“Sempre considerei que com esforço, perseverança e muito trabalho tudo é possível”

Foi em fevereiro deste ano que Maria João Escudeiro abraçou a Vice-Presidência do Politécnico de Lisboa. Não tendo ao longo do seu percurso o objetivo total de liderar, a vida mostrou-lhe ser este o seu caminho. Numa instituição profundamente dedicada a formar cidadãos responsáveis e qualificados, apresenta-se como um espaço “de liberdade e de responsabilidade vocacionado para o ensino, a investigação e a criação artística”, tal como a nossa entrevistada afirma. Conheça mais.

706

O Politécnico de Lisboa, que desenvolve a sua atividade através de seis Escolas e de dois Institutos com oferta formativa diversificada, é um espaço de liberdade e responsabilidade e que oferece o seu contributo ao país através da formação de profissionais de reconhecida competência. Enquanto Vice-Presidente, como nos pode descrever os marcos mais importantes e fundamentais do mesmo até ao momento?
É missão do Politécnico de Lisboa (IPL) a criação, transmissão e difusão de conhecimento nas suas áreas do saber – artes, comunicação, educação, saúde, engenharia e ciências empresariais, através de seis Escolas e dois Institutos: Escola Superior de Dança (ESD), Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx), Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (ISCAL), Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL) e Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL).
Enquanto instituição de ensino superior, os estudantes são uma prioridade para o IPL. Assim, as questões da inclusão, apoio social, sucesso escolar e empregabilidade, são áreas prioritárias. Complementarmente, procurando dar resposta às exigências e tendências atuais, estamos a dar início a um novo percurso em termos das competências transversais e do ensino a distância.
Estamos também conscientes que, o crescimento e sucesso do ensino superior e da formação que nele é ministrada é indissociável das atividades ao nível da Investigação, Desenvolvimento, Inovação, Criação Artística e Empreendedorismo, por isso, temos vindo a trilhar um percurso neste âmbito.
Complementarmente, o Politécnico de Lisboa está comprometido com o nosso planeta, que como sabemos, enfrenta enormes desafios económicos, sociais e ambientais, por isso, temos como mote da nossa ação a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, investindo nas áreas da Sustentabilidade Ambiental, Responsabilidade Social, Voluntariado e na Saúde da comunidade académica.
Em síntese, com um foco nestas áreas complementares, o Politécnico de Lisboa apresenta-se como um espaço de liberdade e de responsabilidade vocacionado para o ensino, a investigação e a criação artística.

Com uma larga empregabilidade no espaço nacional e internacional, o IPLisboa encontra-se empenhado ainda em fortalecer as relações internacionais, em particular com os seus parceiros da União Europeia e dos países de expressão portuguesa. Quão importante é esta dinâmica para a credibilidade e sucesso do Politécnico de Lisboa?
A internacionalização é um pilar estratégico do desenvolvimento do Politécnico de Lisboa, enquanto processo de integração da dimensão intercultural no ensino, na investigação e nos serviços da instituição, sendo que nos últimos anos temos vindo também a investir na captação de estudantes internacionais.
O Politécnico de Lisboa participa no programa Erasmus desde 1987, tendo mais de 550 acordos interinstitucionais, que têm possibilitado não só a mobilidade de estudantes, docentes e não docentes, mas também o acolhimento de diversos encontros internacionais, vários workshops e MasterClasses, que permitem a partilha e a disseminação de conhecimentos e experiências, representando um complemento formativo para os nossos estudantes.
Mais, as taxas de empregabilidade do Politécnico de Lisboa encontram-se, globalmente, acima dos 90%, sendo uma evidência da qualidade do nosso ensino. Os nossos alumni são o rosto do Politécnico de Lisboa em Portugal e no Mundo, sendo eles que elevam o nome desta instituição de ensino.

É de extrema relevância conhecer um dos rostos que está por detrás do IPLisboa. O que nos pode contar sobre a Maria João Escudeiro e sobre o seu percurso pessoal e profissional até chegar à Vice-Presidência do Politécnico de Lisboa?
Desde fevereiro de 2021 que tomei posse como vice-presidente do Politécnico de Lisboa, sendo para mim uma honra e uma imensa responsabilidade assumir estas funções.
Sou natural de Tomar, tenho 39 anos, sou casada e tenho dois filhos, a Mariana e o Gonçalo.
Quanto ao meu percurso académico, fiz a minha licenciatura em Direito na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa em 2005. Em 2014 concluí o meu doutoramento em Ciências Jurídico-Criminais na Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa.
Relativamente ao meu percurso profissional, desde 2008 que sou docente do ensino superior, tendo passado por várias instituições. Em 2014 juntei-me ao o Politécnico de Lisboa, tendo desempenhado as funções de Pró-Presidente para a Internacionalização do ISCAL, de 2018-2021.

