O Supremo Tribunal dos Estados Unidos revogou a decisão histórica que há 50 anos legalizou a interrupção voluntária da gravidez. Como analisa esta alteração?Trata-se de um assunto bastante delicado, mas analiso de uma forma simples. A meu ver existem duas situações. Primeiro, existe quem por motivos religiosos não concorde que deva ser possível a uma mulher escolher fazer o aborto. Por outro lado, quem não é devoto a qualquer religião ou crença não tem que estar sujeito a uma proibição que não lhe está associada. Olhando do ponto de vista do argumento “destrói a vida fetal”, que penso ter sido utilizado no processo de revogação, penso que, e não percebendo muito do caráter científico, se a gravidez for interrompida numa fase inicial o feto ainda não estará desenvolvido, e assim sendo a vida não estará ainda formada e não será destruída. Por este motivo penso que deveriam existir exceções, permitindo o aborto em períodos que caracterizam o início da gravidez. Outro argumento comum que ouço é “se proibirem a interrupção da gravidez, as pessoas vão recorrer a formas menos seguras para o fazer”, pois estarão a fazer o mesmo de forma clandestina e sem as condições adequadas, colocando da mesma forma em perigo uma vida. É algo que também se tem que considerar. Considerando todos estes motivos, penso que devem haver sempre exceções que permitam a mulheres tomarem a decisão de interromper uma gravidez, sendo uma decisão apenas das mesmas, num momento apropriado.
Acredita que esta restrição ao aborto terá impacto no mundo? De que forma?
Se o motivo defendido para a revogação da legalização da interrupção da gravidez estiver associado a algo científico e justificação factual, então acredito que mais governos possam a vir adotar esta medida. Por outro lado, a indignação com esta notícia foi bastante notória por todo o mundo, e penso que por este motivo os governos podem ter mais dificuldade em propor e ter aceite a aplicação desta medida. Para além de que hoje em dia a Mulher ocupa cada vez mais cargos de decisão na sociedade e acredito que muitas delas irão sempre votar contra esta medida. Acima de tudo, hoje em dia a liberdade é cada vez mais valorizada e muitos lutam por ela nos mais diversos aspetos. Assim sendo penso que esta medida é vista como retrógrada para maioria das populações e não vista como algo que sirva para uma progressão da sociedade no futuro.