“A TRATOLIXO pretende ser impulsionadora das temáticas da Economia Circular e dos Consumos Sustentáveis”

Em conversa com a Revista Pontos de Vista esteve João Teixeira, CEO da TRATOLIXO – uma organização cujo compromisso é assente na sustentabilidade – e que nos contou tudo o que tem sido concretizado, ao longo da sua história, para marcar positivamente o ambiente. Assim, conheça de que forma a mesma tem caminhado no sentido da neutralidade carbónica em 2050, meta proposta pela Lei Europeia do Clima.

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Com uma história sólida, a visão da TRATOLIXO passa por utilizar as técnicas mais avançadas, seguras e ambientalmente adequadas no tratamento de Resíduos Urbanos, dando especial ênfase à valorização, considerando-os como fonte de potencial matéria-prima. Qual é a marca ambientalmente positiva e sustentável que a empresa deseja deixar na sociedade?
A TRATOLIXO trata anualmente cerca de 500 mil toneladas de resíduos urbanos (RU) produzidos por quase 870 mil habitantes da sua área de intervenção, o que constitui cerca de 9% do total Nacional.
Sustentada nos modernos conceitos de gestão de RU, a TRATOLIXO desenvolveu uma estratégia integrada de valorização, tratamento e confinamento dos RU, baseada em três componentes principais: Valorização Multimaterial e Valorização Orgânica, complementada por células de confinamento técnico para recepção dos rejeitados e de resíduos previamente preparados.
Ao assumir de forma clara que a gestão de resíduos é realizada na ótica do recurso, a TRATOLIXO firma todos os esforços na sua valorização mais adequada, abordagem esta que tem por base a projeção de um modelo circular de negócios, e é sustentada por projetos demostrativos das práticas circulares de suporte. A atuação da Organização permite consolidar um posicionamento que se preconiza pela criação de valor no ciclo produtivo, caraterizado pela reintrodução do “resíduo” como “recurso” na cadeia de valor.
A nível nacional, a TRATOLIXO pretende ser impulsionadora das temáticas da Economia Circular e dos Consumos Sustentáveis, através da partilha de novas estratégias e procura de soluções mais eficazes, fomentando sinergias e otimizando recursos disponíveis.

A TRATOLIXO tem tido um papel fundamental na sociedade no que à sustentabilidade ambiental diz respeito, sendo esta um dos principais desideratos da empresa. Apesar de ser um tema bastante discutido atualmente, acredita que, a nível individual ou coletivo, os cidadãos tornaram-se mais ativos e conscientes?
Sim, a TRATOLIXO tem dinamizado várias iniciativas, em conjunto com os Municípios de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra, e os resultados em 2020, não obstante a situação pandémica vivida, permitiram verificar o impacto considerável em termos comportamentais, resultando no aumento de 7% verificado em 2020 nas recolhas seletivas multimaterial do Sistema AMTRES face ao ano anterior.
Também foi notória a participação dos Munícipes nos Projetos-piloto de recolha selectiva de biorresíduos em saco ótico.
Perante a nova realidade de objetivações nacionais em termos de gestão de resíduos, o País encontra-se obrigado a proceder à recolha seletiva de biorresíduos a partir do ano de 2023.
De modo a garantir uma transição para a recolha selectiva de biorresíduos na respectivas áreas geográficas e a utilização da capacidade instalada de compostagem e de digestão anaeróbia, substituindo-se progressivamente as origens de recolha indiferenciada, os municípios do Sistema AMTRES decidiram estrategicamente implementar projetos-pilotos de recolha dedicada de biorresíduos, em consonância com a nova Estratégia dos Biorresíduos apresentada em Julho de 2020 pela Secretaria de Estado do Ambiente.
Não obstante o seu arranque ter sido condicionado e adiado pelas medidas de confinamento preventivo de combate à COVID-19, todos os municípios do Sistema conseguiram iniciar, durante o ano de 2020, a execução destes projetos-piloto nos seus territórios, com o devido acompanhamento da TRATOLIXO, tendo-se obtido taxas de adesão muito significativas.

