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“Deixem as mulheres liderar”

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“Deixem as mulheres liderar”

A apoiar a OPCO há quatro anos, a Maria Mouquinho conta com uma vasta experiência em ambiente multinacional da Indústria Automóvel, onde exerceu o cargo de Diretora de Recursos Humanos, sendo ainda Formadora em diversas áreas. Claramente resiliente, o que nos pode contar sobre a sua história a nível pessoal e profissional?

Iniciei a minha vida profissional como técnica numa grande empresa, que potenciou o meu crescimento na área de recursos humanos, pois sou formada em sociologia. Tive a oportunidade de aprender com excelentes profissionais o que era o mundo do trabalho e a realidade de um departamento de Human Resources. Mais tarde surgiu a possibilidade de ir gerir esse departamento numa multinacional japonesa, o que foi um grande desafio. Essa empresa estava no início da laboração e a minha admissão teve como pressuposto a criação de todos os procedimentos e regras de recrutamento e seleção, de onboarding, de formação, avaliação de desempenho, gestão de carreiras, e toda a gestão administrativa. Em simultâneo, tinha o projeto de criação dos processos inerentes à certificação da norma da indústria automóvel – ISO TS16949 (atualmente IATF16949). Reportava diretamente ao diretor financeiro do Japão, o que me obrigou a aprender algumas frases em japonês (risos), para lidar com ele. Mais tarde, passei também a coordenar a área de melhoria contínua, abarcando o Kaizen, a gestão dos 5S’s e programas de QCC’s (Quality Control Cycles).

Como em toda a minha vida profissional, surgiu depois o convite para ir ministrar formação no centro de formação, onde comecei esta nova etapa de formadora. Inicialmente, era algo que nunca me via a fazer e achava que não tinha “jeito” nenhum, mas, após muito feedback positivo e tantas solicitações fiquei convencida de que era esse o caminho a seguir, tendo trabalhado simultaneamente para 7 empresas de formação e ministrado mais de 10 mil horas de formação em variadíssimas áreas diferenciadas: focadas em temas como: recursos humanos, Soft Skills e team building, melhoria contínua, os requisitos da norma ISO9001, TPM, entre outras. Formações cujo conhecimento foi obtido ou com formações e experiência ou somente com o conhecimento in situ nas empresas por onde passei.

Em 2017, a convite do Pedro Silva (CEO da OPCO e com quem tinha trabalhado na multinacional Japonesa) decidi abraçar este novo desafio, o de coordenar e gerir a academia de formação, com tudo o que lhe é peculiar, desde a gestão de clientes, formadores e de uma excelente equipa (my dream team), até à coordenação com os parceiros, apoio nas certificações normativas, no evento do Automotive Summit e ademais atividades.

A nível pessoal continuo a apostar na minha qualificação, estando, neste momento, a preparar a minha dissertação do mestrado de Gestão Estratégica de Recursos Humanos, focalizada na gestão estratégica de talentos na indústria automóvel.

A OPCO, enquanto elemento ativo da sociedade em que se encontra inserida, pretende desempenhar um papel ativo no desenvolvimento da mesma. Assim, procura, no âmbito da sua atuação, apoiar causas e ideias que se coadunem com os seus valores, seja a nível de responsabilidade social, ambiental e de segurança. O que tem sido concretizado neste sentido? 

A responsabilidade social das empresas envolve todas as medidas e práticas adotadas por uma organização para diminuir o impacto de suas atividades na sociedade e no meio ambiente e segurança de todo o pessoal. As medidas que adotamos espelham o compromisso que a OPCO tem com o bem-estar social e com a sustentabilidade e essas práticas estão diretamente ligada aos valores e cultura organizacional. São planeadas atividades, medidas e decisões que beneficiam as pessoas e o ambiente em que a empresa atua. Mas para vos dar alguns exemplos das ações que enaltecem a nosso preocupação: igualdade de género, saúde e bem-estar dos trabalhadores; as questões ambientais, como a utilização eficiente dos recursos e prevenção da poluição, avaliando e reduzindo o impacto ambiental do uso de recursos naturais pela empresa; a conformidade com a legislação; o estímulo da economia local e o participar e patrocinar eventos e projetos sociais, assim como criar campanhas que incentivem hábitos alinhados com a sustentabilidade. Por exemplo: economizar a água no escritório, separar o lixo de forma consciente e reduzir na impressão de manuais e de portfólios, optando pela versão digital. Pensamos globalmente as questões de cunho ambiental e avaliamos como reduzir os danos na natureza. Pensamos globalmente e agimos localmente. Por isso, temos uma parceria com uma entidade que regularmente ajudamos e que tem como principal objetivo a integração de cidadãos portadores de deficiências físicas e/ou mentais no mercado de trabalho.

A Maria Mouquinho gere as atividades gerais da OPCO e da Academia a nível das suas estratégias de divulgação de programas de formação e gestão de clientes e parcerias, desenvolvimento comercial bem como toda a gestão inerente à certificação ISO9001, VDA QMC e DGERT. Sendo assim uma profissional de referência e com responsabilidades acrescidas, como nos pode descrever os desafios e oportunidades que tem desenvolvido enquanto líder da Academia? 

