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Associação Dark Sky e o Compromisso com a Sustentabilidade

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Associação Dark Sky e o Compromisso com a Sustentabilidade

A Associação Dark Sky tem o orgulho de ser signatária da iniciativa “Global Tourism Plastics Initiative”, liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente “United Nations Environment Programme” e pela Organização Mundial do Turismo (OMT), em colaboração com a Fundação Ellen MacArthur. Quão importante foi – e tem sido – pertencer e contribuir para estas iniciativas?
O primeiro destino da Rede Dark Sky, o Dark Sky® Alqueva, nasceu em 2007 com base num modelo integrado de desenvolvimento sustentável aplicado a destinos criado internamente e consolidado ao longo dos anos, seja pela melhoria da estratégia ou em resultado de mudanças, como é o caso desta pandemia. Naturalmente, todas as preocupações que estão na base da criação da “Global Tourism Plastics Initiative” estão incorporadas no nosso modelo mas não tendo todos os recursos necessários para implementar uma estratégia tão transversal, procuramos reunir apoios e suporte em iniciativas específicas que contribuam para a nossa missão e que estejam bem estruturadas. Ao aderir a esta iniciativa fazemos parte de uma comunidade que está a trabalhar com um objetivo muito específico e que desenvolve ferramentas que contribuem para uma atuação no terreno mais eficaz e eficiente.
E naturalmente estes princípios são incorporáveis em todas as iniciativas e projetos em que nos integramos, incluindo nos outros dois destinos que fazem parte da Rede Dark Sky® Portugal, o Dark Sky Aldeias do Xisto desenvolvida em cooperação com a ADXTUR e o Dark Sky Vale do Tua desenvolvido em cooperação com o Parque Natural Regional do Vale do Tua.

Como signatária da iniciativa “Global Tourism Plastics Initiative”, a Associação Dark Sky visa abordar as causas da poluição por plásticos na sua origem, comprometendo-se até 2025 com várias alterações ambientais. O que irá mudar?
A Associação Dark Sky subscreve os compromissos e nesse âmbito compromete-se até 2025:
Eliminar artigos e embalagens de plástico que sejam problemáticos ou desnecessários;
Tomar medidas para mudar os modelos de uso único para modelos de reutilização ou alternativas reutilizáveis;
Envolver a cadeia de valores para seguir numa direção em que 100% das embalagens de plástico sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis;
Tomar medidas para aumentar a quantidade de conteúdo reciclado em todas as embalagens e artigos de plástico usadas.

No ano passado, o Dark Sky Alqueva atingiu o Top 100 dos Destinos Sustentáveis, fazendo, mais uma vez, jus ao que desde sempre defende. Quais são os critérios que englobam este reconhecimento e que, naturalmente, se encontram neste destino?
A integração no TOP 100 dos Destinos Sustentáveis em 2020 foi um marco porque reflete o trabalho desenvolvido ao longo dos anos e desde a sua criação, sem perder o foco na sustentabilidade, mesmo quando este tema era considerado um peso e um custo, em vez de um importante benefício. A integração no TOP 100 implica a análise do destino e dos seus indicadores de sustentabilidade e nesse campo, a implementação do ETIS, Sistema Europeu de Indicadores de Turismo para a Gestão Sustentável de Destinos, ajudou-nos a ter os indicadores que refletem o nosso modelo de sustentabilidade.
O Top 100 dos Destinos Sustentáveis para 2021 da Green Destinations não foi ainda apresentado, mas esperamos boas notícias tendo em conta o trabalho desenvolvido em 2020 e 2021.

