A Magia da Pintura pelos Olhos de uma Mulher

Em tempos idos, diz que com um lápis ou tintas encontrava a tranquilidade. E este tem sido o rumo da nossa interlocutora. Falamos de Joana Seixas Silva que, em parceria com Pavel Grebenjuk, desenvolve o projeto “Art Studio Lisbon by Jo Seixas & Grebism, em entrevista à Revista Pontos de Vista, falou um pouco sobre o projeto que tem vindo a desenvolver, o seu trajeto e das agruras e vitórias por ser uma artista Mulher, deixando uma mensagem poderosa a todas as Artistas Plásticas. “Sejam persistentes, e agarrem-se a essas dificuldades e percebam que a magia da pintura é que podemos, dentro de uma tela em branco, contruir o nosso mundo perfeito e obrigar um mundo a olhar para ele”.

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A Joana Seixas Silva afirma que desde cedo percebeu que a arte faria parte da sua vida. Comecemos por andar para trás no tempo até esse momento. Como nasce o interesse pela arte?
Penso que desde que me lembro de (ser) que sempre me senti com uma sensibilidade diferente das restantes crianças e era a desenhar e a pintar que me sentia bem, tinha muitos problemas comportamentais e hiperativos mas, com um lápis ou tintas, encontrava a tranquilidade.

Abriu a sua própria galeria de arte em Coimbra, mas a sua permanente necessidade de aprendizagem fez com que, aos 30 anos, voltasse a estudar. Olhando para toda esta trajetória, o que a move no sentido de inovar e de procurar novas formas de expressão?
Quando saí da ESEC entrei no ramo empresarial, e, no seguimento de alguns negócios que abri na cidade, como continuava a pintar e a vender as minhas obras, acabei por abrir a galeria. Foi uma mudança radical que fez com que com 30 anos, tivesse de recomeçar. Deixei de ter essas empresas e tive de reformular a minha vida, e é nesse momento que tomo a decisão de aceitar que as artes plásticas podiam ser a minha vida e aceitar os riscos de seguir um sonho mesmo tendo noção das dificuldades inerentes a esta área. Foi quando me candidatei às belas artes em Lisboa.

A verdade é que, desde cedo também, percebeu que uma das suas maiores lutas como ser humano seria a emancipação da mulher – foco presente em todas as suas obras de arte. Quão importante é a representatividade da mulher na arte nos dias de hoje?
A questão da emancipação da mulher sempre foi um assunto importante para mim, e, desde nova, percebi as desigualdades e sinto na pele até aos dias de hoje. Como venho de uma família numerosa de mulheres fortes, trabalhadoras e independentes nunca percebi o porquê, até porque na minha família as mulheres na sua maioria são a “cabeça o tronco e os membros” das suas famílias e negócios. Relativamente à representatividade da mulher nas artes, ela ainda é muito limitada, e para os mais céticos, é uma questão que facilmente se comprova com números e muito resumidamente, as faculdades de artes globalmente, tem mais alunos do sexo feminino mas as galerias e festivais de arte são preenchidos por artistas masculinos

Atualmente, em parceria com Pavel Grebenjuk, desenvolve o projeto “Art Studio Lisbon by Jo Seixas & Grebism”. Face aos valores que a definem enquanto artista, que trabalhos podemos aqui encontrar?
O conceito do nosso atelier é muito simples, todos os nossos trabalhos são originais, o nosso foco é a pintura e a gravura.

A mulher, mais uma vez, é a peça-chave do trabalho que a Joana Seixas Silva desenvolve e nada fica ao acaso, nem os materiais utilizados, a cor escolhida ou o facto de optar por pintar mulheres de todas as origens. Que significado estas três vertentes têm?
Tento, com as minhas pinturas, transmitir confiança, poder ou força que para mim define as mulheres. A origem é completamente irrelevante porque penso que é universal. Faço muita pesquisa sobre grupos indígenas controlados por mulheres, o sucesso desses grupos socialmente e o efeito da gestão feminina num grupo é evidente, como tal tenho a convicção que um mundo “gerido” por mulheres era mais justo e menos problemático em vários sentidos.

É por todos estes factos que o projeto “Art Studio Lisbon by Jo Seixas & Grebism” ganhou inúmeros prémios e nomeações. Face a este reconhecimento, qual é o grande plano a curto/médio prazo para o estúdio de arte?
Esta é uma questão um pouco sensível para mim. O nosso reconhecimento é praticamente no estrangeiro, apesar de o nosso atelier ser em Lisboa. Esse é o motivo para dentro de pouco tempo trocar Lisboa por Berlim, até porque é na Alemanha que o nosso reconhecimento é maior.

Enquanto artista, a Joana Seixas Silva é um exemplo claro de empoderamento feminino no campo das artes – o que muito significa na história e, sobretudo, no futuro das mesmas. Posto isto, a que patamar pretende elevar a sua arte e que missão a mesma terá no mundo?
A minha missão durante muitos anos, não posso mentir, foi provar o meu valor como mulher nas artes. Trabalho ao lado de um artista homem, e as dificuldades de ambos são totalmente diferentes. A artista enquanto mulher, tem permanentemente de provar o valor técnico, quando na verdade a arte não é isso, são inúmeros os colecionadores, galerias e museus que só abrem portas para artistas masculinos, e é fácil ver a pouca representatividade das mulheres em algumas áreas das artes. Não posso dizer que seja uma missão, mas gostava que todas as artistas plásticas que sintam estas dificuldades que referi, sejam persistentes, que se agarrem a essas dificuldades e percebam que a magia da pintura é que podemos, dentro de uma tela em branco, construir o nosso mundo perfeito e obrigar um mundo a olhar para ele.