Início Atualidade “A era digital não é o futuro, é o presente”

“A era digital não é o futuro, é o presente”

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“A era digital não é o futuro, é o presente”

A Paula Franco foi reeleita bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) para o quadriénio 2022-2025. Quão gratificante é assumir novamente este cargo? O que se pode continuar a esperar de si nos próximos anos?
Antes de mais, gostaria de destacar que é um orgulho e uma responsabilidade servir esta instituição e os cerca de 68 mil profissionais que nela estão inscritos.  E essa responsabilidade foi substancialmente acrescida com a concludente vitória da lista por mim liderada nas eleições realizadas a 18 de novembro. Obter uma votação a rondar os 89% é revelador do respaldo que a esmagadora maioria dos 23600 contabilistas certificados deram ao projeto deste conselho diretivo. A responsabilidade para os próximos quatro anos é, por isso, aumentada. Construídas as bases e reforçada a nossa posição social, teremos agora de partir à conquista de novos patamares no ciclo dos próximos quatro anos, agora iniciado, com a tomada de posse dos órgãos sociais para o quadriénio 2022-2025.

A OCC é atualmente a maior ordem profissional portuguesa e conta com cerca de 68 mil membros. Assim, enquanto bastonária da mesma, como descreve o seu papel e o da entidade que “lidera”?
A prioridade absoluta continuará a ser prestar toda a ajuda e acudir às necessidades diárias dos membros. Iremos até qualquer recanto do país e, se for preciso, do mundo para auxiliar um profissional em apuros. Numa primeira análise até pode parecer paradoxal, mas a pandemia de Covid-19, declarada em março de 2020 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), reforçou o papel dos contabilistas certificados em Portugal e no mundo. Quando o conselho diretivo, por mim liderado, assumiu funções, dois anos antes, estávamos longe de imaginar a distópica situação que todos tivemos de enfrentar, para a qual ninguém tinha a mínima preparação. A profissão e os seus profissionais deram sucessivas provas de resistência, rigor e inigualável competência, afirmando-se como os agentes económicos mais qualificados para, sempre na primeira linha, apoiarem todas as necessidades e emergências do tecido empresarial.

Aquando da sua tomada de posse em 2018, referiu a importância de delinear novos objetivos de modo a erradicar as condições de trabalho precárias, a concorrência desleal, as avenças baixas, entre outros. Que caminho tem vindo a ser traçado neste sentido? Como se encontra atualmente o panorama da OCC?
As prioridades estão identificadas: aperfeiçoar o calendário fiscal, reduzir ao máximo as redundâncias fiscais e tributárias, e pugnar por honorários mais justos e apropriados ao trabalho dos contabilistas certificados são pilares nucleares da linha de ação traçada para o último mandato dos órgãos sociais. Como foi feito no primeiro mandato, queremos continuar a manter um diálogo permanente com o governo e muito em particular com os deputados da comissão parlamentar de Orçamento e Finanças. Não podemos esquecer que foi em sede do Parlamento que foi atingido o histórico objetivo das férias fiscais.

Na conferência “Perspetiva macro”, organizada pela OCC, confidenciou que num período pós-pandemia as expetativas por parte das empresas eram outras em relação ao Orçamento de Estado (OE). De que expetativas estamos a falar? De que forma o OE 2022 foi “pouco virado para as empresas”?
Entendo que a proposta apresentada defraudou as expetativas das empresas e dos empresários. Tratava-se de um documento demasiado focado no IRS e no que podia trazer às famílias, descurando medidas específicas e cirúrgicas que se aguardavam para as empresas, num ano (2022) que se espera que seja de retoma económica e dos negócios. Em termos legislativos, esta proposta de Orçamento introduzia ainda o diferimento de todas as obrigações tributárias durante o mês de agosto, o que seria mais um passo no aprofundamento da conquista alcançada este ano com as chamadas “férias fiscais”. Contudo, com o chumbo do OE 2022 e a marcação de eleições para final de janeiro, esta possibilidade gorou-se. Esperemos que possa ser recuperada pelo próximo governo, assim como um ambicioso pacote de incentivos para as empresas e os empresários.

