Início Atualidade “Estatística, uma Vacina para proteger a Democracia e combater o vírus da Desinformação”

“Estatística, uma Vacina para proteger a Democracia e combater o vírus da Desinformação”

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“Estatística, uma Vacina para proteger a Democracia e combater o vírus da Desinformação”

No Dia Europeu da Estatística – celebrado a 20 de outubro – realizaram-se, maioritariamente atividades como conferências, exposições, entre outras iniciativas interativas, tendo, todas elas, a estatística como base. Tendo em conta a v/ experiência, quão importante é esta efeméride?
Lisete Sousa (LS) –
Esta efeméride é de extrema importância, pois tem como objetivo sensibilizar a sociedade civil e a comunidade científica para o papel relevante das estatísticas oficiais. A existência de dados com qualidade bem como a sua análise rigorosa são fundamentais para a definição de políticas públicas, tanto no que respeita ao desenvolvimento económico, como ao bem-estar social, ao combate à pobreza e promoção da saúde pública.

A comunidade estatística europeia celebra o Dia Europeu da Estatística anualmente, nos anos intercalares ao Dia Mundial da Estatística (assinalado a cada cinco anos). Consideram, assim, que o intuito de dar a conhecer (e reconhecer) a importância e o contributo da estatística na sociedade são hoje conscientes entre todos? De que forma esta consciencialização tem vindo a evoluir?
LS –
Essa consciência conquista-se a cada dia e ainda há muito a fazer. As empresas estão cada vez mais conscientes da importância da estatística, nomeadamente da necessidade de ligação ao meio académico, o que permite uma transferência de conhecimento de alto nível. Esta consciência evolui por vezes como consequência de situações que não controlamos. A COVID-19 veio mostrar a importância de estar bem informado e de produzir dados e modelos adequados para basear decisões políticas.

Que mote acreditam que se deve defender este ano pelo universo estatístico para celebrar, refletir ou debater no Dia Europeu da Estatística – e que a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa abraçou?
LS –
O mote foi definido pelo Comité Consultivo Europeu da Estatística (ESAC): “Estatística, uma vacina para proteger a democracia e combater o vírus da desinformação.” O cerne desta mensagem é a “necessidade de derrotar a desinformação, reforçando a produção e a utilização de informação estatística de alta qualidade com os mais elevados padrões de transparência e responsabilidade, como meio vital de proteção da liberdade e da democracia.”. A Faculdade de Ciências, através do Centro de Estatística e Aplicações (CEAUL), também tem feito um esforço para atuar junto dos meios de comunicação social. O CEAUL colabora neste momento na rubrica Dados Contados, do programa Europa Minha, da RTP, certificando a informação e validando a sua apresentação.

Os resultados de pesquisas estatísticas estão presentes em todo o momento na sociedade, sendo bastante comum observar pesquisas de diversas naturezas que nos trazem dados para interpretação e realização de inferências sobre as mesmas. Para melhor entender, qual a verdadeira importância da estatística nos mais diversos assuntos do dia a dia?
Teresa Alpuim (TA) –
Uma das principais origens da Estatística é a recolha, organização e interpretação de dados económicos e sociais, isto é, toda a informação quantitativa relacionada com os assuntos do Estado, palavra que deu o nome a esta ciência tão importante. Hoje em dia, a Estatística e a Ciência de Dados são utilizadas de uma forma intensiva em quase todas as áreas de negócio, entre as quais destaco as companhias de seguros, principalmente através do Atuariado mas não só, e o setor bancário, sobretudo na área de risco de crédito e na deteção de fraude. O marketing é também uma área onde a decisão de lançar novos produtos ou o conhecimento das preferências e do perfil dos consumidores utilizam intensivamente análise de dados e estatística. Em particular, as vendas pela internet são ampliadas e otimizadas recorrendo a procedimentos estatísticos. Na indústria farmacêutica, a análise estatística é fundamental nos ensaios clínicos, tendo também um papel muito relevante na medicina. Por exemplo, no estudo comparado entre tratamentos, na epidemiologia, ou na prevenção, através da identificação dos fatores que aumentam o risco de certas doenças.

O mercado de trabalho tem vindo a registar uma procura cada vez maior de especialistas em estatística e é neste segmento que a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, através do Departamento de Estatística e Investigação Operacional se destaca. De que forma este ensino se diferencia pela qualidade e excelência?
TA –
O nosso departamento fundou-se em 1981 e é o único no país exclusivamente dedicado a estas áreas do conhecimento. Já com 40 anos de experiência, os nossos métodos de ensino baseiam-se na integração das principais três vertentes da ciência estatística: a rigorosa fundamentação matemática, o que garante um conhecimento profundo das características das ferramentas que utilizamos; bons conhecimentos de programação e de software de estatística, permitindo respostas eficientes e a possibilidade de organizar e tratar grandes quantidades de dados;  e, finalmente, algum conhecimento das áreas a que são aplicadas as análises estatísticas e da natureza dos dados em análise. Além disso, procurámos sempre um ensino centrado nas necessidades de aprendizagem dos estudantes, não nos limitando a expor com rigor e profundidade as matérias, mas procurando que o aluno aprenda por ele próprio através da resolução de casos de estudo e de problemas tão próximos quanto possível da realidade.

De que forma a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa tem promovido o máximo de rigor possível que hoje se exige no mundo da estatística?
TA –
Para além da qualidade do ensino, a que já me referi, esta deve ligar-se de uma forma estreita à investigação, tanto de natureza fundamental como aplicada, e à inovação. Somos um grupo de académicos bastante diverso, com conhecimentos e capacidades diferentes, mas complementares, e procuramos colaborar, interagir e aprender uns com os outros, de modo a que todos vão ganhando mais experiência e capacidades nas diferentes vertentes da atividade académica. Estabelecemos várias parcerias com boas empresas e instituições públicas, com quem trabalhamos em assuntos inovadores, o que nos permite encontrar os temas mais atuais e adequados à criação de valor e, simultaneamente, ajudar essas empresas a desenvolver produtos e processos de gestão inovadores com rigor científico.

A terminar, como perspetivam o futuro desta temática em Portugal, no que diz respeito à investigação e inovação?
LS e TA –
O desenvolvimento das tecnologias digitais coloca novos e apaixonantes desafios à Estatística, tal como a melhor forma de organizar e extrair informações decisivas a partir de grandes quantidades de dados. Na nossa visão, o futuro da investigação numa ciência com uma tão gran- de diversidade de aplicações, deverá desenvol- ver-se em estreita colaboração com a inovação, na perspetiva da resolução dos problemas do dia a dia das muitas organizações públicas e privadas que com ela podem beneficiar. Como se costuma dizer, “a necessidade é a mãe do engenho” e o registo diário de milhões de dados através dos múltiplos canais de informação põe-nos questões difíceis, mas intrigantes, promovendo novas perspetivas para a da Estatística e para a Ciência de Dados.