Primeiramente interessa conhecer melhor quem é a Susana Costa enquanto pessoa e profissional. O que nos pode contar sobre o seu percurso até chegar à liderança da Sagaci Research Mozambique?
Sou psicóloga de formação. Fiz Psicologia Social e das Organizações com uma especialização em Comportamento do Consumidor. Desde cedo me interessou o entendimento das tomadas de decisão ligadas ao consumo. Por isso escolhi os estudos de mercado como área para trabalhar.
Quando terminei o curso (e ainda antes da pós-graduação) iniciei um estágio na então empresa líder de estudos de mercado em Portugal. Achei que devia tentar a melhor “escola” para o fazer e não hesitei. Fiquei até ser técnica sénior na área de Estudos Qualitativos, os que vão buscar mais enquadramento teórico e prático à Psicologia.
Aprendi nessa altura que devia sempre procurar ativamente trabalhar nas empresas que mais me inspirassem e não nas que simplesmente tivessem uma vaga para mim. E assim foi. Passados poucos anos aceitei criar um departamento de Estudos Qualitativos noutro grande grupo internacional. Depois desse passo fiquei também responsável pela área Quantitativa e foi como Head of Client Service que tive a minha primeira função de liderança.
Numa fase em que o setor dos estudos de mercado foi um dos que sofreu devido à crise, surgiu a oportunidade de ir para África. Ao fim de 16 anos de experiência em Portugal reapaixonei-me pelo que já gostava muito de fazer, agora num contexto novo e profundamente desafiante.
África era um mercado com características opostas ao do maduro mercado Europeu. O consumo estava a emergir e os consumidores com dinâmicas completamente diferentes. Foi, e continua a ser, uma interessante descoberta. Descoberta essa que partilhamos com os nossos clientes todos os dias.
Juntei-me nessa altura à Sagaci Research que iniciava, tal com eu, um entusiasmante projeto em África. Fui responsável por iniciar o projeto em Moçambique e, mais tarde, em Angola.
A minha história profissional teve um fio comum. Foram-me dadas oportunidades que muito me interessavam e eu agarrei-as com toda a motivação. Mais do que isso, foi-me depositada confiança através das funções de liderança que exerci e eu “retribuí” à medida. O percurso foi sempre exigente, mas foi ainda mais gratificante e, por isso, sobressai muito mais o lado positivo da viagem.
Atualmente sou Country Manager de Moçambique e Angola. Mais tarde adicionei a função transversal de Qualitative Global Topic Leader, significando que sou responsável pelos projetos qualitativos em todos os países Africanos em que a Sagaci Research opera.
A Sagaci Research é líder na recolha de dados e análises do mercado africano, tendo uma poderosa presença em vários países. Quais diria que têm sido os fatores determinantes que trouxeram a empresa ao reconhecimento?
Diria que se trata de uma combinação de vários fatores. África tinha uma dinâmica de consumo pouco desenvolvida e a atenção internacional estava focada noutras geografias, o que, entretanto, se alterou.
África era um mercado “pouco servido” no que dizia respeito a pesquisas de mercado ao longo do continente. Muitos países/mercados eram pequenos e, per si, pouco interessantes do ponto de vista do negócio. O facto de nós trabalharmos muitos países de forma integrada trouxe outra perspetiva.
Por outro lado, desenvolvemos uma oferta muito pragmática e adaptada a África e com uma forte componente tecnológica, diferente da abordagem mais “tradicional”.
Fizemos uma grande aposta na recolha online. Com isso desenvolvemos metodologias de recolha modernas e facilmente escaláveis. Temos painéis online em grande parte dos países africanos.
Também apostámos em algumas áreas vencedoras como as análises do retalho. Nesse âmbito, proporcionamos aos nossos clientes uma visibilidade muito clara sobre a performance das suas marcas nos pontos de venda, quer no mercado formal quer informal. Temos census e audits que mapeiam pontos de venda em cidades inteiras ao detalhe. Isso permite aos clientes terem um conhecimento completo e em tempo real da sua performance e, com isso, poderem desencadear reações rápidas e muito mais efetivas.