Sabemos que o processo da Certificação de Qualidade consiste na implementação de um Sistema da Qualidade. Quais são as vantagens que este certificado acarreta?
Uma das primeiras medidas deste conselho diretivo, em 2018, foi suspender a comissão de controlo de qualidade e as equipas de controladores destacados para desenvolver ações no terreno, nos gabinetes de contabilidade. Decidiu-se dar um compasso de espera, de modo a conceber um novo modelo de certificação de qualidade completamente diferente do que existia no passado. Como em muitos outros dossiês, também aqui a pandemia trocou-nos as voltas e aguardamos que a situação sanitária esteja completamente estabilizada para avançarmos, em definitivo, neste processo. O que parece fundamental é retirar a carga de «polícia» associada aos controladores da Ordem e dotar este processo de uma componente mais pedagógica.

Certo é que o mundo caminha a passos largos na direção da Transformação Digital, em praticamente todos os setores. Na área da contabilidade, quais são os maiores desafios e ameaças?
A era digital não é o futuro, é o presente. Os contabilistas certificados devem acompanhar as novas tendências, com um perfil digital e global, transversal e multidisciplinar. Cabe à Ordem fornecer aos seus membros as ferramentas necessárias para que os profissionais estejam capacitados e apetrechados com conhecimento e valências e, deste modo, enfrentar este enorme desafio. Um marco importante neste domínio foi a organização, em 2019, do nosso VI Congresso, no Altice Arena, em Lisboa, subordinado ao lema «Liderar a profissão digital». Durante três dias foi possível antecipar, debater e perspetivar os aspetos negativos e positivos decorrentes da era digital. Mas continuo a pensar que as vantagens superam largamente as desvantagens.

Positivamente, o que a Transição Digital traz à OCC? Neste sentido, como é que os contabilistas certificados preveem o seu futuro?
Os equipamentos e os sistemas contabilísticos mais automatizados permitem libertar os contabilistas de tarefas repetitivas, deixando-os exclusivamente focados em contribuir com o seu valor acrescentado e o seu papel de conselheiros dos empresários na tomada de decisão no processo de gestão. Este novo enquadramento permite aos contabilistas certificados aportarem novidades para o modelo de negócio, fornecendo informação mais atempada e rigorosa para o acompanhamento das atividades dos empresários. Em suma, estão reunidas as condições para que esta seja uma profissão com futuro. Estou convicta que a nova geração de profissionais será capaz de agarrar as oportunidades, até porque neste novo contexto a profissão será também mais aliciante para os novos contabilistas certificados.

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é um programa de aplicação nacional com um período de execução até 2026, que visa implementar algumas mudanças com o propósito de repor o crescimento económico e de reforçar a junção com a Europa. Assim, e com os olhos postos no futuro, que oportunidades se avizinham no ano de 2022?
O PRR é uma grande oportunidade, cuja execução não deve ser desaproveitada, sob pena de estarmos a prejudicar seriamente o futuro do país. E também aqui os contabilistas certificados podem ter um papel fundamental.  Nesse sentido, a Ordem dos Contabilistas Certificados e a Estrutura de Missão «Recuperar Portugal» assinaram a 6 de dezembro um protocolo de cooperação com o objetivo de ter o apoio dos profissionais nas ações administrativas de controlo interno e nas ações de acompanhamento junto dos beneficiários intermediários e beneficiários finais das verbas provenientes do plano. Este protocolo pretende assim garantir que a execução dos fundos “NextGeneration EU”, num curto espaço de tempo, se processa com rigor e transparência e insere-se na estratégia de controlo interno e eficácia nos procedimentos de execução dos investimentos financiados pelo PRR, de forma a garantir a cumprimento das legislações nacional e europeia.