Início Atualidade A Importância de Acreditar: “Acreditem que com determinação e responsabilidade conseguem conquistar os vossos sonhos e objetivos”

A Importância de Acreditar: “Acreditem que com determinação e responsabilidade conseguem conquistar os vossos sonhos e objetivos”

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A Importância de Acreditar: “Acreditem que com determinação e responsabilidade conseguem conquistar os vossos sonhos e objetivos”

A Rute Serra é Mestre em Direito, Pós-Graduada em Gestão Pública sendo que, atualmente, ocupa o cargo – tão importante – de Subinspetora-Geral das Atividades em Saúde. Como nos pode descrever o seu percurso profissional ao longo dos anos?
Iniciei o meu percurso profissional na década de 90, na iniciativa privada, o que hoje considero ter sido uma experiência bastante importante e que moldou indelevelmente o meu estilo profissional. Quando, há quase 25 anos, ingressei na Administração Pública, ainda existiam resquícios de uma administração de cariz burocrático, que antecedia o processo de democratização que o país conheceu a partir do 25 de abril, desfasada, portanto, da realidade que as empresas já conheciam e à qual procuravam adaptar-se. Este embate impactou, naturalmente, uma jovem recém-licenciada, incensada por todos os sonhos possíveis e impossíveis. Convenci-me nessa altura, que podia e devia dar o meu contributo efetivo ao novo desafio que abraçava. Naquele tempo, a formação inicial de um novo quadro da Administração Pública focava de modo incisivo na importância e no relevo que assume na sociedade, o exercício de funções públicas. Ser funcionário público, apesar da conotação tantas vezes (injustamente) negativa, representa uma responsabilidade acrescida, para com todos os cidadãos contribuintes. Assisti, durante aqueles primeiros anos na Administração Pública, ao esforço que se fez para aproximar a ação pública da gestão privada, com base nas teorias da Nova Gestão Pública, que incorporou, talvez com excesso de rapidez e déficit de planeamento, noções básicas da gestão, e, mais importante, procurou recentrar a ação pública naquele que deve ser o seu desígnio fundamental: a criação de valor, de modo a satisfazer eficazmente o interesse público e as necessidades coletivas dos cidadãos. Desempenhei funções em várias entidades, sempre com responsabilidades acrescidas, em especial quando, a partir dos 31 anos, fui pela primeira vez dirigente. Contudo, é importante dizer que como acontece com qualquer percurso profissional, público ou privado, existem momentos em que o esforço que imprimimos não é suficiente para evitar percalços. O que importa é que ao deparar-nos com óbices, sejamos capazes de nos reinventar, porque o ser humano possui uma quase infinita capacidade de adaptação que, nessas alturas, tem que ser ativada.

Sabemos que já exerceu os mais variados cargos em inúmeras áreas. O que queremos saber é, qual é realmente o seu sonho? O que ainda está por realizar?
Ao longo destes quase 25 anos de carreira na Administração Pública, apesar das várias organizações que integrei e das suas especificidades, em comum existe o facto de a área de atuação ser, com poucas variações, idêntica: a da inspeção, fiscalização e auditoria públicas. Neste momento, em face desta experiência acumulada, e por ter percebido existir uma lacuna editorial no que a esta área da Administração Pública diz respeito, decidi iniciar um projeto com vista à edição de uma obra que venha a ser um referencial sobre a atividade de controlo do Estado, útil para as novas gerações de trabalhadores das carreiras especiais.

Quais são as características que considera fundamentais para se alcançar todo o sucesso que já atingiu até à data?
Manter o foco nos resultados que se procuram atingir é essencial. Por outro lado, ter paciência e determinação, para lidar com os momentos em que parece que afinal não vale a pena o esforço. Ter coragem de assumir desafios, interiorizando o estímulo e percebendo que só por isso, se exige uma responsabilidade de comprometimento pessoal acrescida. Manter sempre a resiliência perante os escolhos e a convicção suficiente nas próprias capacidades e competências, com a humildade necessária.

A igualdade de género continua a ser um tema bastante debatido e o qual merece a nossa devida atenção. Sendo uma profissional que há muito ocupa cargos de liderança, enfrentou obstáculos acrescidos pelo facto de ser mulher?
Tenho alguma dificuldade em aceitar que este tema da igualdade de género ainda seja, no século XXI e num país com uma democracia consolidada, uma questão. Mas o facto é que ainda existem disparidades inaceitáveis, e que devem ser, naturalmente, reprimidas. Porém, talvez por sorte no acaso, raramente senti que o facto de ser mulher fosse um obstáculo ao exercício de cargos de liderança. A conduta profissional (e pessoal) que adotamos é fundamental para a credibilidade que apresentamos e foi essa preocupação, que mantive sempre, que julgo ter sido conveniente, naqueles momentos em que pressenti que o meu género, podia potencialmente ser indevidamente utilizado, para inibir a minha competência.

O que significa para a Rute Serra tudo o que já conquistou? Quão gratificante é olhar para trás e ver que está a deixar a sua marca especialmente no mundo feminino?
As conquistas pessoais são marcos importantes de um percurso, que ainda não chegou ao fim. São momentos em que vemos recompensado o esforço e muitas vezes, a ousadia. Representam um certo alimento anímico para continuar, mas não devem ser sobrevalorizados, a ponto de nos tentarmos à acomodação. Essa sim, é perigosa. Desde logo porque nos incute uma falsa sensação de objetivo cumprido. O objetivo só está totalmente cumprido no dia em que decidimos que o que podíamos fazer, está feito.

Avaliando o seu percurso, foco e determinação são duas características que facilmente descrevem a Rute Serra. Assim, o que a motiva diariamente a cumprir com os objetivos a que se propõe?
Como disse antes, a certeza de que o objetivo só está totalmente cumprido quando decidimos que o que podíamos e devíamos fazer, está feito. Dou um exemplo: sou uma leitora compulsiva e há muito que a ideia de escrever um livro de ficção me tinha surgido. Quando a história me apareceu, decidi que nada me impedia de tentar. Escrevi o livro: “A Assassina da Roda”, baseado na história da última mulher executada em Portugal, no século XVIII, que foi editado em fevereiro de 2020 e este ano, depois de ter sido por mim adaptado, estreou no Teatro da Trindade, em Lisboa. É este o impulso diário: decidir que vou fazer.

Sendo um exemplo de liderança feminina, que mensagem gostaria de deixar a todas as mulheres que, como a Rute Serra, gostariam de trilhar o seu caminho rumo à conquista pessoal e profissional?
A mensagem pode ser reduzida a uma palavra: acreditar. Acreditem sempre que conseguem, que podem, que merecem. Acreditem que com determinação e responsabilidade conseguem conquistar os vossos sonhos e objetivos. Acreditem que podem ser e fazer o que se propuserem, mesmo que o caminho não seja sempre a direito. Acreditem, assim, que merecem todo o sucesso que alcançarem.

Devido aos limites que a sociedade ainda impõe, é fácil para uma mulher conciliar uma carreira profissional de sucesso com a vida pessoal? Ou é necessário abdicar ou descurar de uma em detrimento da outra?
O mais saudável será sempre, a todo o tempo, perceber quais são as prioridades. De facto, a longa manus da sociedade neste aspeto é ainda muitas vezes um fator de pressão e de depressão para as mulheres. Compete-nos a nós equilibrar a ambição de corresponder sempre, porque a única consequência será esbarrar na realidade.