“O que mais me fascina é lidar com Pessoas”

Como é, atualmente, o empreendedorismo feminino em Portugal, nomeadamente em áreas mais dominadas pelo género masculino? É sobre este tema e sobre capacidade de liderança intrínseca, que Clementina Nazário, empresária na área da construção de Piscinas e SPA’S, através da marca Dekpool, contou à Revista Pontos de Vista a sua experiência no mercado até ao momento. Saiba tudo.

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A Clementina Nazário é empresária na área da construção há cerca de seis anos, tendo sido o seu início com a empresa Fontoura e Nazário. Assim, qual o balanço que faz do percurso que tem vindo a traçar enquanto empreendedora?
Considerando-me uma pessoa otimista e proativa, faço um balanço bastante positivo quanto ao meu percurso profissional.
Há vários anos que estou ligada ao ramo da construção, mesmo antes de me tornar empresária com um negócio próprio. A vontade de dar este salto foi algo crescente em mim, à medida que aí conhecendo as especificidades deste setor de mercado, predominantemente dominado pelo género masculino.
Tudo começou com a Fontoura e Nazário, empresa que estava dedicada à construção e remodelação de imoveis habitacionais e comerciais. Na evolução do negócio, identificando outros segmentos, crescemos para a área das piscinas, trabalhando em parceria com outros empreiteiros que subcontratavam os nossos serviços, por não terem mão-de-obra especializada para o efeito.
Sempre atenta às oportunidades e percebendo o aumento da procura e satisfação dos clientes, pelo nosso desempenho e oferta integrada, percebi a oportunidade de entrar neste nicho de mercado e lancei-me na criação de uma marca específica, dedicada ao segmento das piscinas – Dekpool Piscinas e SPA’s.
Sendo esta marca uma consequência natural da consolidação do nosso trabalho e presença neste mercado, a Dekpool tem beneficiado do contexto sócio-económico vivido no país, decorrente da pandemia, apresentando um crescimento muito positivo na construção e reabilitação de piscinas e spa’s.
Aproveitando este facto e, mantendo uma visão a médio prazo, continuo atenta a novas oportunidades, tendo iniciado a expansão dos nossos serviços para as Ilhas, mais propriamente para a Ilha de Sta Maria, nos Açores.

Quais os principais desafios e obstáculos que enfrentou na hora de lançar-se no mundo do empreendedorismo, particularmente por ser uma área (ainda) maioritariamente associada ao género masculino?
Como referi, estou ligada à área da construção, na vertente comercial há vários anos, tendo passado por outras empresas, também elas maioritariamente dominadas pelo género masculino. Sempre mantive com eles uma relação muito cordial, divertida e de companheirismo, nunca me sentindo o  ‘elo mais fraco’ por ser mulher.
À medida que fui ganhando mais experiência, competências e algum jogo de cintura para entrar neste meio, fui também marcando o meu espaço e reconhecimento pelo meu trabalho.
Assumindo o papel de empresária, estando à frente da gestão e área comercial da minha própria empresa, também me ajuda a reforçar uma presença mais forte e consolidada neste setor. Até porque, naturalmente, a nossa equipa é composta por 90% de profissionais masculinos.
São eles que estão no terreno a executar. A mim cabe-me a missão de garantir um serviço de excelência e a gestão global da operação, para a melhor satisfação do cliente.
Encaro os desafios e obstáculos com que me vou deparando, maioritariamente, causados pelo mercado concorrencial e vasta oferta de serviços, que acabam por mexer com todos os setores de negócio.
O facto de ser uma mulher num setor muito masculino, por vezes até é mais valorizado, abrindo algumas portas, tendo certa a exigência da qualidade do trabalho/serviço prestado.

É legítimo afirmar que a área das Piscinas e SPA podem ser uma oportunidade de crescimento de negócio? Porquê?
É legítimo e real, principalmente ao nível da habitação privada e condomínios de luxo. E se tomarmos estes dois/três últimos anos como exemplo, podemos ver o crescimento exponencial na procura destes equipamentos que, outrora eram vistos como ‘acessórios de luxo’ para um nicho de classe alta.
Por outro lado, o mercado vai estando cada vez mais segmentado e especializado e, a área das piscinas não é diferente, pois grande parte das empresas de construção não têm mão-de-obra especializada, nem conhecimento técnico para a construção destes equipamentos.
No nosso caso, o crescimento foi evidente, tendo a Dekpool crescido em equipa, contratos e deslocalização. Estamos presentes de norte a sul do país, tendo a inauguração da Dekpool Açores, a nossa delegação na Ilha de Sta. Maria, ocorrido no passado mês de maio. Este lançamento traz um conceito inovador de piscinas ecológicas, reforçando o contexto sustentável da ilha.

Na sua realidade, o facto de ser mulher, é ou alguma vez foi, um desafio acrescido no mundo do empreendedorismo e da liderança?
Ser empreendedor em Portugal já é um desafio por si só. O facto de ser mulher pode ser um pouco mais complexo pela nossa cultura passada, que ainda hoje se revela pouco aberta em algumas vertentes.
No meu caso em particular não posso dizer que sinta essa diferença no meu dia a dia, até porque sou a ‘imagem de marca’ associada à Dekpool, assumindo a vertente comercial e estar em contacto direto com os nossos clientes e parceiros. E isso reflete-se em todas as áreas de negócio do grupo, uma vez que estou envolvida a 100% com todas, garantindo o melhor nível de qualidade dos nossos serviços. Talvez por isso me vejam como uma gestora de negócios e não propriamente como uma líder.
Como sou muito feliz no que faço e orgulhosa do sucesso que tenho obtido neste meu percurso, encaro a minha liderança como uma característica intrínseca à minha personalidade – nem muito aguçada, nem despercebida.

Acredita que a diferença entre géneros, pode, de facto, ser uma mais-valia na arte de negociar? De que forma?
O bom profissional não tem género. É o conhecimento, interação, empatia e dedicação de cada um que é revelador da diferença. No entanto, em alguns casos específicos, o facto de sermos homem ou mulher pode ajudar na negociação, tanto pela apetência pelo segmento, produto ou serviço e/ou claro, pelo perfil do interlocutor.

O que para si é mais interessante na área em que trabalha?
Na realidade o que mais me fascina é lidar com pessoas, entender as suas necessidades e dar soluções. O setor de atividade fica para segundo plano. A minha veia comercial é o que fala sempre mais alto.
A área da construção e, atualmente, o segmento específico das piscinas é o meu ‘mundo’, que domino em termos de técnica, materiais e acondicionamento. Quanto mais sabemos sobre o nosso negócio, mais nos envolvemos e especialistas nos tornamos.

A terminar, que mensagem gostaria de deixar a todas as mulheres que gostariam de dar um passo como o que a Clementina Nazário deu há seis anos atrás?
O que me apraz dizer é: “Se tens um sonho e acreditas no teu valor dá um salto de fé. O que vier a seguir terá sempre solução.”