O Banco Europeu de Investimento (BEI) tem sido um parceiro para Portugal e, consequentemente, para as suas empresas. Como a instituição tem vindo a apoiar o país e o parque empresarial português?
O BEI atua em Portugal desde 1976. Desde então, investimos mais de 52 mil milhões de euros em mais de 470 projetos. Temos desempenhado um papel importante no financiamento de projetos de infraestruturas produtivas e sociais, assim como no financiamento ao setor produtivo.
Em 2020, assinámos 27 operações em Portugal no valor de 2 330 milhões de euros, um aumento de mais de 40% face a 2019. Foi o maior volume de atividade anual desde a crise financeira, reforçando a natureza contra cíclica do BEI. A nossa atividade torna-se mais relevante quando a economia necessita de apoio. Em 2020, Portugal foi o quarto país que mais beneficiou de financiamento, cerca de 1,2% do PIB.
O BEI tem sido um parceiro relevante em termos de financiamento de projetos de hidrogénio. Porquê essa aposta do BEI e como tem sido esse caminho positivo?
O hidrogénio verde tem potencial para desempenhar um papel muito relevante para que se atinja a neutralidade carbónica até 2050, reduzindo emissões de gases com efeito de estufa, principalmente as provenientes de transportes e do setor industrial, que são as mais difíceis de eliminar.
Ao longo da última década, apoiámos cerca de 2 000 milhões de euros de projetos relacionados com o desenvolvimento da cadeia de valor do hidrogénio. De células de combustível a transportes movidos a hidrogénio, mas também a sua utilização na indústria.
O sucesso dos projetos que apoiamos deve-se, em grande parte, aos nossos economistas, engenheiros, analistas financeiros e especialistas ambientais que asseguram as melhores práticas internacionais. Os nossos projetos são reconhecidos pela sua qualidade técnica. Essa reputação permite atrair investidores privados para tomar risco nos projetos que financiamos.
Mas há muito por fazer. É preciso desenvolver o mercado do hidrogénio na UE, para que se torne mais profundo e permita ao hidrogénio afirmar-se como alternativa competitiva aos combustíveis fósseis. O BEI terá um papel importante neste quadro. Em particular, na mobilização de investimento.
A capacidade do BEI em enfrentar desafios tecnológicos e, ao mesmo tempo, financiar projetos inovadores com risco e retorno a longo prazo é fundamental para os promotores, permitindo mobilizar fundos privados e implementar estratégias públicas mais impactantes.
O BEI diz ser o banco climático da UE, o maior financiador de projetos ambientais e sustentáveis. É legítimo dizer que o BEI é uma instituição totalmente comprometida na luta contra as alterações climáticas?
O BEI é o banco climático da EU. Que não haja dúvidas! Nenhum banco está tão comprometido com a sustentabilidade ambiental e a descarbonização da economia com o BEI. Financiámos mais de 25 000 milhões de euros de projetos com impacto na ação climática e na sustentabilidade ambiental em 2020 e aumentaremos esse valor para cerca de 35 000 milhões de euros até 2025.
Nenhum banco pôs tanto do seu dinheiro onde está a sua missão, no que respeita à sustentabilidade ambiental, como nós o fizemos.
O BEI é o maior financiador multilateral no combate às alterações climáticas. O Roteiro do Banco do Clima estabelece bem o nosso compromisso e deixa claro que todas as novas operações estão alinhadas com o Acordo de Paris.
O BEI é um líder claro e destacado no caminho a percorrer nesta década crítica para o nosso planeta.
Como tem o BEI financiado a inovação e a investigação na área da produção de hidrogénio verde? Quais são as potencialidades do hidrogénio e porque é que Portugal não pode perder esta oportunidade?
O hidrogénio verde desempenhará um papel importante na transição energética. Para tal, é necessário desenvolver a tecnologia e torná-la tecnicamente viável para a produção numa escala economicamente competitiva. São necessários mais e melhores investimentos. Um financiador paciente e disposto a partilhar o risco no desenvolvimento de novas tecnologias é essencial para dinamizar a inovação e a investigação, mas também a produção em larga escala.
O BEI oferece soluções abrangentes, que se estendem de serviços de apoio técnico e consultoria financeira até ao financiamento de projetos públicos e privados. Oferecemos financiamento tradicional, mas também soluções de project finance, garantias, quase-capital e capital de risco.
Ao nível dos projetos recentes destacaria o apoio técnico aos promotores de projetos com associação francesa de hidrogénio, mas também a assessoria ao Hydrogen Council, onde identificamos estruturas de financiamento adequadas aos projetos de hidrogénio. Estamos a desenvolver projetos de financiamento para estações de reabastecimento de hidrogénio na Dinamarca e o Corredor H2 na Região da Occitanie em França.
Portugal encontra-se numa posição privilegiada face a outros países. Portugal já apresentou uma estratégia nacional com prazos definidos e projetos-chave bem identificados. O BEI começou a trabalhar com o Governo português na implementação dessa estratégia. No passado dia 7 de abril, assinámos um memorando de entendimento com a República Portuguesa para apoiar e acelerar os investimentos no sector.
De que forma o BEI tem estado atento às questões de financiamento para as empresas portuguesas em questões mais relacionadas com a digitalização e o investimento em inovação durante a pandemia?
O processo de transformação digital é incontornável. Em conjunto com a descarbonização, é um dos pilares centrais do projeto europeu. A Europa aposta na digitalização para aumentar a competitividade das empresas e criar emprego de qualidade nessa área. Neste contexto, o acesso a financiamento à inovação desempenhará um papel muito importante na recuperação.
O processo de transformação digital e inovação tem um papel primordial e o BEI oferece instrumentos financeiros adequados para apoiar a inovação e a criação de emprego qualificado.
Quais são os principais objetivos do BEI para o futuro, e como continuará a ser um player fundamental na economia europeia enquanto um importante financiador de investimentos relacionados com as energias limpas e a ação climática?
O cenário atual exige do BEI a manutenção de uma forte aposta no financiamento da recuperação sustentável no período pós-pandémico.
A recuperação tem que assentar em investimento produtivo e reprodutivo que promova a descarbonização da economia e a transição digital. Mas é também essencial manter financiamento para conter os impactos da pandemia.
É necessário assegurar que as empresas economicamente viáveis, em particular PMEs, têm financiamento e a capital para manterem a sua solvabilidade e a sua atividade. Para preservar valor e emprego e, ao mesmo tempo, investir na transformação digital e na transição climática.
Só empresas viáveis, dinâmicas e inovadoras podem ser competitivas e promover o crescimento inclusivo e sustentável. Só assim podemos assegurar a coesão social e melhorar a vida de todos os cidadãos. Não deixando ninguém para trás. O futuro começa agora. Nunca nos esqueçamos disso.