No universo que Inspira e Motiva Olga Insua, o fator-chave é só um: as pessoas

A Angelini Pharma é a divisão farmacêutica do Grupo Angelini, uma empresa que já marca a sua presença na área da saúde há quase 100 anos, tornando-se assim uma líder neste âmbito. Com 25 anos de experiência profissional, Olga Insua, Diretora Geral da marca em Espanha, assume-se como uma aventureira e inegavelmente adepta da transformação. Esteve em conversa com a Revista Pontos de Vista, onde revelou pormenores acerca do seu percurso enquanto líder e mulher.

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O caminho traçado por Olga Insua passou já por vários campos de ação, o que lhe confere, hoje em dia, um enorme poder de encaixe e liderança, tornando-a numa profissional e mulher com um valor inqualificável. Desta forma, importa perceber quais os fatores-chave durante todo este processo, quais as metas traçadas, bem como as razões que a motivaram a tomar certas decisões, e ainda a importância cada vez mais de se falar numa temática tão relevante como a liderança feminina.

A importância de existir uma marca como a Angelini Pharma
Já com 40 anos de existência em Espanha, a Angelini Pharma atua no campo das ciências sendo uma marca especializada nas áreas da esquizofrenia, depressão e brevemente, na epilepsia. Foi pelas palavras da Diretora Geral, Olga Insua, que conhecemos o foco principal: Brain Health. Assim, e primando acima de tudo pela saúde dos pacientes, a nossa entrevistada confere que “a Angelini Pharma irá doar 35 milhões de dólares americanos para a Fundação Angelini Lumira Biosciences e seremos o único investidor numa fundação que investe em companhias que tem investigação em fase inicial nas áreas de distúrbios de saúde como o sistema nervoso central e doenças raras”.
Dentro de uma empresa desta dimensão, e para que a missão nunca deixe de ser a qualidade de vida dos doentes, as pessoas são um fator-chave. “Aqui presamos muito os nossos colaboradores, as pessoas que trabalham com dedicação e paixão para melhorar a saúde dos doentes que procuram uma melhor qualidade de vida para resolver as doenças que têm”, garante Olga Insua.
Certo é, esta é uma farmacêutica que já abrange um mercado de grande escala, o que acresce uma maior responsabilidade a todos os que ali trabalham. Nesta que é uma área tão necessária a toda a sociedade, a interlocutora não hesitou quando questionada acerca do segredo para todo o sucesso: a ciência e as pessoas. “A ciência é o que nos traz as soluções para milhões de pessoas que sofrem e dependem da inovação e do desenvolvimento da indústria farmacêutica. E as pessoas que trabalham aqui na Angelini são muito dedicadas de forma a conseguirem trazer alta qualidade com estas soluções, e fazê-las chegar às pessoas que precisam, e esse tem de ser o segredo do nosso êxito”, garante.
Para além da Brain Health, a Angelini atua também na área do autocuidado de saúde, onde trabalha com os farmacêuticos, de forma a promover a saúde, a prevenção e a autorresponsabilidade. “Também temos investigação na área das doenças infeciosas e em termos de futuro estamos comprometidos com o nosso crescimento”, sustenta a interlocutora.
Aqui é fundamental também falar sobre uma boa gestão e estratégia, e neste campo, a da Angelini Pharma passa por uma forte aposta na internacionalização em países com alto potencial de crescimento, o que acarreta um desafio acrescido. “No início de 2021 estávamos a marcar presença em 25 países, e com esta compra há muito desafio, e o maior está na integração das empresas, tanto a nível de cultura, de know-how e também dar a conhecer a Angelini nesses países”, conferiu a entrevistada.
Sendo uma marca que em muito se diferencia das restantes, e com um mindset distinto dos demais, o foco da equipa centra-se, segundo Olga Insua, em dois pontos principais: “Primeiro o espírito de transformação que nós temos, trabalhamos como uma companhia moderna, inovadora, com a missão de trazer soluções a todas as pessoas que precisam dos nossos medicamentos, e em segundo ser um ótimo sítio para trabalhar”. Enquanto equipa de excelência, implementaram uma forma ágil de trabalhar à qual deram o nome de “PLAY”, que significa Priorizar, Liderar, Alinhar e You-Learn. Segundo a entrevistada, “com este sistema temos trabalhado a comunicação rápida, transparente, quebrámos a hierarquia, para resolvermos os problemas de maneira rápida e acelerar o nosso impacto no dia a dia”, sublinhando ainda que “trabalhar desta forma é muito apaixonante”.
São vários os motivos que preenchem de orgulho a Diretora Geral desta marca, mas o maior deles é a diversidade de género pela qual primam, uma vez que “a equipa diretiva em Espanha tem 65% mulheres e 35% de homens, sendo que em Portugal a Angelini Pharma conta com 63% de mulheres na equipa”, assegura.

