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Marca e Ambição

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Marca e Ambição

O propósito do Ministério da Economia e da Transição Digital prende-se em guiar e calcular as políticas de desenvolvimento no que diz respeito à economia e inovação do nosso país. Enquanto Secretário de Estado para a Transição digital, como descreve o panorama atual em que Portugal se encontra nestas áreas?
O balanço que efetuámos destes dois primeiros anos de existência da área Governativa da Transição Digital é francamente positivo. Conseguimos num tempo relativamente reduzido pôr em marcha um conjunto de iniciativas emblemáticas em torno dos três pilares que estruturam o Plano de Ação para a Transição Digital – Pessoas, Empresas e Administração Pública – e de um nível de catalisadores dessa transição. Conseguimos também reunir importantes fontes de financiamento para suportar este caminho, como é o caso do PRR, que nos permitirá não só acelerar a velocidade de implementação destas medidas, como fazê-las chegar a mais empresas e a mais pessoas. Mas ainda há um caminho longo a percorrer e muito trabalho para realizar. Esperamos, contudo, que, com o voto de confiança renovado dos portugueses nas eleições de dia 30, continuemos a avançar rapidamente neste rumo. Um rumo em que o desenvolvimento do país é assente numa economia cada vez mais inovadora, que valoriza o conhecimento e trabalho qualificado, mas um país também mais coeso e inclusivo, em que as oportunidades do digital contribuem para que ninguém fique para trás.

A Transformação Digital é um dos grandes impactos, por muitos visto como positivo, da pandemia que atravessamos há vários meses. De que forma a economia do nosso país se adaptou a esta realidade? Quais os maiores desafios que daí advêm?
A pandemia provocou um efeito de aceleração da digitalização em todos os setores. Assistimos a uma redução do número de pessoas que nunca tinham utilizado a internet, convergindo com a Europa. Subimos o nível de utilização de tecnologia no trabalho, quer no setor público, quer no privado. As empresas compreenderam que a transformação digital não era uma questão facultativa, mas um fator fundamental para a sua sobrevivência, pelo que muitas tiveram de transformar os seus modelos de negócio. Efetivamente houve um efeito positivo desta pressão acrescida. Contudo, também existiram e continuam a existir, muitos desafios, que merecem agora uma atenção e um investimento redobrados. Falo por exemplo da necessidade de continuarmos a reduzir a exclusão digital e de conseguirmos formar mais profissionais para a área digital. Num caso para reduzirmos o fosso de competências e no outro caso para continuarmos a manter o nosso país competitivo internacionalmente, atraindo mais investimento e criação de trabalho qualificado. Hoje, como no passado, a batalha do conhecimento e pelo talento é essencial para o modelo de economia e de sociedade que queremos promover.

Ainda num período pré-pandémico, tinham sido já traçados alguns objetivos que incluíam medidas que visavam projetar o país além-fronteiras. Esses objetivos foram e estão a ser cumpridos?
O Plano de Ação para a Transição Digital foi apresentado em março de 2020, a poucos dias das primeiras medidas de confinamento decretadas para conter a pandemia. Quando estruturámos o plano, estávamos por isso longe de saber os impactos e as necessidades que daí adviriam. Contudo, a transição digital já era um desígnio estratégico deste Governo e uma prioridade para o país. Pelo que as linhas gerais do que estava traçado não careceram de mudanças. Das 12 medidas emblemáticas que faziam parte do plano inicial para o quadriénio 2019-2023, a esmagadora maioria já está cumprida ou em plena execução. Por isso pudemos começar a pensar no reforço de medidas do plano, e em breve iremos revê-lo com mais 16 medidas. As linhas estratégicas serão mantidas, mas agora dispomos de uma capacidade de investimento muito superior com o PRR e com o PT2030.

