“Nenhum governo, político ou homem deveria dizer à mulher o que ela pode ou não fazer com seu corpo”

VANESSA TAXA, 48 ANOS, DESIGNER

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O Supremo Tribunal dos Estados Unidos revogou a decisão histórica que há 50 anos legalizou a interrupção voluntária da gravidez. Como analisa esta alteração?
Como mulher, acho inacreditável perceber que no momento em que os direitos nos parecem consolidados, somos relembradas de que nada nos foi oferecido. A ilegalização do aborto não acaba com os abortos, acaba com os abortos seguros. Quem quer fazer um aborto irá fazê-lo na mesma mas desta vez de forma clandestina, sem higiene ou nas mãos de um carniceiro qualquer. Infelizmente nos dias de hoje ainda temos de lutar por isto: pelas nossas vidas. Punir uma mulher do qual não se sabe a sua história, de quais são os seus projetos e esperanças, as suas dificuldades e limites, de quais são os motivos que estão por de trás das suas decisões… Chama-la de criminosa ou, alternativamente, perdoa-la por uma atitude irrefletida é humilha-la sob uma lei de uma sociedade hipócrita, mesquinha e patriacal. Nenhum governo, político ou homem deveria dizer à mulher o que ela pode ou não fazer com seu corpo.

Acredita que esta restrição ao aborto terá impacto no mundo? De que forma?
Obviamente que sim. É uma medida que marca um retrocesso civilizacional dos direitos das mulheres em todo o mundo. Primeiramente os EUA são uma referência tanto a nível cultural como jurídico, por outro lado o que está a acontecer atualmente nos EUA suscita debates distintos que misturam a Justiça e a Política, e quando as nomeações para as altas instâncias são definidas por maiorias político-partidárias populistas onde se põem em causa os direitos humanos que foram conquistados por matéria de opinião é sinal que nada é seguro e que não há direitos adquiridos! A decisão machista do Supremo Tribunal dos EUA terá um efeito dominó no planeta inteiro e é uma inspiração para países onde os governos são mais conservadores e nacionalistas, empoderando os grupos antifeministas e fazendo avançar ainda mais o projeto que vai contra a vida das mulheres. Assim como lá, no resto do mundo as maiores atingidas são as mulheres com condições mais precárias, são as que mais morrem realizando abortos inseguros e que sofrem também com a falta de condições dignas de exercerem a maternidade. Por isso sim é um golpe para todas as mulheres! A lição que esse episódio passa ao resto do mundo é a de que é necessário permanecer vigilante pelos direitos conquistados. A luta pelos direitos das mulheres é internacional e cada conquista, onde quer que seja, deve vir acompanhada de mais resistência.

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