Início Atualidade “O Hidrogénio viabiliza um novo paradigma energético inesgotável e sustentável”

“O Hidrogénio viabiliza um novo paradigma energético inesgotável e sustentável”

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“O Hidrogénio viabiliza um novo paradigma energético inesgotável e sustentável”

Fundada em 2003, a Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio (AP2H2) é uma entidade sem fins, cujas atividades estão direcionadas para a promoção e facilitação do hidrogénio como vetor energético em Portugal. Após 19 anos de história, como tem vindo a ser o consumar do propósito da sua criação?
É hoje genericamente valorizado o contributo da AP2H2 na colocação do Hidrogénio na Agenda política, meta atingida em 2020 com a publicação a 14 de agosto da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (ENH2). Foi a conclusão de uma tarefa perseverante de divulgação realizada através de workshops, seminários, estudos e ações de formação que contribuíram para informar e formar opinião sobre a inevitabilidade do Hidrogénio como vetor energético, face aos desafios enfrentados da sustentabilidade climática e mais recentemente da autonomia energética, permitindo antever o términus da dependência dos hidrocarbonetos como fonte energética.
A AP2H2 é hoje reconhecida como um interlocutor com um contributo importante na definição das políticas de transição energética e sustentabilidade, enquanto porta-voz dos seus 134 associados. Contamos com a participação dos principais players nacionais na economia do Hidrogénio.

Desta forma, promover a introdução do hidrogénio como vetor energético, apoiar o desenvolvimento das tecnologias associadas e incentivar a utilização do mesmo em aplicações comerciais e industriais em Portugal é a missão da AP2H2. Fazendo uma análise ao panorama nacional, acredita que Portugal já possui sentido de responsabilidade e compromisso em relação ao hidrogénio?
A adesão da comunidade nacional à Economia do Hidrogénio é um facto inquestionável, como provam as candidaturas apresentadas aos concursos que foram lançados no quadro do PRR. A descarbonização da indústria é a aplicação que suscita nesta fase um número mais significativo de projetos, nomeadamente através de projetos PtG, com a injeção de H2 nas redes locais de GN e com a produção de amónia verde. A mobilidade é outra aplicação que suscita igualmente o interesse dos investidores na economia do hidrogénio embora haja ainda que ultrapassar as limitações que decorrem da inexistência da infraestrutura logística para abastecimento dos veículos, esperando-se que em breve essa infraestrutura esteja disponível.

Com um – cada vez mais – profundo conhecimento, o uso do hidrogénio ainda tem potencial para surpreender. Assim, que vantagens identifica na sua utilização?
São essencialmente três os drivers atuais da economia do Hidrogénio verde e que explicam e justificam o interesse suscitado. O Hidrogénio associado a fontes de energias renováveis vai permitir eliminar as limitações características destas formas de energia: intermitência, aleatoriedade e sazonalidade. É, pois, um novo paradigma energético que se está a construir, que se caracteriza por ser:
▶ Inesgotável;
▶ Sustentável, não emitindo gases poluentes que contribuem para o efeito de estufa
▶ Autónomo, cada comunidade terá capacidade para produzir a sua própria energia.

Certo é, Portugal comprometeu-se em assegurar a neutralidade carbónica até 2050, traçando uma visão clara relativamente à descarbonização profunda da economia nacional. De que forma se destaca o papel do hidrogénio no processo em direção à descarbonização e sustentabilidade?
Como se conclui da resposta anterior o hidrogénio viabiliza um novo paradigma energético inesgotável e sustentável. Serão eliminados os gases com efeito de estufa, maximizando o recurso a fontes energéticas renováveis. A descarbonização da economia, do consumo privado e da mobilidade está, pois, ao nosso alcance.

Considera que é expetável que vejamos um impacto significativo em alguns setores – indústria, transportes, energia – posicionando o hidrogénio como uma solução custo-eficaz a médio prazo?  Que desafios se avistam, neste sentido?
A otimização das tecnologias, o scale-up dos equipamentos e a produção a uma escala industrial permitem antever a produção de H2 a um custo inferior a 2€/kg, viabilizando a produção de H2 a um valor competitivo face aos valores atuais dos combustíveis fósseis. Scale-up e produção industrial são, pois, os principais desafios que a economia do hidrogénio tem à sua frente. A meta para os ganhar é 2030.

A versatilidade do hidrogénio, aliada à ambiciosa estratégia portuguesa, confere a esta solução uma centralidade no processo de descarbonização, contudo, para isso, é necessária inovação tecnológica. Sendo que a AP2H2 apoia as tecnologias associadas ao hidrogénio, de que forma esta inovação será um importante motor de transformação?
As tecnologias atuais já são, por si, soluções eficazes. Mas a inovação tecnológica mantém-se como desafio, e novas tecnologias estão emergentes em toda a cadeia de valor o que virá reforçar o posicionamento competitivo do hidrogénio como solução energética. Portugal está a participar nesse esforço coletivo de inovação. Temos uma posição privilegiada no quadro europeu para a produção de H2 e já temos empresas que dominam parte relevante da cadeia de valor.

A AP2H2 pretende observar e apoiar a implementação do hidrogénio como novo vetor energético, nomeadamente a produção de combustíveis e a sua utilização como fonte de energia, o desenvolvimento das tecnologias associadas, bem como a investigação e o ensino. No que concerne a estas vertentes, como perspetiva o ritmo de mudança e o futuro do panorama nacional?
O REPOWEREU dá já uma indicação para o ritmo das mudanças. 2030 representa uma meta para a independência energética da EU, obrigando a acelerar os planos para a produção do H2 e sua utilização. Os objetivos do FIT 55 tornaram-se insuficientes e esperamos que possam ser antecipados. O desafio para a indústria europeia é o de ter capacidade para responder à procura de mercado, quer na cadeia logística da economia do hidrogénio, quer na adaptação do consumo a esta nova realidade energética. A ENH2 terá de ser atualizada para enquadrar estas novas metas, e a AP2H2 está disponível para colaborar nessa revisão. Esperamos em breve apresentar ao governo a nossa proposta de plano de curto prazo para a mobilidade, com a criação de uma infraestrutura de abastecimento de viaturas ligeiras e pesadas.