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Uma história sobre a diabetes no centenário da descoberta da insulina

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Uma história sobre a diabetes no centenário da descoberta da insulina

Luís Gardete Correia, Endocrinologista, Presidente da Fundação Ernesto Roma

Estamos a falar, principalmente, da diabetes tipo 1, pois a diabetes tipo 2 tinha pouca expressão à época (a esperança de vida era curta, havia pouca obesidade e a alimentação era mais saudável e comedida). Como é característico da diabetes tipo 1, as pessoas perdiam muito peso, bebiam muita água e ficavam sem forças, obrigando-as a recolher a casa e mesmo à cama. Ao fim de algumas semanas, ficavam completamente desnutridas e num período mais ou menos curto, entravam em coma e acabavam por falecer.
A diabetes é uma doença que já era descrita no Antigo Egito. O papiro de Ebers data de cerca de 1550 anos A.C. e é o mais antigo documento encontrado até hoje, fazendo referência a uma doença que se assemelha à diabetes. Durante o séc. XIX, o patologista alemão Paul Langerhans descreveu a anatomia e histologia de formações isoladas e dispersas no seio do pâncreas e denomina-as de ínsulas (de onde deriva o nome da insulina), mais tarde Ilhéus de Langerhans.
No início do séc. XX, Eugène Gley, Georg Ludwig Zuelzer, e Nicolae Paulesco demonstraram que, ao se injetar extrato pancreático em cães pancreatectomizados (tornados diabéticos por extração do pâncreas) reduzia-se a glicosúria (açúcar na urina). Foi, no entanto, pouco tempo depois, que os canadianos Frederick Banting e Charles Best, sob a supervisão do escocês John James Rickard Macleod, diretor do laboratório de Fisiologia da Universidade de Toronto, e do bioquímico James Collip, isolaram e obtiveram um extrato com insulina.
A 11 de janeiro de 1922, no Hospital Geral de Toronto, Leonard Thompson, um jovem de 14 anos com diabetes, em estado comatoso, recebeu o extrato pancreático produzido por Banting e Best e recuperou, em dias, para a vida. Leonard Thompson é considerado a primeira pessoa com diabetes a ser tratada com sucesso com insulina.
Por este feito, em 1923, Banting e Macleod receberam o Prémio Nobel em Fisiologia ou Medicina pela descoberta da insulina.
No contexto português o destaque vai para o médico Ernesto Roma que, em 1926, cinco anos depois da descoberta da insulina, fundou a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, a primeira associação criada no mundo para apoiar as pessoas com diabetes. Roma criou uma escola de formação de pessoas com diabetes para melhor gerirem a doença e, também, um centro de formação de técnicos de saúde naquela especialidade, que perdura até hoje como uma clínica modelar nos cuidados às pessoas com diabetes.
Para assinalar as comemorações dos 100 anos da descoberta da insulina, constituiu-se uma Comissão Executiva das Comemorações do Centenário da Descoberta da Insulina, com três elementos que acompanharam mais de meio século da história da insulina, José Luís Medina, endocrinologista e Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina do Porto, Manuel Almeida Ruas, endocrinologista, Fundador e Ex-Diretor do Serviço de Endocrinologia dos Hospitais Universitários de Coimbra, e eu próprio.
Organizámos uma exposição itinerante que se encontra a percorrer as diferentes Faculdades médicas do país. Já esteve na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. No próximo ano letivo poderá ser visitada na Universidade do Minho, na Universidade da Madeira e na NOVA Medical School, entre outras paragens ainda por programar.
Com estas comemorações e com esta exposição em particular, pretendemos manifestar o nosso apreço pelos investigadores de todo o mundo, pelo seu contributo para que a diabetes seja combatida com sucesso.