Portugal tem conquistado o mundo nos últimos anos e está na mira de turistas e de investidores que, por sua vez, contabilizam para o aumento de negócios no setor imobiliário. A qualidade de vida que Portugal oferece, aliada a cidades cosmopolitas como Lisboa e Porto, tem sido um fator determinante para o investimento imobiliário português? Porquê?
Nos últimos anos temos assistido efetivamente a uma procura crescente de clientes/investidores estrangeiros. Aliás, com base nos dados do Banco de Portugal, no primeiro trimestre deste ano houve um investimento estrangeiro na ordem dos 1,7 mil milhões de euros na economia Portuguesa, sendo que o grande impulso é a atividade imobiliária. Uma vez que durante a pandemia que vivemos não houve medidas de contenção na atividade da construção, manteve-se o interesse em novos projetos, principalmente no imobiliário residencial. Quer seja pelo investimento nessa área (com vista ao retorno certo), também o baixo custo de vida, o nosso clima e o nosso litoral, e a recetividade das nossas populações, são fatores preponderantes para captar cada vez mais clientes estrangeiros. Já em 2017, a Christie’s International Real Estate elencava Porto e Lisboa no grupo das 10 cidades mundiais com maior destaque, e ao longo destes anos esse destaque foi ganhando mais preponderância.
De forma a contextualizar o leitor, quais são as vantagens de investir no imobiliário em Portugal e que diferem, essencialmente, de outros países?
Não podemos dissociar esta questão das características que nomeei acima. A paisagem, o clima, as nossas gentes e a segurança, são fatores determinantes para Portugal estar no radar do interesse estrangeiro. Do ponto de vista económico, os investidores percebem que para os seus padrões os preços imobiliários são baixos, e os rendimentos do arrendamento são elevados. Por outro lado, assistimos nos últimos anos a um grande crescimento do setor to turismo que tem impacto direto no setor imobiliário. Reconhece-se em Portugal grandes oportunidades na abertura de empreendimentos turísticos, alojamentos locais e exploração de arrendamento turístico. Mesmo com o impacto da pandemia neste setor, o que sentimos é que os investidores estrangeiros sabem que haverá um retorno à normalidade (mais cedo ou mais tarde), e estão dispostos a esperar e a continuar a investir no nosso país.
Em tempos de pandemia, muitos profissionais foram obrigados a aplicar o tema do teletrabalho, sendo que hoje é considerado como “o novo normal”. Assim, quão legítimo é afirmar que os Estrangeiros poderão fazer de Portugal o porto seguro do teletrabalho? Terá sido uma oportunidade e uma porta aberta para os Estrangeiros que queiram aqui residir?
Sem dúvida que o teletrabalho veio para ficar, ainda que apenas para algumas atividades. Não nos podemos esquecer que somos humanos e a sociabilização, ainda que em contexto laboral, é fundamental para a nossa condição. É legítimo pensar que uma vez que se pode trabalhar a partir de casa, esta casa terá de ter outras condições. Conseguimos observar que há uma vontade de “fugir” da confusão das grandes cidades e com maior densidade populacional, para locais com melhor qualidade de vida. Mesmo considerando que Porto e Lisboa são cidades cosmopolitas, continuam a ser “cidades médias” comparadas com outras capitais mundiais. Há mais proximidade, mais sentido de vizinhança, e mais segurança. Replicando isto com mais impacto ainda nas cidades periféricas, Portugal é sim uma porta aberta para os clientes estrangeiros.
Considera que Portugal tem potencial para agarrar esta oportunidade, adotando um sistema fiscal atrativo e simples, não só para os nómadas digitais, mas para todos os cidadãos? Estamos no caminho certo?