O trabalho do líder não é nada fácil. Tirar planos do papel e fazer acontecer é uma grande responsabilidade, principalmente num cenário onde as coisas mudam ou atualizam a todo o momento. Assim, é importante ter a capacidade de empower as pessoas a tomarem decisões; dar feedbacks constantes; ter senso de propósito; valorizar o erro inédito com a aprendizagem; ter disponibilidade no ouvir o outro e inspirar e motivar. É preciso tomar atitudes para que a liderança seja a impulsionadora do negócio e não o contrário. Para isso acontecer temos reuniões semanais de ponto de situação ao nível financeiro e comercial, administrativo, de marketing e estratégico. Pois tenho em mente que a liderança não é técnica, mas sim comportamental. Para além destes desafios diários, lançámos em 2018 uma revista (revista Industrial Fórum Portugal), em 2019 promovemos o Automotive Summit em Aveiro de forma presencial e em 2020 e 2021 tivemos que converter esse evento para o registo digital. Outro grande desafio convertido em grande oportunidade foi o de passar as ações de formação 100% presenciais para 100% online um mês depois da chegada da pandemia. Restruturar processos, formas de agir e interagir, de repensar o nosso saber fazer para nos adaptarmos a esta nova realidade e às novas necessidades dos nossos clientes e parceiros. E mais uma vez fomos bem-sucedidos. A isso agradeço à equipa magnífica e ao apoio dos nossos clientes e parceiros.

Uma das skills pela qual está responsável na OPCO é coordenar instrutores externos. No seu ponto de vista, o que é mais complexo na arte de liderar pessoas? E o mais gratificante?

No nosso evento deste ano do Automotive Summit uma das nossas oradoras que está focada em pessoas e comunicação, perante a questão de qual a soft skills mais importante nos dias de hoje considerou a liderança.  De facto, uma das coisas que aprendi foi o de que com um mundo e com organizações tão complexas, os raciocínios analíticos e os modelos tradicionais de liderança tornaram-se obsoletos, por não resolverem conflitos e problemas mais profundos. Por isso, são necessários novos modelos de liderança compartilhada e adoção de abordagens que ativem a inteligência coletiva. É quando a equipa colabora para um fim comum, respeitando-se os diferentes comportamentos e atuações numa dinâmica de grupo, que se alcança a meta. A liderança é, de facto, uma arte e o líder deve de ser um motivador em que as pessoas tem prazer em seguir e não alguém que, de acordo com a hierarquia, é obrigado a obedecer. Um bom líder terá que ter inteligência emocional e habilidades de relacionamento. E é este modo de atuação que impera na OPCO. O mais gratificante é ver a evolução profissional da equipa e a motivação e concretização das atividades com todo o sucesso pelo que somos conhecidos. Os nossos resultados são possíveis e sempre alcançáveis porque há direcionamento da equipa assim como colaboração. Os processos são entendidos, os desafios conhecidos e os objetivos traçados com o input de todos.

O grande desafio é a capacidade de gerir pessoas com skills diferentes, personalidades diferentes e fazer com que isso tudo se equalize, para que a equipa trabalhe em harmonia, mantendo um ambiente de trabalho saudável. Há que entender as diferenças e ganhar com as semelhanças.  É gratificante poder partilhar diariamente, no nosso skype interno, o feedback excelente e diário dos nossos clientes, referindo que o nosso acompanhamento, celeridade, profissionalismo é ímpar. É motivante quando nos dão os parabéns pela excelente organização dos eventos que promovemos. Agradecerem pelo serviço de excelência que prestámos. Liderança também é toda esta partilha.

Enquanto exemplo de liderança feminina, que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores?

Parafraseando Kamala Harris, “as mulheres são a espinha dorsal da nossa sociedade”. Felizmente, encontrar mulheres na liderança deixou de ser uma surpresa, mas, infelizmente, continua a ser raro encontrá-las no topo das hierarquias empresariais. A mensagem que gostaria de deixar era a de que com trabalho duro e crença, mesmo que tropeçando e sendo derrubado, a fé em si mesma levá-la-á a grandes voos. Um dos meus chefes japoneses uma vez disse-me que o líder é o que constrói consenso numa discussão e é essa a referência que gostaria de deixar aqui: faça todo o bem que puder, ao máximo de pessoas que puder e enquanto puder.

Mas estatisticamente está provado que o facto de o líder ser mulher potencia a diversidade de ideias e favorece a criatividade e o desenvolvimento de inovação. Perdoem-me os homens (risos), mas enfatizo que as caraterísticas que potenciam a liderança na mulher são a tendência à cooperação para o compartilhamento de problemas e soluções;  a maior flexibilização para romper com padrões ou processos rígidos; a empatia, percebendo as dores e necessidades alheias, pensando nas oportunidades de atendê-las; a maior desenvoltura no relacionamento interpessoal, promovendo a escuta ativa e construindo relacionamentos de qualidade e também na negociação com parceiros, fornecedores, clientes, gerando uma vantagem competitiva relevantes e a promoção de um clima organizacional leve pela abertura ao feedback e há ajuda mútua, proporcionando ambiente acolhedor e clima agradável e retendo os talentos. Enfim, priorizamos a harmonia e a produtividade no ambiente de trabalho. Estas são as caraterísticas enraizadas na mulher líder. E por tudo isso peço: deixem as mulheres liderar.