Os casos de stress e ansiedade tiveram uma projeção grande no nosso País

À conversa com a Revista Pontos de Vista esteve Sofia Moreira, Psicóloga Clínica na VivaMais que, entre vários assuntos, nos explicou como o setor da saúde no trabalho tem abraçado temas como a depressão, ansiedade e Burnout e, ainda, qual importância da saúde ocupacional nas organizações, particularmente em tempos adversos como o que vivemos.

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Há largos meses que atravessamos uma pandemia que, não só transformou a vida da população, como – em muitos casos – a saúde mental da mesma. Assim, temas como a ansiedade e depressão têm sido regularmente debatidos nos diversos canais de comunicação. Enquanto Psicóloga Clínica na VivaMais, como olha para as consequências na saúde mental destes tempos complexos?
Os casos de stress e ansiedade tiveram uma projeção grande no nosso país. A depressão também disparou. A este propósito, cito o Estudo Epidemiológico sobre a Saúde Psicológica dos portugueses, segundo o qual os problemas de saúde psicológica afetam um em cada cinco portugueses (23%). Percebe-se que a vulnerabilidade da saúde mental, transversal às diferentes idades, acrescentou à sociedade uma preocupação que já era prévia à pandemia, mas, que se agudizou. A preocupação centra-se naquilo que tem vindo a ser o trabalho diário quer na VivaMais quer na Quirónprevención (maior empresa de saúde e segurança no trabalho em Espanha e que agora é o novo acionista da VivaMais) no âmbito da saúde mental e bem-estar. O propósito é intervir, interna e externamente, dar visibilidade e focarmos nas pessoas, agir no “presente” para mitigar as fragilidades, com o objetivo de que possam ser “aliviadas”, cuidadas e evitar riscos maiores no futuro.

No que concerne à saúde mental, o que é que, na sua ótica, se podia ter feito para um melhor acompanhamento, comprometimento e ação durante a pandemia, particularmente pelo tecido empresarial?
O tecido empresarial português está cada vez mais atento à temática. Encarar que as empresas são as pessoas, a abordagem que tem vindo a ser implementada tem sido fértil. Disponibilizaram-se e intensificaram-se linhas de apoio psicológico, o tema da saúde mental foi explanado, debatido em fóruns, diferentes formatos, cresceram os programas de saúde e bem-estar, a preocupação com os trabalhadores, conciliar a vida profissional e pessoal, a auscultação de como se sentem – mostra a preocupação dos empresários. Saliento, a abertura para o modo híbrido do trabalho, permitindo articular a eficiência profissional e pessoal, comporta a visão de liberdade e responsabilidade, facilitadora de equilíbrio.

A VivaMais assume que a saúde e a segurança são indissociáveis na garantia das adequadas condições nos locais de trabalho. Procura, portanto, soluções de melhores práticas laborais, de educação, formação e sensibilização. Neste sentido, que papel tem sido desempenhado pela empresa na questão da saúde mental?
Nós procurámos, mesmo em teletrabalho e espalhados pelo país, que nos reuníssemos – online – para “espantar” o isolamento e para que, não nos sentíssemos sozinhos. Implementámos: webinares, formações, ações práticas para que algumas técnicas e estratégias pudessem ser partilhadas com as pessoas, aproximamo-nos por meio de dinâmicas de ligação, aliámos momentos descontraídos – através da música, dança, escrita criativa, sugestões de filmes, séries, livros, viagens, alimentação saudável, veganismo, importância da atividade física, mascarámo-nos no carnaval, quizzes divertidos, convidámos uma Coach para falar de desenvolvimento pessoal, convidamos um conhecedor em sustentabilidade e responsabilidade social, meditamos juntos, sessões de psicologia individuais, auscultámos a saúde no âmbito psicossocial e a partir dos resultados estamos a construir dinâmicas ativas, contínuas, que vieram para se tornarem naturais, compostas por ações diretas cujo propósito é sedimentar o envolvimento, a felicidade e o sentimento de pertença.