Desde a criação do regime fiscal do Residente Não Habitual (RNH) em 2009, que assistimos a um crescimento anual constante de adesão a este programa. O mesmo se passou com os vistos gold. Este sistema fiscal de excepção ajudou a alavancar o investimento imobiliário, a reabilitação urbana, e até a criar mais emprego nas áreas da construção, imobiliário e turismo. Na minha opinião era o caminho certo. Será interrompido com as alterações que estão previstas para ambos os programas, quer seja pela tributação de taxa extra para os RNH, a limitação de prazo para os benefícios fiscais, e mais impactante, a limitação aos vistos gold. A partir de janeiro de 2022, só haverá concessão destes vistos se a aquisição de imóveis for feita em território interior e nas regiões autónomas. Sentimos que há uma urgência dos clientes estrangeiros neste momento, porque estas restrições não são bem-vindas para eles. Penso que algumas destas alterações deveriam ser reconsideradas, principalmente numa altura pandémica, em que o investimento em Portugal é tão necessário.
Há algum tempo que o tema da gestão da poupança tem sido alvo de escrutínio entre os profissionais de gestão de ativos, sendo que, os mesmos, dizem sentir hoje mais obstáculos e desafios no modo como gerem a poupança. Mas serão mesmo obstáculos, ou novas oportunidades de alocar melhor a poupança para otimizar os retornos a longo prazo? Qual é a sua opinião?
Com esta crescente circulação de cidadãos (e neste tema, principalmente a circulação entre estados membros da União Europeia) tornou-se claro que deveria existir opções claras, simples e transversais para a gestão de ativos de poupança. Não obstante, penso que existirá sempre questões fiscais que devem ser pensadas em conjunto para que os programas possam funcionar em pleno. É evidente quanto a mim que, com a pandemia ainda não estabilizada, cresce a necessidade de haver uma maior atenção às dinâmicas do mercado e existir flexibilidade para alterar condições se assim for mais conveniente. Não só a gestão de poupança carece de mais flexibilização, como deve haver uma comunicação clara no sentido de captar a atenção dos mais jovens para essa questão.
De que forma a Century 21 Arquitetos Porto e Gondomar tem promovido Portugal, enquanto país de eleição para viver, bem como estas temáticas mencionadas? Quão importante é ter estes profissionais especializados a orientar caminho para quem acaba de chegar?
Há duas ferramentas elementares e preponderantes na atividade imobiliária. Aliás, penso que o foco do gerente destas empresas deve estar nestas duas ferramentas: a formação e o marketing. Desde o início que tento apostar na formação da minha equipa nos mais variados temas, sendo que a fiscalidade imobiliária é uma das preocupações. Os nossos consultores têm de estar preparados para os programas de RNH e vistos gold, e ter também ao seu serviço um leque de profissionais que os possam assessorar (sejam eles da estrutura ou avençados da empresa). Por outro lado, temos vindo a cimentar a nossa estratégia de marketing, também tendo em vista o cliente estrangeiro. A propósito, estamos neste momento a gravar spots publicitários com essa temática para lançar depois nos canais digitais privilegiados.
Respondendo de uma forma mais direta, não é só importante que os nossos consultores saibam orientar quem chega a Portugal. É condição sine qua non para um profissional desta atividade.
Na sua opinião, como estará Portugal e o mercado imobiliário dentro de 10 anos? É possível, desde já, traçar as transformações futuras?
Daquilo que se pode prever, e considerando as flutuações económicas naturais do imprevisível, acho que neste momento só podemos falar da reinvenção do habitar e do trabalhar. Ou seja, dado o impacto desta pandemia, com toda a certeza vamos assistir a um reinventar da habitação e dos espaços de trabalho. Muito se tem falado sobre a tendência da “hotelização” em ambos os espaços, traduzindo um modo de vivência com base nos modelos da hospitalidade e hotelaria. Num contexto de trabalho, a fluidez e flexibilidade serão as palavras de ordem, e isso terá sempre muito impacto nos novos projectos e nas suas localizações. Do ponto de vista habitacional, deveremos assistir a novos empreendimentos já com serviço tipo concierge, que agilize questões práticas como a manutenção da casa, as compras de mercearia, lavandaria, etc. A par desta alteração ideológica, haverá certamente uma grande componente tecnológica, e com vista à sustentabilidade.