A inovação e a captação cada vez mais de meios digitais no seio das empresas e instituições, é um fator crucial para a competitividade das mesmas? Porquê?
O digital já entrou nas nossas vidas em todos os aspetos, pelo que é inevitável que as empresas e instituições também olhem para o digital numa perspetiva estruturante do seu negócio, como condição de sobrevivência, de crescimento e de competitividade. A questão já não é “devo digitalizar-me” mas como estou a otimizar o meu negócio por via digital ou se tenho mesmo de reinventar o meu modelo de negócio para continuar a existir. Num mercado global altamente competitivo, a inovação e o talento, principalmente a nossa capacidade de o gerarmos, atrairmos e retermos, também é fundamental. Daí que o digital também traz esta necessidade acrescida de mudança de paradigma económico em que se valoriza cada vez mais o fator de conhecimento e do trabalho. Curiosamente, o digital, ao contrário do que muitos intuíam, veio valorizar ainda mais as pessoas e o que fazem e conseguem fazer de diferente. O impacto da digitalização, da automação e da robotização no mercado de trabalho e no conjunto da sociedade será tanto mais positivo quanto sejamos capazes de agir de forma rápida e estruturada. Não se trata de substituir pessoas por máquinas, mas sim de amplificar a capacidade humana.

Que importância tem para um país como Portugal – repleto de oportunidades e um grande alvo para investidores – esta aceleração da Transição Digital a que cada vez mais assistimos?
Portugal tem hoje uma oportunidade histórica. Beneficiamos de uma localização geográfica vantajosa para, por exemplo, a amarração de cabos submarinos entre o continente Europeu e as Américas, o que nos permite ser um hub de referência nestas autoestradas digitas. As novas dinâmicas laborais, com a proliferação do teletrabalho e dos nómadas digitais, associadas a um ambiente de enorme segurança, tolerância e inclusão, colocam-nos no topo dos rankings de melhores países para viver, estudar e trabalhar. Por isso, a transição digital permite-nos duas coisas: combater a crónica situação periférica que temos a nível europeu e inverter a litoralização da nossa economia, usando o digital como instrumento de coesão territorial. O Digital vai permitir que um trabalhador e uma empresa possam ser competitivos a partir de qualquer ponto do país, produzindo e vendendo para o Mundo.

Portugal é um país preparado para as exigências que a Transformação Digital acarreta?
Estamos cá para isso, com a consciência de que este é um trabalho dinâmico e sempre inacabado. Temos que perceber que não estamos só a correr contra nós próprios, mas a correr contra outros concorrentes de outras geografias e que, como nós, também querem ser bons atletas em matéria de digitalização. Aquilo que alcançámos nos últimos anos tem atraído os olhares de diversos países Europeus, e esse é um motivo de orgulho. Precisamos de continuar a capacitar o nosso Pais, desde as nossas pessoas, às nossas instituições e à própria Administração Pública. O digital carece de um investimento permanente e uma atenção constante às exigências. Na verdade, nunca se está completamente preparado pois é necessário estar continuamente a construir e a atualizar. Se esse é o paradigma de desenvolvimento de um produto ou serviço digital, é o paradigma que temos de ter para o país e para as organizações.

Olhando para o nosso país a médio e longo prazo é possível desde já prever o futuro do digital? Acredita que é agora a hora de “retomar Portugal”? Quais são as metas?
A qualidade e foco da nossa resposta ao futuro digital será determinante para o futuro do nosso país e das nossas gerações. Existe hoje uma clara consciência de que a aposta digital aumenta a competitividade economia e social do nosso país. Retomar implicaria termos tido uma paragem, e não considero que tenhamos parado. Pelo contrário. O digital mostrou estar em contraciclo económico, mesmo no pico da pandemia. O país tem melhorado e evoluído de forma consistente nos últimos seis anos e em particular nos últimos dois anos como o DESI (Digital Economy and Society Index da Comissão Europeia) e a OCDE reconheceram internacionalmente esse sucesso. Agora, o que precisamos mais do que nunca, é continuar neste rumo e acelerar a digitalização, com a confiança de que podemos ambicionar ser uma referência mundial com esta nova ambição e marca: Portugal Digital.