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Hidrogénio Verde: acelerador da descarbonização e da autonomia energética

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Hidrogénio Verde: acelerador da descarbonização e da autonomia energética

Pedro Amaral Jorge, CEO da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis

A análise apontava para uma descida dos custos de produção de hidrogénio verde na ordem dos 75% até ao final da década à medida que diminuísse o preço dos eletrolisadores, aumentasse a experiência na sua operação e aumentasse a potência renovável disponível em termos capacidade e horas/ano de funcionamento disponível.
O potencial desta solução estava, portanto, a ser equacionado muito antes da ilegítima invasão da Ucrânia por parte da Rússia, que veio gerar uma revolução do paradigma energético a nível global pressionando a aceleração da transição energética. O aumento do preço do gás natural e a subida do preço das licenças de emissão de carbono, aliados a questões geopolíticas e a metas de descarbonização, já tinham levado muitos países a olhar para esta opção.
Não admira, por isso, que a estratégia REPowerEU, apresentada a 18 de maio pela Comissão Europeia, que pretende pôr fim à dependência europeia do gás natural proveniente da Rússia, traga novidades nesta área. O foco é impulsionar a implementação e o consumo das energias verdes e dos gases renováveis, como o hidrogénio verde e os combustíveis sintéticos de origem não biológica, mas está também prevista uma forte aposta no aumento substancial da eficiência energética e diversificação geográfica de abastecimento de gás natural.
Uma das metas previstas neste plano aponta para a produção interna anual de 10 milhões de toneladas de hidrogénio renovável e para a importação anual de 10 milhões de toneladas até 2030, a fim de substituir o gás natural, o carvão e o petróleo em setores industriais e dos transportes difíceis de descarbonizar.
Para acelerar o desenvolvimento do mercado do hidrogénio será necessário chegar a acordo sobre submetas mais exigentes para setores muito específicos. A Comissão Europeia pretende assegurar também que a produção de hidrogénio verde conduz a uma descarbonização líquida.
Para acelerar os projetos no setor do hidrogénio está reservado um financiamento adicional de 200 milhões de euros para investigação. A Comissão Europeia já anunciou que quer concluir a avaliação dos primeiros projetos interesse europeu comum (IPCEI) até ao Verão.
Com a reorganização da geopolítica energética, ao nível global, novas superpotências energéticas poderão emergir em países tradicionalmente dependentes de combustíveis fósseis. China e Estados Unidos da América encabeçam a lista dos grandes promotores. Outros 22 países manifestaram intenção de adotar estratégias para o hidrogénio em 2022 juntando-se a outros 26 países com planos apresentados já em 2021.
Portugal tem as condições para continuar a aproveitar os seus recursos endógenos – o sol, a água e o vento – para a produção de eletricidade a partir de energia solar, hídrica e eólica onshore e offshore, mas deve apostar também nos gases renováveis, como o hidrogénio verde, fundamentais para apoiar áreas onde a eletrificação direta é mais difícil.
Sines, em particular, está a posicionar-se neste domínio, assumindo uma nova centralidade na transição energética enquanto ponto de conetividade com o mundo.
Os projetos para produção de hidrogénio e outros gases renováveis poderão ser apoiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PPR), na vertente de transição climática, que tem associada uma verba de três mil milhões de euros.
Estes projetos, de acordo com a nova estratégia da União Europeia serão considerados de interesse público, o que poderá constituir uma “via verde” para acelerar esta transição.
O primeiro aviso para a produção de hidrogénio e gases renováveis, no âmbito do PRR, lançado pelo Fundo Ambiental ainda em 2021, recebeu 41 candidaturas que totalizam um investimento de 380 milhões de euros. Os promotores apresentaram projetos para apoios diretos na ordem dos 204 milhões de euros, embora o aviso tenha uma dotação prevista de 62 milhões de euros.
Mais do que nunca o hidrogénio verde deve ser encarado como uma possível e viável solução para acelerar a descarbonização dos consumos de energia, garantir um leque mais alargado de tecnologias no mix energético e contribuir para a segurança e soberania energética.
O hidrogénio verde pode ser a solução mais económica para indústrias consumidoras intensivas de energia onde a eletrificação direta é mais difícil ou mesmo inexequível com as tecnologias hoje disponíveis comercialmente. A indústria pesada liderará a procura de hidrogénio, nomeadamente a indústria química e a do aço.
Não existe segurança sem autonomia energética. Só apostando em energias verdes e gases renováveis conseguiremos colocar um travão no aumento da temperatura média do planeta impedindo a multiplicação de eventos climáticos extremos, que já são sentidos em várias partes do mundo, potenciados pelas consequências das alterações climáticas.