Ser uma profissional e líder de excelência: uma luta que nunca termina
Sabemos que Olga Insua possui já uma vasta experiência profissional com objetivos inovadores e dinâmicos, e é precisamente com orgulho que descreve a sua trajetória, não sendo ela uma trajetória tradicional. Fruto do seu espírito aventureiro, a interlocutora nunca teve medo de correr riscos: pelo contrário, eram eles que lhe davam gozo. Assim, afirma que “esta forma de ser tem-me ajudado a ser flexível, identificar oportunidades e ter essa coragem de procurá-las, sabendo que vou entrar em áreas que não conheço”. A jornada profissional de Olga Insua começou em 1997, numa companhia Suíça (Novartis) onde permaneceu durante 12 anos. Este foi o local que garante ter sido onde aprendeu as bases daquilo que é trabalhar no mundo farmacêutico, isto porque “existe aqui uma grande importância de colocar o paciente como o foco de tudo o que fazemos. Se pusermos o doente no centro, tudo o resto se alinha”, sustenta.
Passados estes 12 anos, e sendo a transformação o nome do meio da nossa entrevistada, surgiu a oportunidade de mudar de companhia, desta vez para uma Dinamarquesa (Novo Nordisk). “A razão da mudança prende-se com o facto de que para mim uma pessoa tem de estar a crescer, em constante evolução. E foi isso que me chamou à atenção nesta nova empresa. Era uma companhia que estava em transformação”, confessa Olga Insua.
Quatro anos depois de laborar nesta companhia, foi convidada a trabalhar na sede global da mesma, onde garante ter sido a missão que mais lhe ensinou sobre liderança, porque segundo a mesma “foi preciso ter muita escuta ativa, entender os objetivos, a minha equipa era internacional, portanto culturalmente havia muita diversidade, e as motivações dessas pessoas não são as mesmas então as maiores lições que tiro daí são entender as motivações de cada um”.
A verdade é que nada acontece por acaso, e muito do que aprendeu nessa fase, aporta valor na função que hoje desempenha. A nível da linguagem, sabemos que a mesma não é igual quando se fala com médicos, com doentes, com políticos, com as autoridades e até mesmo com a equipa que se tem em mãos, o que conferiu à nossa interlocutora uma flexibilidade que atualmente lhe é uma mais-valia. Com o grau de excelência e profissionalismo que todo o caminho trilhado até então lhe ofereceu, a companhia elegeu Olga Insua como Diretora Geral, e segundo a mesma, “foi aqui que pude aplicar a liderança, mas também uma transformação cultural da empresa”.
Mais tarde e já a falarmos do presente, surgiu a oportunidade de integrar uma companhia em Espanha, a Angelini. Aquando da sua entrada nesta nova etapa, enquanto Diretora Geral da farmacêutica do grupo, a entrevistada assume que à data era uma empresa que “se seguia por padrões muito tradicionais, então sabia que precisava aqui de uma transformação. A empresa reconheceu que se queria ser líder em Brain Health e doenças raras, não era da forma mais tradicional que iria promover isso no futuro”.
Engana-se quem diz que a experiência não é o melhor aliado dos bons líderes, porque foi precisamente essa ferramenta que motivou Olga Insua a integrar a Angelini, no sentido de promover uma transformação cultural e empresarial. Após dois anos a assumir um papel fundamental naquela que é agora a sua segunda casa, a Diretora Geral confessa orgulhosamente que “hoje somos uma companhia muito versátil, estamos a trabalhar com muita energia, e a chegar aos resultados de uma maneira ágil e flexível.”
Enquanto líder, guia-se por valores como o respeito, conexão, mente aberta e empatia, uma vez que para Olga Insua, o mais importante neste cargo, é ser também um exemplo. “Liderar como exemplo, permitir que me engane porque as coisas nem sempre vão funcionar bem e está tudo bem com isso, o importante é o que fazemos para retificar”. Neste sentido, a função da mesma assume três responsabilidades cruciais: apoiar, desafiar e eliminar barreiras. Segundo a líder, é importante ajudar as pessoas que com ela trabalham mantendo um elo de ligação sólido com as mesmas.

