
São inúmeras as características que descrevem Rita França Ferreira: é uma pessoa dada às manhãs (que, na sua agenda, começam de madrugada), não dispensa um bom pequeno-almoço e a rádio é quem lhe faz companhia diariamente. Contudo, e apesar de ser assumidamente apaixonada por diversos temas, é o livro que melhor a define. É o seu refúgio mais verdadeiro e é, para si, tão natural como respirar. Por estar diretamente conectada com a leitura, a nossa entrevistada ambicionava ingressar academicamente por algo ligado à escrita. Entre algumas indecisões inerentes aos que não têm medo de sonhar, acabou por optar pelo caminho do jornalismo, com a aspiração de se tornar escritora ou jornalista de guerra ou de fórmula 1.
Com o mérito que lhe é merecido, várias foram as experiências profissionais que cruzaram o seu caminho, tendo tido sempre a oportunidade de perceber o que gostava de desenvolver. Rapidamente entendeu que o seu lugar seria “nos bastidores”, onde magicamente tudo acontece e onde é possível dar, aos que enfrentam o “palco”, a possibilidade de brilhar.
Caracol nas Entrelinhas
A marca Caracol nas Entrelinhas surge, assim, quando Rita França Ferreira já possuía um portefólio rico em diferentes desafios profissionais e um leque de clientes fiéis ao seu trabalho. Através desta marca, desenvolve a sua atividade enquanto consultora de marketing e comunicação. A própria afirma que “as marcas e a sua estratégia apaixonam-me, as infinitas histórias que podem contar são uma inspiração e a implementação dessa estratégia criam o agradável desconforto da complexidade de gestão, exigência de planeamento e necessidade de constante criatividade”. Aqui, pode encontrar uma profissional apaixonada e determinada em fazer algo por si e pela sua marca, não descurando da vontade maior de interligar a comunicação à escrita e, consequentemente, à leitura. Por este motivo, através do Caracol nas Entrelinhas, faz revisão literária e escreve histórias para marcas nos mais diversos formatos – o objetivo é que, nos próximos meses, estas componentes possam ganhar (ainda mais) alma e se expandam, bem como a formação em comunicação interna e de storytelling.
Esta atividade requer um espírito de criatividade imenso. Desta forma, a nossa entrevistada vive acompanhada por um caderno e um lápis, onde vai apontando os seus conteúdos, atendendo ao facto de que, esta criatividade que se fala, não chega com hora marcada. Assim, e no seu caso, é através das práticas mais simples do dia a dia, como no exercício físico ou numa imprescindível ida à praia para ver o mar, que a inspiração arrebata o seu pensamento e se traduz em ideias originais que a diferenciam no mercado.
Desculpas para Ler
Recentemente foram lançados os resultados de um inquérito, conduzido pela Fundação Gulbenkian e pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa que nos indicam que 61% da população portuguesa não leu um só livro em 2021. Segundo o mesmo, verifica-se que a maioria dos inquiridos “não beneficiou do estímulo à leitura gerado em contexto familiar”. Entre as várias razões que, por norma, persistem entre os não leitores está a falta de tempo, o facto de não saberem por onde começar ou que assistir a um filme ou uma série é mais simples. E é precisamente aqui que entra Rita França Ferreira e o seu projeto Desculpas para Ler.
Que a leitura “ocupa” a maior parte do quotidiano da nossa entrevistada, já não é novidade – e muito menos para as pessoas que a circulam. Assim, e após várias críticas (sempre construtivas) a diversos livros, percebeu que poderia ser uma ponte transformadora para chegar a pessoas que estão a iniciar o primeiro contacto com os livros, a recomeçar a ler ou, simplesmente, a escolher o livro “certo” ou adequado à sua personalidade, interesses e estados de alma.
“Apesar de publicar muitas reviews sobre livros que leio, tento sempre estabelecer uma ponte sobre algo que me aconteceu, ou que aconteceu a alguém, a uma viagem ou até a uma série. Criei este projeto, sobretudo, porque eu acho que temos de ser despretensiosos, não pode ser só criar o hábito de leitura, mas sim proporcionar a descoberta do prazer de ler”, garante a nossa interlocutora. Colocando-se sempre no lugar do outro, através daquela que é a sua ferramenta de comunicação, pretende, entre críticas literárias e citações, apontar as intermináveis razões que existem para se ler: além do autoconhecimento, da autorreflexão e do tempo silencioso e íntimo que dedicamos a ler um livro, também o desenvolvimento da imaginação, da criatividade e da comunicação, são motivos válidos relacionados com a leitura. Como, de facto, é um projeto para todos, sem exceção, o Desculpas para Ler incorpora ainda a iniciativa “Mão Cheia de Desculpas”, e que se traduz em contos em formato audiovisual com língua gestual e que, Rita França Ferreira apostará fortemente nos próximos meses.
Mais se revela, é do interesse da nossa entrevistada, esclarecer de que forma, os pais, poderão ajudar as crianças a interessarem-se por livros. Numa época em que as tecnologias têm mostrado ser a base do dia a dia, importa “dar o exemplo, principalmente. Não podemos obrigá-los a ler, tem de ser um caminho cultivado. É importante que eles tenham espaço, para que possam descobrir os temas que lhes despertam curiosidade e que tenham a liberdade de abandonar um livro. Posteriormente, partimos dessa certeza e procuramos os seus livros ideais”.
O papel da leitura no caminho para a igualdade
Embora o percurso profissional da Fundadora do Caracol nas Entrelinhas e do Desculpas para Ler tenha sido repleto de experiências positivas, a mesma, garante que a necessidade de realçar o equilíbrio pessoal e profissional das mulheres continua, hoje, a ser urgente. Sendo mãe de uma menina (que apesar de hoje ser criança, no futuro será uma mulher que poderá – ou não – passar por situações de desigualdade), este é um tema que, particularmente, lhe diz respeito.
“Ainda hoje se verificam anúncios de emprego onde consta no perfil do candidato uma boa gestão do stress. Ninguém vive bem com um nível grande de stress nos ombros. E eu penso que as mulheres poderão ter uma palavra a dizer sobre esta questão: o equilíbrio pessoal e profissional é um caminho que deveria ser tranquilo, sem o peso de um esgotamento”, admite a nossa entrevistada. Neste sentido, para si, é importante continuar a assumir orgulhosamente o Dia Internacional da Mulher, onde as suas vozes deverão ser, cada vez mais, ouvidas e tidas em consideração. Assim, e tendo em conta o posicionamento de Rita França Ferreira no mundo, a questão que se impõe é sobre o papel que a própria leitura poderá ter no caminho da equidade. Sem hesitação, a própria, assume que “a leitura permite-nos perceber o outro, as diferenças e, mais importante, o que nos une. A literacia é cidadania”, acrescentando ainda que “penso que estarmos a sós com um livro poderá ser intimidatório. Quantas vezes, no dia, estamos só connosco? A verdade é que esta atitude, talvez egocêntrica, assusta quem não está habituado, porque é um momento de silêncio. E a própria equidade pode sentir-se aqui também, uma vez que é o espaço e o tempo de cada um”. Em conclusão, se observarmos profundamente e refletirmos sobre esta questão, percebemos que a leitura é uma mais-valia nas mais diversas questões da vida. Como Rita França Ferreira sugere, “a leitura é uma ferramenta de slow down, que nos permite saborear a vida, na plenitude”.