Quão gratificante é para Si trabalhar neste projeto, que envolve tantas áreas e personalidades distintas?
É extremamente gratificante e um desafio enorme. Tenho a meu cargo aquele que considero um relevante e desafiante pelouro do Politécnico de Lisboa, que é a área académica e que me faz acreditar que podemos contribuir para uma sociedade melhor, não tanto no anseio de melhores médias nas conclusões dos cursos, mas sim como poderemos contribuir para formar cidadãos mais responsáveis, ativos e com um verdadeiro sentido de respeito pelos outros. Não seja eu jurista, mas considero que a nossa marca pode passar por esta visão.
O facto de trabalhar com personalidades que admiro, que considero altamente competentes e empenhadas tem sido uma aprendizagem que me tem proporcionado momentos de partilha de conhecimentos fundamentais para o meu enriquecimento pessoal. O sucesso deste projeto, que é um caminho que se faz caminhando, só é possível com a equipa da presidência que é extraordinária, muito por força da sua capacidade de trabalho e multidisciplinariedade.

Soube, desde cedo, que a sua personalidade se encaixaria num cargo de liderança ou percebeu à medida que foi abraçando determinados desafios?
Quando ingressei na carreira de docente do ensino superior em 2008 tinha como objetivo prosseguir e desenvolver a minha investigação na área jurídica e, nessa altura, não pensava em fazer parte de cargos de gestão.
Com o passar dos anos, com a conclusão do meu doutoramento e com a minha chegada ao ISCAL – IPL comecei a estar mais ligada à Presidência. Juntando a isso o facto de ter ocupado os cargos de secretária e vice-presidente do Conselho Técnico-Científico, essa hipótese começou a florescer. Na realidade não pensava que aos 39 anos poderia ser vice-presidente de uma instituição com a grandeza do Politécnico de Lisboa, que conta com cerca de 14.000 alunos, mais de 1.000 docentes e mais de 400 funcionários não docentes, mas fico muito feliz e agradecida por reconhecerem a minha competência e as minhas capacidades e que poderia ser uma mais-valia para a Instituição.

Licenciada em Direito, Doutorada em Ciências Jurídico Criminais – e mesma área de investigação, como é ser Mulher neste universo complexo e rigoroso?
Considero que a concretização de objetivos não é fácil e no meu caso em particular, sempre trabalhei muito para atingir os meus, por exemplo, eu terminei o curso de Direito, que ainda era pré-bolonha e, portanto, de 5 anos, um semestre mais cedo ao mesmo tempo que fazia uma Pós-Graduação em Estudos Penitenciários, tendo concluído a licenciatura e a Pós-Graduação com diferença de um mês. Mais, aos 33 anos concluí o meu Doutoramento e estou muito orgulhosa do meu percurso académico e profissional que penso que reflete o meu empenho e ambição. Sempre considerei que com esforço, perseverança e muito trabalho tudo é possível.
Da minha parte nunca senti que por ser mulher houvesse mais ou menos entraves para concretizar os meus objetivos. Confesso que não gosto muito quando se limitam as questões do acesso a cargos de chefia ou de gestão a questões de género, considero muito redutor. Também não me identifico com as afirmações de que as mulheres são à partida prejudicadas ou discriminadas, não se pode generalizar desta forma. Eu, sou mulher, mãe e fiz o meu percurso com muito trabalho e mérito próprio, portanto, há espaço para cada um, independentemente do seu género fazer um caminho de sucesso.

Daqui para a frente, o que se poderá esperar da Maria João Escudeiro, do IPLisboa e dos seus estudantes, enquanto futuros profissionais?
Da Maria João poderemos esperar trabalho, empenho e foco na concretização de novos projetos com o propósito de construir uma instituição desenvolvida e mais inovadora, que deixe uma marca como instituição de ensino superior inclusiva, naquilo que acredito ser o mais importante – o respeito pelos Direitos Humanos e o cumprimento dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da UNESCO.
Dos nossos estudantes, enquanto o futuro do nosso país, estou certa que serão profissionais altamente qualificados, competentes e com sentido de responsabilidade, mas gostaria sobretudo que lhes fossem reconhecidas as skills pessoais, sendo isso que os distingue como cidadãos do mundo que podem de facto fazer a diferença.