Empoderamento feminino, qual é o caminho?
Acima de uma líder poderosa, está uma mulher corajosa e humana. Assim, para Olga Insua, quando se fala de liderança e empoderamento feminino, o foco passa por eliminar o modo tradicional onde “o líder manda e o colaborador faz, isto já não existe”, assegura. Para a nossa entrevistada, a auto-organização, a autorresponsabilidade e a confiança, permite que as pessoas sejam criativas, motivando claro, uma inovação dentro do círculo que lidera. “Enquanto líder, estamos todos no mesmo patamar, não existem hierarquias. A equipa trabalha toda para a mesma direção, todos temos o mesmo objetivo”, garante Olga Insua.
Isto leva-nos a outro limiar que é a abertura de portas, a boa comunicação e a boa gestão de uma empresa. Na Angelini as pessoas sentem que não estão meramente a trabalhar, mas sim que acrescentam valor enquanto seres humanos, quem o sustenta é a Diretora Geral, que tem vindo a “identificar talento de pessoas e principalmente nas mulheres que com esta transparência, se sentem à vontade para dar o seu parecer”.
Certo é que a problemática da igualdade de género é cada vez mais merecedora de atenção, e para Olga Insua, uma mulher que há muito ocupa cargos de liderança, o mais importante é ter consciência. “Tenho que ter consciência de como sou percebida, tanto como trabalhadora, mas também como mulher”. Assim, alguns dos obstáculos pela qual a interlocutora se tem visto obrigada a lidar durante a sua trajetória prende-se com uma maior exigência no que toca, por exemplo à criatividade. Garante que as mulheres precisam de ser muito mais criativas para alcançar os seus objetivos e trabalhar muito mais para mostrar o valor que têm, ao mesmo tempo que desenvolvem técnicas para gerir os preconceitos que ainda assombram este género.
Olga Insua confessa que felizmente “houve muitas pessoas que me abriram portas, e estou muito agradecida por isso”. No entanto, “sinto que dentro de cada mulher, inconscientemente ainda é muito comum a sociedade passar mensagens erradas naquilo que é o nosso papel, e quais são as nossas responsabilidades. Muitas das vezes também nos limitamos, porque custa-nos acreditar no poder que temos, e no valor que podemos aportar”, assume a líder.
A verdade é que este é um tema que precisa continuar a ser debatido, uma vez que tal como muitos afirmam, ainda vivemos numa sociedade paternalista e masculina. Por esse motivo, para Olga Insua, “ter esta consciência, falar sobre isto e apoiar as mulheres é fundamental”.
No reverso da moeda ainda há quem afirme que a sociedade impõe alguns limites no que toca à carreira das mulheres enquanto líderes e empreendedoras, tendo estas muitas vezes que descurar da vida profissional em detrimento da pessoal, ou vice-versa, mas para a nossa interlocutora “este é um exercício contínuo e individual”. No caso da mesma, afirma ter “tomado decisões que atrasaram ou aceleraram a carreira. Quando os meus filhos eram pequenos, o meu foco profissional era fortalecer e desenvolver as minhas competências, porque queria estar mais presente como mãe. E mesmo assim, como trabalhava muito fui criticada. Porque não estava suficientemente presente no meu papel tradicional de mãe. Mas não deixei que essas críticas me influenciassem de maneira a limitarem-me enquanto profissional”. Sabemos que apesar de cada vez mais as mulheres se colocarem em primeiro lugar e guiando-se por uma mente mais aberta, a conciliação destes dois mundos passará sempre por um processo doloroso. Mas o que seria da vida sem estes percalços? É com eles que todos aprendemos. Atualmente, o problema prende-se com as mulheres que “ainda não se conseguem soltar das suas responsabilidades tradicionais”, garante Olga Insua. “Pensamos que temos que ter tudo: boa carreira, boa família, e uma casa limpa. Mas na realidade não. Podemos escolher o que é importante para nós, não porque é o que a sociedade exige”, afirma a líder. O importante neste campo passa por o mundo feminino ser capaz de se soltar destas amarras, que involuntariamente, geram ansiedade.
No universo que inspira e motiva Olga Insua, o fator-chave é só um: as pessoas. Quem o afirma é a própria, porque “ver as pessoas a trabalhar com propósito e paixão inspira-me e motiva-me muito apoiar as mulheres. Ser um exemplo, ao mostrar que sim podemos chegar a posições de liderança, mas à nossa maneira”.
Para todas as mulheres que, tal como a interlocutora, pretendem trilhar o seu caminho rumo aos seus desejos pessoais e profissionais, a mensagem da mesma prende-se com a confiança. “Quero dizer a todas as mulheres que acreditem no valor delas e naquilo que podem conseguir. Essa é a base. Acho que devemos marcar o nosso próprio caminho e pedir ajuda. As mulheres precisam de aceitar os seus próprios medos e trabalhá-los, porque dessa forma o medo não nos controla, nem limita”. E como todos os caminhos de sucesso também passam por momentos de dor, é importante e libertador saber dizer adeus. “Às vezes é preciso fechar uma porta para abrir outra, e saber que temos essa liberdade é muito importante”, termina Olga Insua.