Mas diria que o profundo respeito por África foi o fator mais diferenciador. Querendo com isso dizer, que não trazíamos um modelo feito noutros continentes. Construímos um modelo tendo em conta as especificidades dos mercados africanos e o valioso contributo das equipas locais que queremos que cresçam connosco.
A Sagaci Research fornece aos seus clientes as ferramentas necessárias para navegarem com sucesso nos mercados africanos. Para melhor entender, como nos pode descrever os serviços que disponibiliza?
Somos uma empresa que recolhe informação sobre o consumidor e os mercados de modo a ajudar os nossos clientes a tomarem decisões informadas em África.
Na qualidade de Country Manager desta empresa, como é para a Susana Costa ocupar um cargo de liderança e, por sua vez, de extrema responsabilidade? Como se caracteriza enquanto líder?
Gosto naturalmente de ocupar cargos desta natureza. O sentido de responsabilidade sempre foi um dos meus pontos mais fortes. Por outro lado, atravesso-me pelos objetivos e pelas pessoas. Penso que, em geral, tenho em conta as forças de cada elemento da equipa e trabalho isso em prol dos objetivos da empresa e do crescimento de cada um.
Gosto de crescer pessoal e profissionalmente e de ajudar as pessoas que gostam do mesmo.
O que a motiva e inspira na sua atividade diária, quer a nível pessoal como profissional? Que marca gostaria de deixar no mundo?
São as histórias de sucesso que me motivam. Os negócios e marcas dos nossos clientes que prosperam, tendo por base a informação e os insights que fornecemos.
Motiva-me “fazer bem feito” e proporcionar aos outros, clientes e equipa, os resultados positivos que daí advêm.
Sou muito focada nos resultados, quer pessoal quer profissionalmente. Tenho objetivos claros em ambas as esferas e, no dia-a-dia, trabalho em conformidade. Usufruo muito de momentos de pausa, adoro viajar e de muita aventura, mas sabem-me muito melhor esses momentos quando, pessoal e profissionalmente, “estou em dia” com aquilo a que me propus.
Um dos meus filhos diz uma coisa com alguma piada… que eu sou a única pessoa que ele conhece que, em nenhum dia da sua vida, teve preguiça. Acho que essa é uma das minhas marcas que fica…
Devido aos limites que a sociedade ainda impõe, é fácil para uma Mulher conciliar uma carreira profissional de sucesso com a vida pessoal? Ou é necessário abdicar ou descurar de uma em detrimento de outra?
Parece que eu tenho uma experiência peculiar sobre isso.
Para começar, tenho dificuldade em olhar para a carreira profissional e vida pessoal como “forças contrárias”. Para mim jogam ambas um papel importante e não estão dissociadas. Sempre dei muita importância a ambas e nunca senti grande pressão no equilíbrio, apesar do esforço real e inevitável que é necessário.
Nunca senti que abdicasse ou que descurasse alguma delas… se não fiz melhor na minha vida profissional ou pessoal, foi porque não soube fazer melhor… e nunca por “culpa” uma da outra.
Trabalhei inúmeras horas extra. Inúmeras vezes reprogramei férias. Se isso prejudicou a minha vida pessoal? Acho que não. É preciso não confundir estar muito tempo com a família com ter tempo de qualidade com a família. Penso que é isso que é preciso saber gerir.
Sem dúvida que a minha mudança para África teria constituído o momento de maior impacto na minha vida pessoal. Tinha filhos pequenos e uma vida organizada em Lisboa. Muita gente não teria ido pela dificuldade da decisão, por medo disto e daquilo, a incerteza, a mudança… para não abdicarem…
Se eu abdiquei de alguma coisa? Abdiquei de ficar “quietinha” em Lisboa com a vida a correr sem alterações. Mas nunca foi isso que quis para mim… por isso não abdiquei de nada, pelo contrário. E hoje, os meus filhos, já adultos, são pessoas muito mais felizes e valiosas por terem tido essa incrível experiência.