A existência de locais de trabalho seguros e saudáveis possibilita uma organização satisfeita, motivada, produtiva, aberta à inovação e ao empreendedorismo e impulsionadora da sustentabilidade do trabalho. Considera que estes factos são hoje reconhecidos pelas empresas?
Na ótica de locais de trabalhos seguros e saudáveis, implementámos o reconhecimento qualitativo e quantitativo dos colaboradores – o que constitui um boost motivacional. Melhoramos os processos de onboarding, movimentamo-nos para captar e reter talentos, temos um grupo com uma heterogeneidade de idades e saberes. Focados na melhoria contínua de processos, permitindo alocar tempo em tarefas de maior valor acrescentado. Comprometidos com a fidelização dos nossos clientes. É um compromisso, win-win.

Na área da saúde ocupacional, que serviços e características podemos encontrar na VivaMais?
A área da saúde ocupacional tem tido, no sector da Saúde do Trabalho, no mercado e nas empresas prestadoras de serviços externos uma evolução extraordinária. Essa evolução deve-se, essencialmente, pela aposta que as empresas têm feito na saúde dos seus colaboradores. A crescente preocupação com o bem-estar físico, mental e social das empresas nossas clientes, têm desafiado a VivaMais (com particular incidência nos últimos anos) a procurar soluções e a antecipar as suas necessidades. Os serviços de saúde que temos no portefólio da VivaMais mais do que cumprirem os requisitos legais são serviços totalmente virados para ajudarem os nossos clientes a avaliarem a “Saúde das Suas Empresas”, para tal desenvolvemos protocolos específicos de exames que podem incluir análises clínicas, exames complementares de diagnóstico, programas de vacinação, programas de sensibilização em temática como a nutrição, exercício físico, ergonomia do trabalho e outras específicas a pedido dos nossos clientes. A avaliação da saúde ocupacional como um todo deve, também, olhar com particular atenção para o bem-estar mental e social das empresas. Esta é a preocupação dos gestores. Cada vez mais procuram garantir que têm trabalhadores saudáveis, motivados e empenhados. Neste capítulo a VivaMais tem soluções à medida dos Clientes com base na identificação e priorização das suas preocupações. Estas soluções passam por avaliar o clima organizacional através de uma metodologia de One to One, avaliação dos riscos psicossociais, análise dos resultados, relatório final, recomendação de um conjunto de ações de melhoria e follow up. Nesta área temos, também, vários programas de saúde mental com a intervenção direta de psicólogos. Neste sentido e considerando as necessidades emergentes, o papel do psicólogo do trabalho é fundamental na diminuição destes riscos e potenciar o aumento do bem-estar psicológico no trabalho, colocando a relevância no desenvolvimento pessoal dos trabalhadores – formações, ações de sensibilização, webinares e, consequentemente, promovendo o bem-estar que terá uma “face” visível interna e externamente.

Para melhor entender, de que forma a ansiedade, depressão e Burnout no âmbito da saúde mental influência a saúde ocupacional das organizações?
Ao fim de 15 meses de pandemia, há avisos do ponto de vista psicológico inequívocos. A fadiga causa uma forte diminuição na forma como reagimos às solicitações externas. Devemos estar “alerta” para o cansaço que se apresenta sob uma diminuição de realizar tarefas, apatia, anedonia, alterações do ciclo do sono, alterações do apetite. Estarmos atentos ao sentimento de constante vulnerabilidade e insegurança, de medo – alerta-nos para um quadro ansiogénico. Alterações do humor, irritabilidade fácil. Uma tristeza persistente e insidiosa que interfere com o nosso todo – pode indiciar uma depressão. Esta mescla de fatores pode culminar em exaustão ou Burnout. Sendo “nós” um todo e não negligenciando que estamos atentos às nossas pessoas, trabalhamos para minimizar estes sintomas e intervir previamente à instalação destes quadros.

Como perspetiva o futuro destas questões em Portugal nos próximos anos? É legítimo afirmar que a comunidade, no geral, aprendeu a priorizá-las nesta pandemia?
A possibilidade de haver um enviesamento da importância que a saúde mental tem, é diminuta. Os canais difusores: trabalho de pesquisa, investigação, produção de conteúdos – por exemplo, a Ordem dos Psicólogos Portugueses – serão considerados como parceiros de exceção e considerados para assumir medidas. Os empresários, aceitam que colaboradores que são cuidados e parte do todo, são eficazes, motivados, reconhecidos, darão melhor contributo e estarão focados no sucesso das empresas. O tema é de relevo e estamos comprometidos na visão, valor e propósito de contribuir para que a ação da psicologia se torne robusta, que se criem mais estruturas de apoio psicológico e que possam intervir com carácter preventivo, ativo e transformador.