De que forma a TRATOLIXO tem promovido esta temática, além das atividades diárias, como a receção e tipologia de resíduos, as inúmeras infra-estruturas construídas ou até a educação ambiental que desenvolve?
A TRATOLIXO, como já referimos, tem dinamizado várias iniciativas, em conjunto com os Municípios de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra.
Diariamente, estamos presentes nas escolas. Promovemos comportamentos cívicos, divulgamos valores e boas práticas ambientais. Igualmente promovemos ações em empresas e quando for novamente possível, retomaremos as mesmas em eventos.
A reciclagem, pese embora tenha um longo caminho a percorrer, tem vindo a ser incrementada e a quantidade de resíduos que são colocados nos ecopontos (equipamentos de recolha seletiva de resíduos) têm vindo a aumentar de ano para ano.
Apesar da atual situação pandémica e na impossibilidade de realizar ações presenciais, a Comunidade Educativa continua a receber a TRATOLIXO nas suas escolas, através de sessões síncronas, atividade que temos vindo a desenvolver de forma articulada na nossa área de intervenção e que pensamos manter, melhorar e proporcionar a um maior número de alunos, professores e auxiliares de ação educativa.
Desde 2019 que a TRATOLIXO tem em funcionamento no Ecoparque de Trajouce, a nova Central de Triagem de Embalagem dedicada à recolha seletiva, permitindo uma recuperação de materiais recicláveis alinhadas com os indicadores definidos no PERSU 2020.
Em 2020 vimos aprovadas duas candidaturas ao PO SEUR que permitirão dotar a empresa de novas infraestruturas, cruciais para o tratamento de resíduos, desvio de resíduos de aterro e minimizar as emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE). Uma das candidaturas diz respeito à construção de uma Central de Compostagem para Resíduos Verdes oriundos de recolha seletiva, que terá uma capacidade anual para tratar 50.000 t de resíduos verdes, permitindo, em primeiro lugar, o tratamento da totalidade dos RV produzidos e recolhidos na área de intervenção da TRATOLIXO. A implementação da operação resultará na produção de 15.000 t anuais de composto, o que permitirá atingir a meta do PERSU 2020+ relativa à preparação para reutilização e reciclagem e contribuir fortemente para o desvio de RUB de aterro.
A segunda candidatura diz respeito à adaptação das Unidades de Tratamento Mecânico e de Tratamento Biológico da TRATOLIXO à recolha selectiva de biorresíduos, e é referente à adaptação da Unidade de Tratamento Mecânico (TM) de Trajouce ao sistema de recolha seletiva de biorresíduos em saco óptico, e ao aumento da capacidade de Tratamento Biológico (TB) da Central de Digestão.
Salientamos aqui o modelo de recolha seletiva de biorresíduos implementado na área de intervenção da TRATOLIXO, com sacos coloridos para separação óptica. Este modelo de recolha seletiva de biorresíduos foi o escolhido, quer pelas mais-valias económicas quer pelas mais-valias ambientais, a saber:
– a redução do custo de recolha face a sistemas porta-a-porta ou dedicados, é feita graças a uma maior eficiência dos circuitos de recolha, que se mantêm inalterados, sem novos circuitos, veículos de recolha, nem recursos humanos, o que se traduz em reduções de emissões de gases de efeito de estufa, reduções de consumos de combustíveis fósseis e menos equipamento pesado a circular em meios urbanos densamente povoados. De acordo com a estimativa para área de intervenção da TRATOLIXO o aumento das emissões de CO2 associado à criação de novos circuitos para a recolha dedicada de biorresíduos, com acréscimo de viaturas de recolha e lavagem em circulação, seria equivalente a 1 500 000 kgCO2 todos os anos. Não contanto com a poluição sonora e da qualidade do ar.
– a redução dos custos de lavagem graças ao sistema prever a deposição dos orgânicos dentro de sacos, traduz uma enorme poupança num recurso cada vez mais escasso, a água. Para além do acréscimo significativo da lavagem da contentorização em via pública, que diversos especialistas já mencionaram, cada utilizador terá que lavar o seu contentor doméstico sempre que o despejar. Se este consumir dois litros de água para essa lavagem, temos um valor anual de 312 litros por habitação. Este valor multiplicado pelo número de habitações da área de intervenção da TRATOLIXO, 429 000 alojamentos, representa cerca de 133 848 m3 de água potável que passam a ser consumidos para este fim. Relativamente ao acréscimo de consumo de água associado à lavagem da contentorização em via pública, estimamos que este represente cerca de 150 000 m3 adicionais. Ou seja, quase 300 000 m3 de água potável consumida, que originam efluentes, com elevada carga orgânica, que terão de ser tratados, com acréscimo de impacto ambiental negativo. Este volume de água, só no sistema da TRATOLIXO, equivaleria ao consumo de cerca de meio ano de toda a vila de Mafra.
Relativamente ao investimento a realizar no Sistema em alta para a separação ótica dos sacos, importa referir que o montante investido é amortizado ao longo de todo o período de concessão da TRATOLIXO, pelo que o impacto na tarifa é praticamente nulo e os custos de exploração adicionais estão apenas associados ao aumento de consumo energético dos equipamentos de leitura ótica que, como sabemos, são equipamentos de baixo consumo e cada vez mais eficazes energeticamente.
Já os custos com uma recolha dedicada, para além de requererem investimentos muito avultados com a aquisição de contentorização e viaturas de recolha e lavagem, têm associados custos elevadíssimos de exploração que, esses sim, vão parar às tarifas cobradas aos munícipes.

