A ANI – Agência Nacional de Inovação tem por objetivo o desenvolvimento de ações destinadas a apoiar a inovação tecnológica e empresarial em Portugal, contribuindo para a consolidação do Sistema Nacional de Inovação e para o reforço da competitividade da economia nacional nos mercados globais. Neste sentido, que iniciativas têm vindo a ser realizadas?
Vejo a ANI como uma one-stop shop, uma espécie de balcão único, que acompanha todo o ciclo de vida da inovação, desde que sai do espetro da ciência fundamental que é desenvolvida nas instituições de ensino superior e centros de investigação, até que passa aos domínios da chamada inovação mais incremental. A nossa missão centra-se nesse intervalo entre a criação de conhecimento e o mercado, ajudando a minimizar o risco da inovação e apoiando a transformação do conhecimento em valor económico. Esta missão concretiza-se em três pilares fundamentais. Por um lado, promovemos e acompanhamos os projetos nas empresas, nomeadamente através da gestão dos mecanismos de apoio e de instrumentos de incentivo à inovação, através dos incentivos às empresas no âmbito do Portugal 2020 ou do Portugal 2030 para o desenvolvimento de projetos de I&D em colaboração com os centros de investigação e as instituições de ensino superior. Em segundo lugar, pela valorização do conhecimento, desenvolvendo as áreas de interface, através de mecanismos como os sistemas de compras de inovação, a valorização de tecnologia e o apoio às instituições de interface. No terceiro, promovendo a participação das instituições portuguesas em programas internacionais como o Horizonte Europa, entre outros. É este leque de instrumentos que devemos ser capazes de oferecer de forma integrada às empresas. Estes três pilares da atuação da ANI não estão isolados uns dos outros. Idealmente, há uma visão transversal que permite, por exemplo, que uma tecnologia comece a ser desenvolvida no âmbito dos apoios nacionais, mas acabe por crescer e por ser candidata a apoios internacionais.
Como se encontra o atual panorama do país no que diz respeito à inovação empresarial e, por conseguinte, à competitividade nos mercados globais?
Estamos a entrar num período de grande importância estratégica para Portugal, com inúmeros desafios. Neste contexto, a inovação é chave para promover alterações e permitir o aumento da competitividade das empresas, nomeadamente ao nível do desenvolvimento de produtos e serviços diferenciados de alto valor acrescentado e atuação nos mercados internacionais. Por outro lado, Portugal foi reconhecido pela OCDE como um dos países que mais respostas deu à pandemia pela inovação, com diversas soluções a serem desenvolvidas por várias instituições e empresas. Em Portugal, temos uma grande diversidade de setores a inovar. Atualmente, 52% do investimento em I&D é feito pelas empresas, mas a meta já definida é que a fatia das empresas passe a representar pelo menos dois terços. Efetivamente, o investimento feito pelas empresas está a aumentar e estas começam a aparecer com soluções inovadoras, interessantes e competitivas, não só a nível nacional como a nível internacional, mas ainda temos uma larga margem de crescimento.
Compete também à ANI a divulgação, a nível nacional e internacional, em colaboração com outras entidades, de casos de sucesso da inovação em Portugal. É legítimo afirmar que o país tem sido pioneiro no que concerne à inovação e, por aí, se tem destacado?
Na verdade, essa não é propriamente uma competência da ANI. Mas temos trabalhado no sentido de divulgar e acompanhar casos de sucesso.
De que forma o ensino e a formação, através da associação dos conceitos de Engenharia, Gestão e Empreendedorismo são importantes para o processo de inovação das empresas?
Nada é feito sem pessoas e, por isso, é crítico termos níveis de formação cada vez mais elevados nas empresas. Efetivamente, essa realidade é cada mais visível e a tendência é que estes níveis aumentem. Apesar disso, aproximar estes conceitos é um processo que leva o seu tempo. Tipicamente, há uma grande oferta nas áreas de empreendedorismo nas escolas de gestão, muito importante para os processos de inovação nas empresas. No entanto, essas formações de excelência, não contemplam o conteúdo da tecnologia. É importante reconhecer que gerir tecnologia e levar tecnologias para o mercado requer outras competências e conhecimentos. É por isso que é mais difícil para os profissionais destas áreas compreenderem conteúdos tecnológicos de áreas altamente especializadas como a Biotecnologia, as Tecnologias Digitais, o Espaço e os Oceanos, por exemplo. Portanto, temos de garantir que pessoas das áreas técnicas, que estão a gerir o desenvolvimento de novos produtos e serviços, têm ferramentas que os tornem capazes de olhar para quem os está a desenvolver. Foi por este motivo que, no Departamento de Engenharia e Gestão do IST, lançámos o Mestrado em Engenharia e Gestão da Inovação e Empreendedorismo. A Universidade do Porto também tem uma formação idêntica. Os produtos e os serviços devem ser pensados a partir das pessoas, não o inverso.
Joana Mendonça, Professora Associada do Instituto Superior Técnico, foi recentemente nomeada Presidente do Conselho de Administração da ANI. Em funções desde maio de 2021, que desafios são esperados para o próximo triénio?A tomada de posse desta administração coincide com um momento muito desafiante, tendo em conta os fundos europeus e o PRR que teremos de gerir nos próximos anos, e o relançamento da economia num período pós- pandemia. Assim, o próximo triénio representa vários desafios para a ANI. Temos realizado muito trabalho no terreno focado na promoção da colaboração e na criação de redes e parcerias entre as empresas e as instituições científicas, num esforço de aproximação aos diferentes stakeholders do sistema de inovação. Quanto mais parcerias conseguirmos promover, maior se tornará a capacidade das empresas de absorver o conhecimento gerado nos centros de saber. Mas também as próprias instituições do sistema científico e tecnológico nacional estão cada vez mais sensibilizadas para as necessidades do mercado. Estes princípios de reciprocidade e colaboração são críticos para o processo de transformação da ciência em economia. Na ANI, tanto atuamos com instrumentos próprios, como através de contactos que viabilizam a colaboração. Como sabemos, a inovação tem um potencial gerador de maior crescimento económico. Já há muito trabalho feito em Portugal, que queremos capitalizar no atual contexto de recuperação. É essa a nossa maior prioridade. Do ponto de vista da própria organização da ANI, queremos abraçar o desafio da transição digital, que é fundamental para nos permitir dar resposta a estes desafios. É um processo muito difícil, mas temos de o fazer.
Ainda que a desempenhar funções há pouco tempo, quão importante é para a Joana Mendonça estar no topo de uma organização como esta? Que mais-valias lhe traz, não só para a sua carreira profissional, como para a vida pessoal?
Eu gosto de desafios e este é o grande desafio. Temos, nesta fase, a resiliência como questão fundamental, e eu estudo inovação há quase 20 anos, com muitos contactos com as empresas, pelo que esta é uma oportunidade para pôr em prática o know-how que tenho vindo a acumular num contexto em que é absolutamente crítico. O facto de eu ser a primeira mulher à frente da ANI também tem um certo simbolismo. Temos de mostrar às nossas filhas que as mulheres podem alcançar este tipo de cargos.
A terminar, que outros objetivos ainda tem por concretizar nesta ou em outras áreas distintas? O que lhe falta fazer?
Neste momento estou a trabalhar neste desafio, e é nele que me concentro. Felizmente, há ainda muito que me falta fazer e estou certa de que terei no futuro mais desafios pela frente. Mas agora estou na ANI e é esta a missão à qual estou totalmente dedicada.