Início Atualidade “Continuarei, da minha parte, a incentivar o Empreendedorismo Feminino”

“Continuarei, da minha parte, a incentivar o Empreendedorismo Feminino”

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“Continuarei, da minha parte, a incentivar o Empreendedorismo Feminino”

Sendo já diretora executiva há mais de 20 anos com uma vasta experiência na área alimentar, quando e como surgiu esta paixão pela alimentação?
A paixão pela alimentação, e mais concretamente pelo setor alimentar, vem já desde o início da minha carreira. Nos meus tempos de auditora financeira, uma das coisas que mais me fascinava era visitar unidades de produção alimentares e conhecer todo o processo produtivo e de transformação dos alimentos. E agarrei logo a primeira oportunidade numa empresa do setor alimentar assim que surgiu. Mesmo tendo começado na área financeira o que mais me entusiasmava era a ligação com o negócio e o impacto que poderia ter na alimentação humana. No grupo multinacional americano onde trabalhei durante alguns anos sempre me identifiquei muito com a ideia de “Alimentar o Mundo” e o impacto que poderia ter o meu envolvimento nesse processo. Atualmente estamos num ponto de viragem incrível da alimentação humana onde cada vez mais somos conscientes do impacto no mundo e no futuro das novas gerações da forma como nos alimentamos.

Intitula-se, – e bem – como uma “game changer” com um forte impulso para a estratégia e claro, os resultados. Quais os maiores obstáculos que encontra enquanto CEO de uma empresa como a Palmeiro Foods?
Os desafios como CEO têm vindo num crescendo ao longo do tempo. Os últimos dois anos foram de uma aceleração extrema a todos os níveis e agora, mais do que nunca, sentimos o fenómeno da globalização tocar-nos muito de perto. Desde a crise sanitária, às alterações climáticas, à aceleração da digitalização, aos aumentos sucessivos dos preços de bens e serviços essenciais e a forma como tudo isto impactou a cadeia de abastecimento trouxe-nos desafios nunca antes vistos. Com toda esta dinâmica de fecho e reabertura da economia a gestão da cadeia de abastecimento tornou-se bastante mais complexa e obrigou a trabalhar um conjunto de soluções de mais dificil decisão e de forma mais acelerada. O planeamento de produção, o MRP e a gestão de stocks tornaram-se mais desafiantes e obrigaram-nos a desenvolver nas equipas mais capacidade de adaptação e resiliência. E tudo isto é um processo de aprendizagem constante para todos.

Implementou iniciativas de reestruturação à escala global e local. O que faria de diferente se pudesse recuar no tempo?
O ter passado por diferentes dimensões de empresas e projetos com impacto global e local de reestruturação, trouxe-me uma visão mais clara do impacto das minhas decisões e como melhor lidar com determinadas situações. As reestruturações são muito importantes do ponto de vista de resultados mas têm um impacto grande em toda a organização. Quanto mais localmente se reestrutura, mais perto estamos de lidar com as consequências dessas decisões e o impacto na vida dos colaboradores. E é muito diferente estar numa holding de um grupo a dar instruções sobre como se deve fazer uma reestruturação comparado com ter de fazer essa reestruturação localmente. É muito mais desafiante a última e toca-nos muito mais profundamente. Essa é sempre a parte mais difícil. O lidar com a mudança e o impacto que estamos a causar na vida das pessoas. O lidar com pessoas tem sido sempre o maior desafio. Quando penso no que poderia ter feito melhor, acabo sempre por achar que poderia ter lidado de forma diferente com aquela situação e/ou aquela pessoa. Tento sempre que isso me sirva de aprendizagem para liderar com mais humildade e tendo a consciência do impacto que tenho na vida das pessoas. Sem dúvida tenho aprendido muito em ter experienciado diferentes dimensões de empresas, em diferentes países, com diferentes culturas. É tão importante perceber a história por detrás de cada pessoa para melhor enquadrar uma decisão e ajudá-la no sentido do processo ser um pouco mais fácil, mais humano.

