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ABMG, pela promoção do uso racional da Água

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ABMG, pela promoção do uso racional da Água

A missão da ABMG fornecer aos habitantes dos municípios abrangidos, em continuidade e qualidade, água potável, recolha e tratamento das águas residuais a um custo reduzido e socialmente aceitável, assim como promover a sustentabilidade dos recursos hídricos e o desenvolvimento da região. Como nos pode descrever o concretizar destes objetivos?
A ABMG herdou a gestão do abastecimento de água e saneamento de águas residuais, do foro da competência dos municípios, com todas as vantagens (existência de rede, infraestruturas e ligações domésticas) e inconvenientes (setor não prioritário, não profissionalizado e de gestão não autónoma) que isso acarreta. A assunção de um sistema já constituído e deficitário, no que às necessidades dos utilizadores diz respeito, e cujo tarifário transitou, sem alterações, em conformidade com o que era praticado nas autarquias (com exceção de Mira), tem-nos provocado sérios problemas de adaptação e ausência de capacidade operacional para acorrer a todas as ocorrências, que são muito acima da média, fruto de uma rede de abastecimento e recolha muito antiga e, em alguns casos, inexistente. A garantia da sustentabilidade económica da empresa e a acessibilidade económica do serviço, por parte dos clientes, tem sido a nossa máxima prioridade, a que se associa a gestão complicada de uma dupla origem da água, proveniente de captações próprias e de aquisição em alta, o que é só mais um grande desafio que temos vindo a esforçar-nos por conseguir superar.

No que diz respeito à sustentabilidade, de que forma tem vindo a ser promovida uma política sustentável no crescimento e desenvolvimento da atividade da ABMG?
Como dizia atrás, a dicotomia entre a garantia da sustentabilidade da empresa e a garantia da acessibilidade económica do serviço, aos clientes, não é tarefa fácil e implica muito engenho e responsabilidade. A começar pela imprescindível atualização do tarifário, de forma a que consigamos fazer face aos custos de estrutura e aos custos operacionais e, prosseguindo, com um empenho conjunto e partilhado, para reduzir (e, preferencialmente, eliminar), ineficiências e ausência de prestação do serviço, mormente ao nível da redução da percentagem de água não faturada, das perdas comerciais e do aumento da taxa de cobertura (ou da acessibilidade física do serviço, para sermos mais concretos, por o serviço pode estar disponível, mas as pessoas podem não ter condições de usufruir dele). É por isso que aprovámos um ambicioso plano de investimentos a começar já este ano, mas com maior incidência em 2022, para além de termos sete empreitadas em curso, de candidaturas efetuadas ao abrigo do POSEUR e de estarmos ansiosos pela entrada em vigor do novo Quadro Comunitários de Apoio, até porque, em relação ao PRR, já perdemos todas as esperanças, embora as mesmas fossem bastante ténues.

Olhando para o setor da água de uma forma mais geral, que lacunas existem ainda por colmatar? Considera que, as mesmas, podem ter consequências na qualidade dos serviços prestados aos portugueses?
As maiores lacunas do setor da água em Portugal, decorrem de problemas não muito diferentes daqueles que vivemos na ABMG. Incapacidade de libertar verbas para investimentos, provenientes do exercício da atividade (que é, amiúde, amplamente deficitário); incongruências gritantes ao nível do tarifário (o decreto-lei que deveria aprovar o último Regulamento Tarifário dos Serviços de Água e Saneamento, elaborado pela ERSAR, está em parte incerta há uns cinco anos!!); uma muito pouco saudável dependência da prestação de serviços em alta, monopolizados pelo grupo Águas de Portugal; falta de visão e de capacidade de abraçar, em larga escala, práticas inovadoras de gestão, ao nível da telemetria, da gestão remota de redes, da reutilização de águas residuais e pluviais; uma muito baixa qualificação dos profissionais do setor, a maioria deles muito pouco sensíveis para estas temáticas, incapazes de inovar e fazer a diferença e com muito pouca abertura à aprendizagem e à consolidação de conhecimentos e práticas; e, em contrassenso, uma confortável barreira que é colocada à entrada de novas ideias e novas pessoas (para não dizer, de pessoas novas), por parte do anquilosado e hermético setor da água, de que me orgulho de fazer parte.

