Implicações da expansão do anticiclone dos Açores para Portugal e Espanha

Foi realizado um estudo científico que concluiu que o anticiclone dos Açores tem ocupado uma área cada vez mais extensa.

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O crescimento deste anticiclone está a tornar os invernos do Mediterrâneo Ocidental, incluindo a Península Ibérica, mais secos, revela um estudo que analisou dados meteorológicos que remetem a 1850.

Os investigadores puderam concluir que, desde o ano de 1850, os invernos onde o anticiclone foi maior, resultaram numa época com menos chuva, particularmente em Portugal e Espanha. O mesmo é um grande centro de altas pressões atmosféricas que influencia o clima da várias regiões do Norte de África, Europa Ocidental e Américas. Situa-se no Oceano Atlântico, perto do arquipélago dos Açores, forma com a Depressão da Islândia, o que, no seu todo, resulta numa grande área do oceano e que acaba por moldar as condições meteorológicas. Estes dois fenómenos formam os pólos opostos da chamada Oscilação do Atlântico Norte (NAO). Já no verão, ambos crescem e andam mais a norte, cortando a humidade. Daí o ambiente seco, estável e quente. No inverno, o anticiclone dos Açores encolhe antes da depressão da Islândia. E é isto que tem vindo a alterar-se.

De acordo com os investigadores do estudo, o anticiclone está a expandir-se muito além dos seus limites habituais e com uma frequência cada vez maior. O mesmo indica que, no século XX, ocorreram 15 eventos extremos em que o anticiclone dos Açores foi até 50% maior. Em comparação, nos 1100 anos antes, a média por século era de nove. Tendo-se acelerado ainda mais nos invernos das últimas décadas. Segundo Caroline Ummenhofer, autora principal do estudo, “o nosso estudo incidiu especificamente nos meses de inverno, uma vez que é a principal estação em que a Península Ibérica recebe a maior parte das suas chuvas. As mudanças no tamanho e posição das altas pressões dos Açores durante esses meses têm um grande impacto no transporte de humidade desde o Atlântico, direcionando o sistema de chuva”.

Os cientistas utilizaram diversos modelos climáticos para estimar os invernos em que as altas pressões atmosféricas ultrapassaram o limite. Esses modelos foram ajustados a dados de estações meteorológicas espalhadas pela região – os de Lisboa e dos Açores, por exemplo, remontam a 1850. Recorreram, também, a informações climatéricas mais indiretas, como as estalagmites de um gruta portuguesa, que conservam informações muito mais antigas no que diz respeito à precipitação. “As nossas análises mostram que os invernos com um anticiclone especialmente grande dos Açores coincidem com condições invulgarmente secas na Península Ibérica durante o inverno”, confidenciou Caroline Ummenhofer. Acrescentando que, “as frentes de tempestade do Atlântico Norte estão a fortalecer-se mais a norte, com a Noruega e o norte das ilhas britânicas a terem condições anormalmente húmidas”.

Os autores do estudo são da opinião de que a industrialização, ou seja, a mão humana, pode explicar este fenómeno de expansão do anticiclone. Nos últimos anos, a Península Ibérica foi atingida por várias ondas de calor e secas. Em maio, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera avisou que 97% do território estava em situação de seca severa.

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