No regresso ao novo normal, há uma terceira alternativa ao escritório tradicional ou teletrabalho

Desde o dia 1 de outubro e na sequência do plano de desconfinamento levado a cabo pelo Governo que baixou o nível de Estado de Contingência para Estado de Alerta no nosso país, o teletrabalho deixou de ser recomendado em Portugal.

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Isto depois de um largo período em que foi não só recomendado como também obrigatório. Por isso, é natural que grande parte dos funcionários das empresas já esteja de regresso aos seus postos de trabalho “físicos” após mais de um ano de ausência.
Isto não implica, porém, que tudo voltará a ser como dantes. Não só o teletrabalho provou ser uma opção válida, como o trabalho no escritório da forma que conhecemos foi questionado ao ponto de as empresas estarem a pensar em novas formas de organização.

Espaços de trabalho flexível: a terceira via

Nesse contexto, surgem os espaços de trabalho flexível, uma tendência em crescendo com dados que a evidenciam. O tempo é de balanço e preparação para o futuro. Em 2020 a consultora Savills lançou no mercado da Europa, Médio-Oriente e África, o Savills Office Fit, uma estratégia ativada para responder à pandemia da COVID-19, fornecendo aos clientes perspetivas e conselhos práticos dos especialistas da empresa. Um ano depois, e através de um estudo publicado no seu site, a empresa fez uma avaliação sobre a mudança que se registou em Portugal, através do feedback de quem mais foi impactado neste período: os trabalhadores das empresas.

Do estudo resultam os seguintes dados:

  • Apenas 5% a 10% da população trabalhava a partir de casa antes da pandemia;
  • 90% dos portugueses gostaria de trabalhar a partir de casa pelo menos uma ou duas vezes por mês. Apenas 2% prefere o trabalho a partir do escritório a tempo inteiro;
  • 87% dos inquiridos refere que é necessária a manutenção do espaço físico – o escritório – para o bom funcionamento da empresa. Ainda assim, salienta-se que o conceito de espaços de trabalho flexível ganhou força. Nesse contexto, temos o exemplo dos espaços de coworking em Lisboa que têm tido mais procura, pois são espaços fora de casa e do local habitual de trabalho, mais perto das residências dos funcionários e, portanto, com menos tempo de deslocação. Além dos espaços de trabalho flexível e o cowork em Lisboa, os cafés, hotéis e bibliotecas foram também adotados como espaços de trabalho;
  • 65% dos inquiridos no estudo refere que a boa gestão de fluxo de colaboradores no escritório tem como vantagem a promoção da confiança e segurança em contexto de regresso ao escritório de forma presencial;
  • 48% refere que iniciativas promotoras de cuidados de saúde e bem-estar são relevantes, também para devolver a confiança e a operacionalidade ao modelo de trabalho presencial;
  • Outro dado importante para o regresso ao escritório no pós-pandemia é, segundo os inquiridos, a implementação de protocolos de higienização das estações de trabalho.

O Futuro

Teletrabalho? Escritório? Depois da pandemia e reconhecendo os prós e os contras das duas soluções, é impossível determinar o sucesso de uma solução ideal para todas as organizações, porque cada uma tem a sua própria marca, identidade e dinâmica. O que parece alinhar estas diferentes tendências é a flexibilidade – isto é, a combinação entre várias soluções. Os espaços de trabalho flexível corporizam a agilidade que este novo tempo pede. As empresas têm reconhecido algumas vantagens do teletrabalho ou, em particular, de uma solução mais híbrida – fortalecendo assim a ideia de que os espaços de trabalho flexível podem ser uma solução de futuro. Como observámos, os dados sustentam esta tese. Assim, as empresas estão a incorporar esta ideia na sua estratégia ao mesmo tempo que reanalisam os seus modelos organizacionais e a sua estruturação física. Para as empresas, há várias vantagens neste tipo de espaços: à cabeça, contratos de arrendamento mais flexíveis e poupança nos custos fixos mensais. Para os colaboradores também, nomeadamente por tornarem possíveis uma melhor gestão de horários, permitindo assim conciliar a vida profissional com a vida pessoal. Após a análise de vários indicadores, o escritório lisboeta da consultora imobiliária britânica, refere que o teletrabalho supera o escritório nas categorias “Tempo em Família”, “Concentração & Focoo” e “Horário de Trabalho Flexível”. Já o escritório é preferido nos indicadores “Número Regular de Horas de Trabalho”, “Apoio da Gestão”, “Apoio dos Recursos Humanos”, “Mentoring”, “Networking”, “Trabalho Equipa”, “Cultura & Espírito de Equipa”, “Progressão de Carreira”, “Velocidade Banda Larga/Conectividade”, “Crescimento Pessoal” e “Sentimento de Pertença”. Da leitura destes dados podemos inferir que a solução híbrida – corporizada pelas várias possibilidades propostas pelo conceito de espaço de trabalho flexível – parece reunir as preferências. Em suma, todos ganham.