupo de cirurgiões oriundos de nove países diferentes, denominado como European COVID-19 Cataract Group (EUROCOVCAT).
É neste âmbito que Isabel Prieto nos explica o real impacto da pandemia na saúde visual da população, especialmente dos portugueses.

QUAL A RELAÇÃO ENTRE A VISÃO E A COVID-19 E DE QUE FORMA É ESSENCIAL NÃO DESVALORIZAR SINTOMAS?
“Considerando que o diagnóstico precoce e o tratamento imediato das doenças oculares mais comuns e tratáveis, incluindo catarata, podem prevenir ou retardar a perda de visão, é óbvio o impacto que a situação pandémica tem provocado na saúde visual. A redução da atividade cirúrgica eletiva, considerada não prioritária, e subsequente aumento das lista de espera cirúrgica, que por vezes acresce o receio adquirido por parte dos doentes de se deslocarem aos hospitais com desvalorização dos seus sintomas visuais, tem provocado um agravamento das patologias oftalmológicas e consequente e acentuado decréscimo na qualidade de vida dos doentes por deficit da visão“, começa por explicar a nossa entrevistada, acrescentando que “temos também o impacto indireto na visão devido, por um lado, ao facto do confinamento e a uma maior e mais prolongada utilização de ecrãs e plataformas digitais, e que causa sintomas de fadiga visual e olho seco. Por outro a utilização de proteção individual como as mascaras, fundamentais em contexto da COVID-19, mas que têm causado um incremento de perturbações da superfície ocular”.
Outro tema que também importa esclarecer resulta na pergunta: será que, face ao atual contexto pandémico, a saúde visual tem sido pouco priorizada?
Certo é, para Isabel Prieto, todos os profissionais têm continuado a lutar firmemente para a concretização da missão que, desde o dia número um, se propõem: melhorar a vida dos doentes. Ainda que em situação incerta e complexa como a que hoje vivemos. Contudo pode ter sido colocada em segundo plano, o que não deixa de tornar a situação dos doentes que requerem cirurgia oftalmológica muito difícil. “Se falarmos da questão da cirurgia da catarata, é realmente grave porque as consequências causadas pelo protelamento da cirurgia são altamente penalizadoras para um grande número de doentes. Na Europa a prevalência da catarata é de 64 por cento para a população com mais de 70 anos e aumenta com a idade, sendo que a deficiência visual provocada pela catarata tem efeitos não apenas na atividade diária mas também no bem-estar psicológico. Atingindo assim na sua maioria as pessoas idosas, estas vão apresentar uma limitação muito grande da sua qualidade de vida ficando muito dependentes e vulneráveis” afirma Isabel Prieto claramente preocupada com o futuro da saúde visual acabando por admitir que há muito mais a fazer neste domínio. “Com esta pandemia, temos de repensar e muito as prioridades. Temos de aprender com os erros do passado e evitar, numa próxima situação, a redução abrupta da atividade assistencial cirúrgica. Soluções que passam por exemplo, por reduzir as deslocações aos hospitais, concentrando exames para estudo diagnostico, transformar algumas consultas que podem não ser presenciais em teleconsultas, agilizar os circuitos dentro dos próprios hospitais de forma a impossibilitar o cruzamento, neste caso de doentes com e sem COVID-19. Promover e assegurar a segurança dos procedimentos para os profissionais e utentes. Temos de investir mais em mecanismos que possam ser mais resilientes perante uma pandemia para não termos de interromper brutalmente a nossa atividade. Temos de aproveitar as novas tecnologias como a telemedicina, embora claro, na Oftalmologia, seja mais difícil porque tudo se baseia muito na observação, mas não é impossível”. Importa, sobretudo, que se aplique o know-how adquirido ao longo dos últimos meses e se modifiquem os paradigmas habituais.
Sabia que a cirurgia de catarata, é o processo cirúrgico mais realizado a nível mundial? Sendo uma das principais causas de cegueira reversível no mundo, a catarata é uma doença caracterizada pela perda de transparência do cristalino, lente natural cuja função é propiciar o foco da visão em diferentes distâncias. Haverá informação suficiente sobre o tema? Isabel Prieto assegura que “de forma transversal as outras patologias, atualmente, já se verifica uma maior informação, porém, é uma informação pouco filtrada e seletiva, e por vezes não corresponde de todo ao que a pessoa tem na realidade e é pouco tranquilizadora e esclarecedora. Ainda há um longo caminho a percorrer neste sentido. Acho que deve haver uma informação mais divulgada até ao nível da própria cirurgia de catarata – como dar a conhecer os riscos e os benefícios da mesma, que chegue também aos órgãos decisores e que seja promotora da saúde visual. Desta forma, continuam também a ser de extrema relevância as várias pesquisas e partilhas de experiências que, como no caso do Grupo EUROCOVCAT, se têm vindo a desenvolver.

RECOMENDAÇÕES SOBRE OS CUIDADOS A TER COM A NOSSA VISÃO
Sabendo que grande parte dos portugueses estão em confinamento e em teletrabalho, ou seja, utilizando ininterruptamente tecnologias, como computadores e telemóveis, Isabel Prieto deixa alguns conselhos que podem ajudar a promover a saúde visual. “Primeiramente é importante uma avaliação regular pelo médico oftalmologista de forma a despistar alguma patologia ou deficiência visual. Devemos ter a noção de que quando estamos a fixar pestanejamos menos e há uma redução muito grande da lubrificação do olho, o que causa queixas de olho seco, daí a necessidade de fazer pausas e pestanejar e se necessário usar lágrimas artificiais. Utilizar a regra 20-20-20: a cada 20 minutos olhar para a distância de 20 “pés” (6 metros), durante 20 segundos. É uma forma de garantir que os olhos se mantêm saudáveis. Uma boa hidratação é também essencial e não nos podemos esquecer também que, apesar das circunstâncias, devemos continuar a ter uma alimentação saudável, com uma dieta variada, auxiliando obviamente todos os órgãos no seu bom funcionamento e os olhos não são exceção”.