A ABMG é uma empresa criada pelos municípios de Mira, Montemor-o-Velho e Soure e, o seu propósito é assegurar o bem-estar das suas populações no que diz respeito ao abastecimento e tratamento da água. Acredita que, nestes três municípios, os habitantes estão conscientes o suficiente para a sustentabilidade do recurso vital que é a água?
Não posso ser mais direto: nem aqui, nem em lado nenhum! As pessoas não fazem a mais pequena ideia do trabalho e dos custos que estão por detrás daquele singelo gesto que fazem diariamente, de abrir uma torneira e sair água… pura, cristalina, em quantidade, sem variações de pressão e de qualidade inexpugnável. Enquanto a água que consumirmos em nossa casa, teimar em ser a utility mais barata, a mentalidade também teimará em continuar a ser a mesma. O desperdício na lavagem de viaturas na via pública, na lavagem de pátios e logradouros, na rega de jardins e canteiros e de outros usos que, de todo, são essenciais à vida humana, é um atentado a todos aqueles que morrem por não terem acesso a água potável, ou que contraem doenças mortais por consumirem água contaminada. Mas como isso acontece muito lá longe, ninguém quer saber e, como quando se abre a torneira e sai água e não diamantes, deixa correr!

Qual tem vindo a ser o papel da ABMG na promoção e prevenção da mesma junto da comunidade?
Uma total e incondicional abertura a todas as pessoas que à ABMG se queiram dirigir, para apresentarem as questões que quiserem e muito bem entenderem. Faço questão de analisar todas as reclamações e sugestões que nos chegam e de responder, pelo meu punho, a todas elas. Diria que, neste momento, 20% dos nossos clientes (estamos a falar de cerca de seis mil pessoas), já terão o endereço de correio eletrónico direto do diretor-geral da ABMG. Acrescem a promoção de campanhas, em permanência, com recurso a estacionário visual outdoor, ao site institucional e à nossa página de Facebook, onde publicamos pequenos clips com mensagens alusivas à poupança da água e de outros recursos (energia, papel, entre outros), que tenham impacto no ambiente e nas alterações climáticas.

No seu ponto de vista, qual é o cenário mais provável no setor da água, se não forem implementadas medidas necessárias e urgentes no combate ao desperdício e na promoção da sustentabilidade e de políticas ambientais?
A água é um bem escasso e finito. Em Portugal, os responsáveis máximos pelo setor, só acordaram para essa realidade quando, em 2017, tivemos um período de seca, dos piores que há memória, ao ponto, só por exemplo, de ter deixado de haver água na barragem de Fagilde (Viseu) e as populações afetadas, terem de ser abastecidas por camiões-cisterna, tal país terceiro-mundista. Entretanto, começou a chover… O programa nacional para a reutilização de águas residuais e pluviais, anunciado pomposamente, é residual (se tanto) e a agricultura continua a sorver mais de 70% deste recurso! Vamos indo… até outro 2017! Mas está tudo bem… (do PRR – já aludido atrás – vão 14 milhões de euros, só para o Algarve, com o intuito de melhorar o abastecimento de água na região!! Mas, afinal, não está tudo bem?!).

Enquanto Diretor Geral da ABMG, que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores, no sentido de consciencializar para a importância da água?
Confiem em nós! Bem sei que os tempos têm sido difíceis, os problemas no abastecimento persistem, as contrariedades têm sido ultrapassadas a muito esforço e com alguma morosidade. Mas estamos a dar o melhor de nós, organização jovem, q.b. inexperiente e recém-criada, para corresponder à legitimas necessidades e ansiedades das populações que servimos. Em troca, agradecemos toda a paciência e tolerância de que possamos ser credores, acrescentado que um uso racional da água, podem crer, seria algo que nos iria ajudar imenso a concretizar os nossos objetivos e a melhorar, visivelmente, o serviço que temos vindo a prestar.