Início Atualidade “Um SIG não se constrói em dois dias e muitas vezes o seu real valor acrescentado só é visível alguns anos após a sua conceção inicial”

“Um SIG não se constrói em dois dias e muitas vezes o seu real valor acrescentado só é visível alguns anos após a sua conceção inicial”

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“Um SIG não se constrói em dois dias e muitas vezes o seu real valor acrescentado só é visível alguns anos após a sua conceção inicial”

Marco António Campos Lima de Carvalho é Engenheiro Geógrafo, licenciado em Engenharia Geográfica (2001) e mestre em Deteção Remota (2007) pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), tendo realizado Estágio na Direção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território na área dos Sistemas de Informação Geográfica. Membro efetivo da Ordem dos Engenheiros desde 2005 e membro sénior desde 2015. Atribuição pela Ordem dos Engenheiros do título de Engenheiro Especialista em Sistemas de Informação Geográfica em Outubro 2018. Vogal do colégio de Engenharia Geográfica da Ordem dos Engenheiros desde 2019.

Iniciou a carreira com a realização de levantamentos GPS e cadastrais da rede elétrica de média tensão. Nos últimos 16 anos tem desempenhado funções no Município de Vila Nova de Gaia. Entre 2002 e 2010 foi responsável pelos serviços técnicos de Topografia da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, realizando a supervisão de todos os trabalhos de topografia e cadastro do município, implementando e criando novas metodologias de gestão e modernização tecnológica dos serviços. Desde 2010, enquanto Diretor do Departamento de Informação Geográfica da Gaiurb, assumiu a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho anterior e implementar novos conceitos de gestão, metodologias e inovação tecnológica, promovendo a implementação de projetos pioneiros a nível nacional. Entre 2013 e 2015 foi consultor e responsável pela coordenação das equipas de SIG no Gabinete Técnico de Reconversão Urbana do Cazenga, Sabizanga e Rangel (Luanda, Angola) na área técnica de Sistemas de Informação Geográfica. Desde 2016 tem promovido na implementação de projetos tecnológicos inovadores ao nível municipal, com a implementação de novas tecnologias de recolha de dados geográficos e a sua integração.

Fundou em 2003 a Limacarvalho Engenharia e colabora em estudos de investigação, consultoria e prestação de serviços especializados nas áreas da topografia, deteção remota, fotogrametria, fotografia aérea e vídeo com aeronave não tripulada (drone), laser scanning, formação e consultoria em SIG no planeamento e produção de soluções tecnológicas de informação geográfica, para universidades, instituições públicas nacionais, empresas de engenharia e arquitetura e clientes particulares.

  1. Como caracteriza o atual estado dos SIG em Portugal?

Globalmente poderemos considerar que Portugal está ao nível de muitos países da União Europeia e do mundo, no entanto existe uma larga consciência dos gestores de SIG em Portugal, que muito há ainda por fazer, inovar, sensibilizar e até mesmo democratizar. De dia para dia os decisores públicos e privados entendem as mais-valias da informação geográfica para gerir os seus territórios e negócios, em diversas áreas da engenharia, arquitetura, construção, produção e manutenção entre outros.

  1. O que acha que pode ser feito, institucionalmente e individualmente para aumentar a visibilidade dos SIG na sociedade?

Diria que primeiro fator será o individualmente, ou seja, que todos os técnicos, gestores, operacionais e produtores de informação SIG não tenham receio de inovar e de arriscar no futuro. Um SIG não se constrói em dois dias e muitas vezes o seu real valor acrescentado só é visível alguns anos após a sua conceção inicial. É um trabalho de resiliência e de constante pensamento evolutivo. Compete a cada um de nós promover os SIG na sua atividade profissional e até mesmo no lazer, pois a informação geográfica tem a vantagem de ter um número infindável de aplicações. Ao nível institucional e dos decisores é necessário reconhecer as mais-valias e apostar forte na implementação dos SIG a nível nacional e local. Por exemplo, a realidade dos municípios nacionais no que se refere aos SIG é muito díspar. As plataformas informáticas são inúmeras, no entanto não é o ato de adquirir uma determinada solução tecnológica que vai automaticamente criar e implementar um SIG. São os recursos humanos associados, os modelos de dados e a interoperabilidade dos mesmos, assim como a facilidade de acesso à informação e a perceção de que é mais vantajoso partilhar a informação, mesmo com reservas e diferentes níveis de acesso, do que a guardar e limitar o acesso apenas ao produtor e detentor único da informação.

