A pandemia da COVID-19 mudou a forma como as pessoas vivem, trabalham e socializam, acelerando a procura por inovação, à medida que empresa dos setores de retalho, bens de consumo e turismo deixam de reagir à crise para reinventar produtos e serviços, indica estudo global da Accenture.
Depois de um ano de confinamento, 95% dos inquiridos indicaram que fizeram pelo menos uma mudança, que acreditam ser permanente, no seu estilo de vida. Trabalhar em casa, mudanças nos padrões de viagens e o desejo crescente de comprar localmente, estão a desafiar as indústrias a repensar a fundo a relação com o consumidor adaptado à pandemia. O último estudo, com mais de 9.650 inquiridos, de 19 países, confirma os dados anteriores da Accenture, no sentido em que muitas mudanças no comportamento, provavelmente, se manterão a longo prazo.
“A onda de alterações causadas pela pandemia vai continuar a sentir-se durante algum tempo e é uma ilustração poderosa da necessidade, das empresas das indústrias de consumo, de serem ágeis, resilientes e adaptáveis à mudança”, disse Oliver Wright, senior managing director e head of global consumer goods industry group da Accenture. “Do desastre e da necessidade, surge a oportunidade; a pandemia gerou uma nova onda de inovação. Enquanto as empresas repensam a fundo modelos de negócio que gerem crescimento, muitas estão a usar recursos analíticos avançados para identificar, responder e direcionar a tendências de consumo, em constante mudança. Por exemplo, a cervejeira britânica Brewdog respondeu com agilidade e criatividade durante toda a crise – começou a produzir desinfetante para as mãos, criou bares virtuais, montou o Brewdog Drive-Thru e adaptou espaços físicos para criar, com a Desk Dog, espaços de trabalho cowork”.
A COVID-19 forçou uma transformação sob pressão, com as empresas a renovarem-se em várias frentes simultaneamente, e a requalificarem colaboradores no que antes seriam programas passo a passo de longo prazo. Muitas empresas que trabalham nas indústrias de consumo reorganizaram os seus negócios na cloud, lidaram com as pressões dos custo e continuaram a construir resiliência e segurança, e ajustaram a infraestrutura para permitir inovação e um posicionamento de sucesso para o futuro.
O nascimento do ‘terceiro espaço’
A pandemia forçou uma mudança rápida junto dos colaboradores que agora trabalham em casa, com muitos a expressarem que, no futuro, desejam flexibilidade na forma e no local de trabalho. Mais de três quartos (79%) dos entrevistados disseram que gostariam de trabalhar ocasionalmente num ‘terceiro espaço’ – um local diferente da sua casa e do seu local de trabalho – e mais de metade disse que estaria disposto a pagar até cerca de 80 euros por mês, do seu próprio bolso, para trabalhar num café, bar, hotel ou retalhista com um espaço próprio para o efeito. Este facto destaca uma potencial oportunidade de aumentar a receita dos setores do turismo e retalho.
O desejo de trabalhar a partir de um ‘terceiro espaço’ é acompanhado por uma mudança de atitude em relação às viagens de negócios. Metade (46%) dos entrevistados afirma não ter planos de viagens de negócios após a pandemia ou pretender cortar a anterior frequência de viagens de negócios para metade. Ainda não se sabe durante quanto tempo esta visão se manterá, mas as perspetivas atuais indicam que o regresso às viagens será retomado, principalmente, no mercado de lazer, fazendo com que o setor se adapte e se torne ainda mais eficiente para compensar os lucros perdidos.
“A pandemia forçou um ‘pragmatismo criativo’, especialmente junto das empresas de viagens e turismo, que lutam para encontrar fontes de receita adicionais durante a crise”, afirma Emily Weiss, managing director e head of global travelindustry group da Accenture. “Alguns hotéis transformaram os quartos em restaurantes pop-up, enquanto outros experimentaram oferecer escritórios temporários aos clientes que procuravam um terceiro espaço ’para trabalhar. Embora tenha havido experiências com inovação em áreas específicas, as empresas, precisam de dimensionar os novos serviços e proporcionar, àqueles que viajam, um foco renovado em saúde e segurança, por exemplo, usando a cloud para permitir interações totalmente contactless”.
Mudanças nos hábitos de consumo vieram para ficar
Além da mudança permanente de alguns dos seus hábitos de trabalho e planos de viagens, as pessoas afirmam igualmente que os seus hábitos de compras se transformaram a longo prazo. O estudo mais recente indica que as descobertas divulgadas anteriormente pela Accenture, de que o aumento significativo no e-commerce, provavelmente, se manterá ou acelerará ainda mais. Por exemplo, a proporção de compras online de produtos como comida, decoração, moda e artigos de luxo, feitas por pessoas que antes eram utilizadores pouco frequentes de e-commerce – que se definem como aqueles que, antes da pandemia, usavam o online para menos de 25% das suas compras – aumentou 343% desde o início da mesma.
Jill Standish, senior managing director e head of global retail industry da Accenture afirma que: “Os principais retalhistas foram rápidos a adaptar-se ao crescimento do e-commerce e estão a usar a tecnologia para servir os seus clientes de novas formas. Muitos adotaram tecnologias disruptivas, como realidade aumentada, para recriar a experiência em loja e ajudar os compradores a visualizar melhor uma sala de móveis ou uma peça de roupa, enquanto outros transformaram lojas fechadas em centros de abastecimento, agora equipados com tecnologias de picking and packing. Mesmo num mundo pós-pandemia, para que estejam bem posicionadas para impulsionar o crescimento, as empresas, precisarão de satisfazer a vontade dos consumidores de fazer compras online ao proporcionar-lhes entregas rápidas, e também, de serem mais afirmativas nos investimentos que farão nos seus colaboradores, cadeias de abastecimento, lojas físicas e canais digitais”.