Tânia Dimas é uma líder orientada para resultados, centrada nas pessoas e na sua produtividade, com vasta experiência em impulsionar o crescimento dos negócios. Para contextualizar o leitor, o que nos poderia contar sobre o seu percurso profissional até ao momento?
O meu percurso profissional tem sido muito centrado no desenvolvimento de pessoas. Apesar de ter trabalhado sempre muito ligada às tecnologias, o meu foco tem sido as pessoas. Comecei a trabalhar aos 18 anos numa gráfica de edição e impressão de livros. Quando me licenciei em Organização e Gestão de Empresas no ISCTE em 1995 comecei a minha jornada de desenvolvimento pessoal: meu e dos outros. Nessa altura descobri os MindMaps. Salvaram-me a vida profissional. Foi a forma que usei para aprender tecnologias e linguagens que não passaram por mim enquanto estudante. Ainda hoje uso e ensino a quem quer aprender. Acha que a sua memória funciona mal? Que não é criativo? Use Mindmapping e vai descobrir o que os seus neurónios são realmente capazes de fazer.
Ainda a terminar exames, fui uma de três alunos selecionados de entre 150 para um estágio na TV Cabo Portugal (hoje é a NOS). Fiz parte da equipa que lançou a televisão por cabo em Portugal, maioritariamente engenheiros de telecomunicações e de informática. Profissionais de excelência que me ajudaram a ser parte de quem sou hoje. Integrei o departamento de Marketing para definição de estratégias de lançamento do novo serviço, mas rapidamente passei para o Serviço a Clientes para definir os processos os sistemas de apoio às equipas de atendimento nas cinco empresas regionais que compunham o grupo da TV Cabo Portugal na altura. Foi um desafio impressionante que ainda hoje me traz recordações maravilhosas. Logo aqui percebi que o meu foco seriam as pessoas e não a parte tecnológica do negócio.
Passei por várias funções, mas todas tinham o mesmo objetivo: implementar processos, sistemas de informação e formação aos colaboradores de forma que a empresa pudesse crescer rapidamente.
Após quase quatro anos de TV Cabo Portugal (sede da empresa), o desafio seguinte apareceu quando se lançou o primeiro concorrente direto da Portugal Telecom, a Oni Telecom. Mais uma vez, integrei uma equipa de profissionais de engenharia de telecomunicações ainda na fase de criação da empresa. O termo start-up não fazia parte do vocabulário corrente senão seria caso para dizer que comecei a minha carreira profissional em start-ups.
Na Oni Telecom, os meus desafios continuaram ligados a pessoas, processos e sistemas de informação. Integrei a equipa do Serviço ao Cliente com o objetivo de criar os call centers. Não havendo muitos setores com este tipo de serviço, pela experiência que acumulei na TV Cabo Portugal, eu era considerada especialista. Desde a formação dos agentes de atendimento até ao desenho dos processos e sistemas de informação de suporte à sua atividade, passei por várias funções. A gestão de equipas foi um processo natural e que desempenhei sempre com o coração. Depois de quase 12 anos a aprender com muitos e excelentes profissionais, decidi criar o meu negócio.
Na Oni Telecom passei por várias funções também, mas sempre ligadas à otimização interna e à transformação digital. Nada disto se faz sem pessoas.
Sempre fui orientada a resultados com objetivos bem definidos. Aos 20, ainda na universidade, decidi que aos 40 – depois de 20 anos de aprendizagem – criaria a minha empresa. E assim fiz. Saí da Oni Telecom em 2010 e criei a Time4Thinking.
A Time4thinking tinha uma missão muito clara. Vender aquilo que ninguém tem: Tempo. Como se vende tempo? Ajudando as empresas com formação e consultoria em metodologias de aumento da produtividade dos seus colaboradores. É muito fácil encontrar nas nossas empresas procedimentos “Sempre foi assim”. Muitas vezes não trazem valor acrescentado aos negócios, mas ocupam e desmotivam os colaboradores. Durante quase sete anos, andei pelo país de lés-a-lés em escolas e empresas a vender tempo. A minha experiência acumulada em pessoas, formação, otimização processos e sistemas de informação ajudou mais de 40 empresas de todos os setores e dimensões.
Em 2017 surgiu o desafio que me trouxe onde estou hoje. Para dinamizar uma área recente na OutSystems, integrei a empresa em julho com o objetivo de definir os processos de suporte às equipas de Customer Success a nível mundial.
Hoje, como responsável da equipa de PMO, integrada em Finance, tenho a meu cargo a equipa que conhece grande parte dos processos end-2-end com impacto em Finance. Gerimos programas e projetos a nível global focando-nos na otimização dos processos e escalabilidade do negócio para sustentar o crescimento/ritmo elevado que a empresa tem neste momento.