A proposta de primeira Lei Europeia do Clima apresentada pela Comissão tem por objetivo consagrar na lei o objetivo de neutralidade climática até 2050 para a economia e sociedade europeias, estabelecido no Pacto Ecológico Europeu. Qual a importância desta Lei para as políticas vigentes e para a meta da UE de redução das emissões de gases com efeito de estufa?
Para cumprir este objetivo, é necessário conseguir que as emissões líquidas de gases com efeito de estufa do conjunto dos países da UE diminuam até atingir zero, principalmente através da redução das emissões, do investimento em tecnologias verdes e da proteção do ambiente natural.
Com este acto legislativo pretende-se garantir que todas as políticas da UE contribuem para este objetivo e que todos os setores da economia e da sociedade participam neste esforço.

Quais são, na sua opinião, os principais desafios que a concretização dos objetivos previstos para a Lei Europeia do Clima enfrenta?
A transição para a neutralidade climática exigirá a adoção de medidas em todos os setores, desde a alteração das formas de consumo, de produção de energia e de bens, de formas de trabalho e até como nos deslocamos e viajamos. A transição para a neutralidade climática exigirá a adoção de medidas em todos os setores e o setor dos resíduos tem um papel muito importante na concretização destas medidas.
Os resíduos não só poluem o ar, as águas subterrâneas e os solos, como libertam emissões de CO2 e de metano para a atmosfera, contribuindo assim para as alterações climáticas.
A redução do consumo e, consequentemente, a redução da produção de resíduos e a criação de valor no ciclo produtivo, caraterizado pela reintrodução do “resíduo” como “recurso” na cadeia de valor, encontram-se na base deste desiderato.
A modernização e a descarbonização da economia da UE incentivarão investimentos adicionais significativos, sendo certo que esta transição exigirá a realização de importantes investimentos.

É cada vez mais essencial, tanto para cidadãos como para empresas, procurar acompanhar e antecipar a evolução das negociações da Lei do Clima Europeia, assim como as suas implicações para a descarbonização nos diferentes Estados e mercados onde operam. Neste sentido, acredita que Portugal está hoje no caminho ideal e mais próximo da meta? Como nos pode descrever esta evolução?
As emissões de GEE para a atmosfera associados à atividade humana são a principal causa do aumento do efeito de estufa, responsável pelo aquecimento global e, consequentemente, das alterações climáticas. No âmbito de estratégias internacionais surgiu, por isso, a necessidade de monitorizar e reduzir estas emissões e Portugal assumiu internacionalmente compromissos neste sentido, formalizados no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050). Neste roteiro, o País estabeleceu o objetivo de tornar nulo, no ano de 2050, o balanço entre as emissões e as remoções da atmosfera em linha com o Acordo de Paris, identificando trajetórias alternativas para quatro componentes setoriais com maior responsabilidade pelas emissões de GEE e pelo sequestro de carbono. Em termos práticos, o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo País neste sentido é fruto das melhorias tecnológicas implementadas no domínio dos sistemas de controlo de poluição e da eficiência energética, mas também da introdução de combustíveis menos poluentes, do aumento da produção de energia renovável e de uma gestão de resíduos mais sustentável.
E porque os resíduos são um dos setores de atividade que são considerados no RNC 2050, há que salientar concretamente sobre este setor a implementação de medidas conducentes ao aumento da deposição seletiva de resíduos, da reutilização e reciclagem dos mesmos, bem como o incremento do aproveitamento energético de biogás gerado nas instalações de tratamento e gestão de resíduos.

Sendo este um processo inclusivo e acessível de boas práticas e de identificação de ações que contribuam para a concretização destes objetivos, de que forma poderão participar os cidadãos e as entidades interessadas, como é o caso da TRATOLIXO?
Como todos os setores da nossa sociedade e da nossa economia têm um papel a desempenhar na transição para a neutralidade climática, um processo inclusivo e acessível de intercâmbio de boas práticas e de identificação de ações que contribuam para o objetivo de 2050 constitui um elemento crucial da Lei do Clima.
O envolvimento e o empenho das partes interessadas e do público em geral serão cruciais e haverá decerto muitos exemplos de esforços da sociedade civil para fazer face às alterações climáticas.