Considera que a procura turística tem tido, cada vez mais, esse facto em consideração? Estarão as pessoas hoje mais conscientes daquilo que é um destino sustentável?
Neste momento sim, estão mais conscientes e uma parte considerável da procura turística deverá manter as suas intenções em optar por destinos mais sustentáveis. Contudo, devemos ter em conta que este aumento da procura irá criar pressão turística e o aumento de intenções de investimento nestes destinos pois estes acompanham a procura. E é aqui que destinos mais preparados e com uma estratégia de sustentabilidade mais consolidada conseguirão resistir à tentação de enveredar pela massificação. Cada decisão tem uma implicação a curto, médio e longo prazo e normalmente as decisões são tomadas com base no benefício imediato, esquecendo os impactos a médio e longo prazo. Isto resulta de ciclos políticos de quatro anos e uma fraca responsabilização pelos impactos negativos de médio e longo prazo que determinadas estratégias ou decisões criam nos destinos.

Acredita que o reconhecimento que o Dark Sky Alqueva tem tido nos últimos tempos muito se deve ao seu contributo ativo com o ambiente?
Sim, sem dúvida especialmente no que respeita a sua missão de proteção do céu noturno, que envolve uma procura de quase zero poluição luminosa, iniciativa transversal e que envolve os quatro pilares da sustentabilidade. Assim e associado ao combate à poluição luminosa surgem as restantes iniciativas ambientais ligadas à questão dos plásticos, à proteção ambiental deste destino, entre outras.

O International Astrotourism Conference by Starlight, no Dark Sky Alqueva, de 8 a 11 de setembro, contou com a participação de especialistas cujo objetivo passou por abordar os desafios e oportunidades do astroturismo a partir de diferentes perspetivas. Desta iniciativa, que novas convicções se puderam retirar e que servirão para o futuro do tema?
Tal como referimos durante a conferência e que foi secundado por muito dos presentes, é que o combate à poluição luminosa continua a ser uma tarefa muito complicada em resultado de mitos e questões socioeconómicas que tornam a nossa tarefa “estranhamente” difícil. Mas também resultam da dificuldade de assimilação de novos conhecimentos e se por um lado, existe a “desculpa” de que a ciência não consegue comunicar eficazmente, quem está no terreno percebe que na maior parte dos casos, a ciência só é considerada quando interessa e que os mitos ou ideias pré-concebidas são tidas como certezas e não se coloca em causa conhecimentos adquiridos mesmo que notoriamente desatualizados.
Quando digo estranhamente difícil refiro-me ao fato de serem cada vez mais conhecidos os malefícios da luz artificial excessiva, especialmente os LED’s mais comercializados com temperaturas de cor elevadas (acima dos 3.000 kelvins) e notório o gasto excessivo em iluminação pública, quando as Câmaras lutam cada vez mais com menos recursos para as competências que têm em mãos. Por exemplo, nos destinos em que trabalhamos a partir de determinadas horas (a hora depende da estação do ano) existe uma diminuição drástica na circulação de pessoas, mas a iluminação, que já é extremamente excessiva, continua a funcionar a 100%. E o mesmo se aplica à iluminação pela noite dentro até amanhecer. Durante estes anos e como forma de sensibilizar para a situação estudámos várias aldeias e vilas com mais movimento para testar o que acontecia a partir de determinadas horas. Cada teste durou a noite toda e durante uma semana seguida em dois períodos distintos e realmente a partir de determinadas horas é muito raro haver alguém na rua. E isto deveria ter servido para a implementação de uma estratégia que pudesse reduzir consideravelmente o consumo sem prejudicar a segurança de bens e pessoas.
Também sempre apelámos a estratégias de redução que tenham em conta os mitos associados à segurança de bens e pessoas e que a redução fosse gradual permitindo ao mesmo tempo reduzir o custo energético e melhorar significativamente a qualidade do céu e desse modo a atratividade do destino.
Por exemplo, o projeto implementado pela CIMAC aplicado ao distrito de Évora trouxe melhorias e permite gerir a intensidade, mas é preciso que todos os municípios que têm luminárias com telegestão coloquem em prática uma estratégia de redução da iluminação.
Foi unânime que nesta matéria e na gestão sustentável de destinos, há muito por fazer, há que comunicar, incentivar e sensibilizar ainda mais e melhor mas acima de tudo, há muito que mudar na maneira de gerir os destinos, de analisar os impactos, os custos e benefícios por parte de quem tem responsabilidades e respetivas competências.