Como podem imaginar, empresas de crescimento acelerado são organismos em permanente mutação. Para me sentir capaz de enfrentar os desafios diários procuro atualizar-me e aprender sempre mais. Temas como coaching mentoring, gamification, kaizen, mindmapping, critical thinking, decision-making, lean e cultural intelligence fazem parte do meu cardápio de certificações e leituras diárias. Parecem coisas dispersas? Não são. São tudo “tecnologias humanas”. No final todas têm o mesmo objetivo: fazer de todos nós melhores pessoas, profissionais e… mais felizes.
Pelo meio, já escrevi três ebooks sobre produtividade e mindmapping, corro vários quilómetros por semana, estudei python e faço cursos de desenho e fotografia. São hobbies que me treinam a concentração e a capacidade de observação dos detalhes, tão necessária no meu dia-a-dia.
Em 2000 e 2003, fui mãe dos dois homens mais bonitos e inteligentes que conheço.
Afirma que lidera as pessoas com o coração para que possam usar a cabeça para tomar as melhores decisões. Na prática, o que fomenta esta ideia?
Trabalhar não deve nem pode ser uma coisa que fazemos apenas para ganhar dinheiro ao final do mês. Liderar com o coração é ajudar as pessoas a sentirem que fazem parte de algo que as ajuda a desenvolver competências para a vida. Trabalhar não é só cumprir tarefas e horários. É socializar e aprender com outras pessoas, é ter desafios que façam as pessoas sentirem que estão a construir e a melhorar algo. Liderar com o coração é saber que todos nós temos o mesmo objetivo: Ser feliz. Cada um tem a sua noção de felicidade. Aquilo que pretendo com as minhas equipas é que se sintam felizes a trabalhar, que sintam que as suas competências são úteis e fazem falta ao crescimento da empresa e dos colegas. Preciso que se sintam felizes porque resolveram um problema, porque tiveram uma ideia genial, porque ensinaram alguma coisa a outros colegas, porque fizeram as perguntas certas. Dou-lhes esse espaço mesmo quando não concordo. Não preciso de ter sempre razão nem de levar as minhas ideias avante. Basta-me fazer a pergunta certa para que uma ideia menos adequada seja reajustada.
Olho para as pessoas com quem interajo, primeiro como fontes de conhecimento que me podem ensinar algo sobre mim própria e depois, como fontes de criatividade e solucionadores dos desafios diários. Parto sempre do pressuposto que cada um é um génio nos seus temas. Cada um traz valor à sua maneira. A minha tarefa é saber como faço cada um participar no seu melhor potencial e com o maior nível de motivação possível.
Apesar de ter aprendido algumas coisas sobre programação e computadores (sou uma espécie de help-desk da família e dos amigos) não tendo formação académica em informática ou outra área mais tecnológica. Foquei-me no desenvolvimento de soft-skills, a que chamo people-skills. Nunca percebi bem a denominação “soft-skill”. Para mim são exatamente essas as competências mais difíceis (hard) de adquirir. São as que fazem de cada um de nós um ser único. De soft não tem nada. A inexistência ou dificuldade em soft-skills pode trazer problemas muito complicados.
Apaixonada pelo que faz e pela forma pode (e tem feito) a diferença na vida das pessoas e das empresas, como se caracteriza hoje, enquanto a líder que é?
É uma boa pergunta. Não penso muito nisso no meu dia-a-dia. A minha principal motivação é manter as pessoas que trabalham direta ou indiretamente comigo focados nos resultados com espaço para serem elas mesmas. Como disse atrás, mantenho o meu desafio permanente de perceber como é a outra pessoa. Há pessoas que querem ser autónomas e há pessoas que precisam de receber ordens. Eu adapto-me a todas, mas preciso de fazer o trabalho de casa de as perceber.
Desde a senhora da limpeza ao CEO, respeito todos da mesma forma. Cada um na sua função e responsabilidade contribui para atingir os resultados a que nos propomos. Trabalho bem em qualquer ambiente onde haja pessoas, mas não tenho qualquer problema em reconhecer que muitas vezes é exaustivo. Todos sabemos que onde há pessoas há problemas, não é?
Acordar de bem com a vida e com todos é o meu primeiro passo todos os dias. Depois, tudo é mais fácil para ajudar os outros a fazer o mesmo. Sou apenas uma pessoa de pessoas.
Pessoal e profissionalmente, o que ambiciona ainda alcançar? Que marca gostaria de deixar no mundo?
Em relação à primeira parte da pergunta, quero continuar a evoluir na carreira e chegar a mais pessoas. Quem sabe dar aulas também.
Pessoalmente, vou continuar a escrever eBooks. Gosto muito de escrever e de ler. Agradeço a todos os autores dos livros, eBooks e artigos especializados que gosto o tempo que dedicaram a escrevê-los para eu poder aprender com eles.
Em relação à segunda parte da pergunta: costumo dizer que vivemos na Era do Retangolítico. Tudo à nossa volta é digital e feito com blocos de retângulos (paralelepípedos). Desde o telemóvel ao computador passando pela televisão e por outros equipamentos. A melhor marca que posso ir deixando, apesar de gostar muito de tecnologias, é lembrar que os nossos neurónios não são blocos retangulares e que todos somos génios, cada um à sua maneira.