  1. O que destacaria como “a vantagem competitiva dos SIG”?

Uma grande vantagem competitiva julgo ser a facilidade de comunicação e de interpretação de conjunto de perguntas que colocamos no âmbito da nossa atividade. A manipulação e conjugação de indicadores que pretendem dar resposta a um objetivo, associando por vezes sua localização espacial, é efetivamente a ferramenta de análise mais poderosa no que se refere ao cálculo de grandes volumes de dados espaciais. Usualmente, dou como exemplo o caso paradigmático da analise do zonamento de um PDM – Plano Diretor Municipal e as Servições e Restrições de Utilizada Pública transpostas para as Cartas de Condicionantes. Previamente ao ano 2000 a análise de um determinado terreno ou projeto e o seu enquadramento no território era morosa e por vez imprecisa, no entanto, atualmente obtém-se o resultado do cruzamento de um determinado cadastro com centenas de níveis de informação em menos de um minuto. Neste sentido, o poder da análise espacial e os seus cálculos analíticos de modo célere são efetivamente uma vantagem competitiva dos SIG.

  1. Fale-nos da sua experiência no âmbito dos SIG e de que forma o ajudou a cumprir com eventuais objetivos?

Trabalho com os SIG desde 2002 e mais ativamente e com funções de gestão desde 2010, tendo ainda realizado projetos em diversas áreas. Nestes últimos 10 anos a evolução tecnológica tem sido exponencial o que nos permitiu inovar a apresentar novos produtos. Acima de tudo o objetivo foi a democratização do acesso à informação. Mais informação permite tomar melhores decisões. O desafio constante é o de manter a informação atualizada, criar mais e melhores automatismos e acima de tudo, um gestor de informação geográfica tem de ser um elemento agregador e facilitador da interoperabilidade de dados. A produção de mapas em poucos minutos, a disponibilização de indicadores geográficos à distancia de um click, acessível a todo o público em geral e ao decisor, têm sido o principal objetivo a cumprir e para o qual trabalhamos diariamente.

  1. OS SIG têm futuro? O que prevê?

Sim, sem dúvida alguma. A recente pandemia Covid 19 que afetou todo o mundo foi um bom exemplo e real, da capacidade dos SIG em gerir e apresentar de um modo simples e objetivo um conjunto de dados por vezes complexos. O futuro passará sempre pela integração de tecnologias e modelos de dados de modo a facilitar o acesso aos dados e produção de novos conteúdos. No futuro, prevejo a criação de mais automatismos de análise de dados, como resultado da contribuição de todos, de modo voluntário ou involuntário. O segredo do sucesso de um SIG é a atualização dos dados de um modo eficiente e que não ocupe demasiado tempo na sua fase de manutenção permanente, privilegiando automatismos e rentabilizando o tempo para a produção de mais indicadores de resposta, aquilo a que podemos chamar de eficiência.

  1. Do seu ponto de vista, de que forma a nossa Associação (APPSIG) pode contribuir para promover a valorização e divulgação dos SIG?

Tendo em consideração os estatutos da APPSIG e os seus fins, sou de opinião que a Associação poderá ser um impulsionador de cooperação institucional, ter um papel ativo na normalização de procedimentos e acima de tudo ser uma voz ativa dos seus associados. À semelhança de outras associações profissionais, muito profissionais a título individual tem dificuldade de representação e de se fazerem ouvir, nomeadamente para o regulador, uma vez que os técnicos que trabalham com SIG têm conhecimento da realidade local e das dificuldades que se colocam no dia-a-dia de cada profissional. O seu papel na formação, na cooperação institucional com outras associações e ordens profissionais, assim como com parceiros tecnológicos, entre outros, será certamente uma mais-valia para o futuro dos SIG e da sua valorização. Um SIG não é uma especialidade de uma única formação técnica ou académica, mas sim um conjunto vasto e alargado de contributos de diferentes áreas de especialidade, que desde a produção das bases cartográficas, dos dados SIG, à produção de indiciadores e resultados deverá ser multidisciplinar e valorativo para todos os profissionais habilitados e dedicados ao SIG e que permitiram a produção de um simples mapa ou indicador de resultados. Neste sentido, a APPSIG poderá ser o elemento agregador, um fórum de discussão e análise e um motor de desenvolvimento e inovação dos SIG em Portugal.