A Sociedade que representa a especialidade médica e cirúrgica que trata a saúde digestiva dos portugueses tem agora como Presidente Guilherme Macedo. Enquanto médico, professor catedrático e ainda investigador clínico, o nosso entrevistado afirmou que os próximos dois anos espelham uma fase desafiante, tendo em conta a pandemia que os obrigou a reorganizar a prestação de cuidados e a definir prioridades. Por outro lado, acredita ser tempo de os sistemas de saúde público e privado reanalisarem a prestação de cuidados e equilibrarem a resposta à população, investindo e amplificando a prevenção e a promoção de estilos de vida saudáveis.
Entre as muitas adversidades conhecidas e provocadas pela pandemia que vivemos a nível mundial, segundo o inquérito realizado pela Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia no âmbito do Mês da saúde digestiva (que se assinala anualmente em junho), 69 por cento dos inquiridos acreditam que o período pandémico esteve na origem de atraso na realização de exames de diagnóstico. Por este motivo é, para Guilherme Macedo, urgente retomar a atividade, continuar a promover a sensibilização sobre a prevenção e não permitir que a situação atrase o diagnóstico destas doenças, particularmente as do domínio oncológico. “É possível ter, desde já, a perceção e o impacto negativo destes atrasos. Posso dizer que, por exemplo, houve uma redução de 150 mil procedimentos endoscópicos em todo o país durante o ano passado. Isto quer dizer que, em termos de rastreio, o número também diminuiu drasticamente. Mas temos outras constatações… embora no que diz respeito às consultas externas conseguíssemos de alguma forma substitui-las pela teleconsulta, é evidente que é insubstituível o contacto personalizado entre o médico e o doente, sendo que houve uma redução global nesta área de cerca de 25 por cento no ano passado. Mas estamos a recuperar de todos esses atrasos”, afirma.
A recuperar, assim, de meses longos de contratempos, importa agora reformular, reestruturar e olhar para o futuro com planos bem traçados e propósitos claros que vão ao encontro das principais missões da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia: promover o desenvolvimento da área ao serviço da saúde da população portuguesa, estimular a investigação, difundir ideias, desenvolver atividades educacionais, entre outras.
Prevenção, Diagnóstico Precoce e Tratamento das doenças digestivas
A saúde digestiva ocupa um papel central nas nossas vidas. O aparelho digestivo, cujos órgãos são responsáveis pela absorção, mobilização e integração de nutrientes, é essencial para a sobrevivência humana e a elevada incidência de patologias digestivas junto dos portugueses justifica a seriedade da consciencialização para este tema. Em particular, é de extrema relevância sublinhar a importância do papel do Gastrenterologista na saúde digestiva no seu primeiro pilar fundamental: a prevenção. “De uma forma geral tem havido, ao longo dos anos, uma progressiva perceção pública da importância da identificação e diagnóstico precoce, em particular nos territórios da saúde digestiva. Mas essa crescente perceção ainda não é suficiente e está longe disso. Algo muito importante e que as pessoas deviam entender é a importância do rastreio e que é um pequeno esforço adicional que lhes permite ganhar anos de vida saudável. É um desafio que as nossas campanhas e a nossa capacidade de mobilização inteletual tem de superar e, nesse aspeto, penso que a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia tem sido um esteio decisivo para a melhoria da qualidade de saúde global dos portugueses”, salienta Guilherme Macedo, acrescentando que “1/3 da população portuguesa tem um problema digestivo para resolver, com menos ou mais gravidade, mas não deixa de ser um número muito elevado”.
Exatamente para combater esta percentagem é que se deve, imprescindivelmente, assegurar a obtenção de melhores resultados de diagnóstico precoce, melhorando a gestão da saúde e, inclusive, a eficácia dos tratamentos. “É por isso que para nós é muito importante a questão do rastreio e a prevenção, por exemplo, do cancro colorretal por colonoscopia. Só este tipo de endoscopia, que é o nosso braço armado, digamos assim, permite identificar uma lesão e, muito melhor do que isso, permite removê-la logo. Temos de reforçar esta mensagem forte de que a melhor estratégia de prevenção é com um procedimento endoscópico. É real, universal e adotada pelos países mais desenvolvidos”, sublinha o Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.
Cabe a todos os indivíduos estarem atentos a determinados sintomas e, cabe, essencialmente, ao especialista da saúde digestiva ter a perceção do momento e oportunidade de utilização de meios de diagnóstico, sendo que, para Guilherme Macedo, a comunidade médica tem o reflexo certo, “quando há um sintoma ou uma dúvida que sugira um problema digestivo, a acessibilidade ao procedimento endoscópico tem de ser imediata. E neste momento, em Portugal, isso é possível. Não estamos a falar só de rastreio, estamos a falar também de acessibilidade, de diagnóstico e de terapêutica”.
Recomendações individuais de prevenção
A preocupação do ser humano com a saúde tem vindo a aumentar nos últimos anos. A consciência de que os hábitos prejudiciais (vícios comportamentais) devem ser substituídos por hábitos benéficos (virtudes), leva à diminuição do risco de desenvolver doenças digestivas.
Segundo o nosso interlocutor, “quanto melhor nos nutrirmos, quanto melhor soubermos descansar e quanto melhor dotarmos o nosso organismo de capacidade física e circulatória, é evidente que estamos a criar condições para que a nossa saúde digestiva seja favorecida. Essencialmente, damos muitas recomendações na área nutricional, ou seja, comer bem, variado, não permitir sobrecarga de peso e ter uma saúde física regular – porque podemos garantir que esta encontra-se intimamente ligada a uma boa saúde digestiva”.
Os próximos passos da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia
Várias são as iniciativas pensadas e desenvolvidas para o futuro da atividade da Sociedade e, uma delas, passa pela proximidade com a população que assumirá um papel central de interpretar as necessidades da comunidade portuguesa, bem como sublinhar a importância do Gastrenterologista.
Sendo uma entidade que tem como objetivo promover a saúde digestiva, a SPG desenvolve campanhas de sensibilização que estão orientadas para diferentes áreas deste domínio. “Temos momentos consagrados para as doenças do fígado, outros mais direcionados para a prevenção contra o cancro colorretal, outros relacionados com as doenças do pâncreas…”, certifica Guilherme Macedo e complementa que “um dos projetos específicos e que já iniciámos este ano tem a ver com a consagração do Mês da saúde digestiva (junho), um período em que abordamos muito especificamente toda a promoção da qualidade da saúde digestiva dos portugueses”.
Inerentemente, a Sociedade tem um corpo de especialistas que está disponível para ajudar a população e os decisores políticos a formalizarem opções e a adotarem medidas para o futuro da saúde digestiva.
Enquanto Presidente da SPG, Guilherme Macedo assume que é um privilégio poder ter a oportunidade de liderar uma equipa que deve influenciar positivamente a população, alguém que acompanha e apoia, nas diferentes fases da vida, a saúde digestiva dos portugueses.