Multifacetada como é, levou os seus conhecimentos mais longe desenvolvendo estudos em Gestão de Empresas e Marketing e experimentando diferentes funções. O objetivo foi chegar ao seu próprio negócio? Tirando o setor alimentar, existe mais alguma área onde sonha laborar? Qual?
Eu estudei Gestão de Empresas e, inicialmente, tinha muito o foco de seguir na área de mercados financeiros pois era a minha paixão. Mas o que é facto é que acabei por seguir para auditoria financeira e apaixonei-me pelo mundo das empresas e pelo impacto que poderia ter no mundo. Ingressei depois na indústria alimentar e pela forma entusiasmante como me dedicava ao que fazia foi mais fácil para mim ir evoluindo pelas diferentes áreas da empresa e saltar para funções internacionais. Ambicionei ao longo de muitos anos crescer dentro de um grupo internacional e isso aconteceu naturalmente. Desde auditoria financeira, ao controlling e direção financeira, à gestão de processos globais, à direção de desenvolvimento de negócio, à consultoria e agora a direção geral de uma empresa foi um processo fascinante. O ter criado o meu próprio negócio pelo meio foi, para mim, mais um sonho concretizado. Mas é o todo do que experienciei que me fascinou à medida que ia avançando. Foi o caminho que fiz e não propriamente o fim que me deu mais gozo. Eu trabalho com paixão por tudo o que faço. Como gosto muito de coisas novas e ainda tenho muito para dar neste momento nunca sei onde o caminho me leva e se poderei experimentar outras áreas. Mas a minha “casa” é a área alimentar.

A Palmeiro Foods tem vindo a acompanhar as tendências no setor alimentar, contando com uma visão atenta antecipando as necessidades do público. Onde e como começa o processo criativo dos produtos que oferecem? De que forma a procura por soluções equilibradas e de qualidade, é um dos principais focos na hora de lançar um novo produto? Acredita que a excelência é o que diferencia a Palmeiro Foods das restantes marcas?
Eu estou na Palmeiro Foods há cerca de um ano, mas a empresa já está há mais de 20 anos no setor alimentar. A aposta nos produtos alimentares desidratados foi evoluindo ao longo dos anos para atender a soluções mais viradas para a nutrição e saúde. Houve uma aposta forte no desenvolvimento de produtos servindo os canais de food service e retalho com uma gama bastante completa. O potencial na área alimentar é tremendo e conseguimos ter sempre muitas alternativas que vão surgindo para poder incorporar e desenvolver novos produtos. As novas tendências estão a exigir-nos um processo de renovação da empresa e por isso também estamos em processo de simplificação e alinhamento do nosso portefólio com as novas tendências, com um rebranding completo das nossas marcas e a certificação da nossa unidade industrial para efeitos de IFS. Contamos que estas mudanças nos permitirão capitalizar o nosso posicionamento como player num mercado cada vez mais global e competitivo. A empresa tem apostado nos últimos anos nas marcas próprias, mas queremos, cada vez mais, potenciar as nossas marcas de uma forma mais contemporânea e sustentável com um propósito claro na forma como contribuímos para a alimentação.

Ao longo da sua carreira tem ganho diversos prémios pelo trabalho desenvolvido. É este reconhecimento que a move? O que inspira a Isabel Faria?
Os prémios ganhos anteriormente são sempre uma forma de reconhecimento. A mim o que me move é poder contribuir para o crescimento e a sustentabilidade de uma organização. Poder fazê-lo como CEO de uma empresa no setor alimentar com tanto potencial de crescimento é algo que me fascina. É assumir esta posição numa empresa e poder transformá-la e posicioná-la de uma forma competitiva e sustentável num mercado e contexto atuais tão desafiantes. O que me move a mim são os desafios e o poder construir algo para o futuro com uma equipa. E neste momento posso dizer que temos uma equipa fantástica para o poder fazer e com muita vontade de construir o que possa ser esta empresa no futuro no sector alimentar.

Por fim, acredita que o empreendedorismo feminino em Portugal está a crescer? Em relação ao futuro da sua empresa, da criação de novas marcas, o que nos pode adiantar?
O empreendedorismo feminino em Portugal cresceu bastante mas não sei se foi sempre motivado pelas melhores razões. Com a pandemia, as mulheres foram mais prejudicadas do que os homens e viram-se em muitos casos a ter de criar soluções para a sua vida profissional. E arriscar mais em negócios próprios. Por um lado, é positivo quando somos “forçados” a encontrar novos caminhos e a arriscar mas, por outro lado, reflete uma realidade que ainda está muito presente. Nas alturas de crise ainda são as mulheres as mais prejudicadas. De qualquer forma há uma ascensão, cada vez maior, nas empresas das mulheres a cargos de direção e isso é bastante positivo e abre muito o caminho às futuras gerações. Na nossa empresa temos dado muitas oportunidades a mulheres e o número de colaboradoras já é muito superior. continuarei, da minha parte, a incentivar o empreendedorismo feminino.